Lula busca manter seu capital político após encontro com Trump, mas enfrenta "sucesso" da operação no Rio |
Foto: Ricardo Stuckert / PR
Governo lança peças nas redes a favor de projetos mais duros contra a criminalidade e tenta reduzir dano das pesquisas sobre ação letal no Rio
Bem pouco comum em qualquer governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu ministros no final da tarde da última sexta-feira para anunciar o envio ao Congresso Nacional do projeto da Lei Antifacção, sua aposta para sair das cordas neste momento, no qual se vê encurralado após o “sucesso” da Operação Contenção, no Rio.
Desde o episódio, o presidente da República viu reduzir o capital político que amealhou nas últimas semanas, em especial após a proximidade e o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Melhor nas pesquisas, o temor do Planalto agora é a dificuldade da esquerda em enfrentar um problemão: lidar com a segurança pública.
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Imediatamente, o marketing do presidente produziu peças para as redes e usou a linguagem mais de linha-dura no combate a criminalidade. Tudo para enfrentar ainda a “crítica” de que o PT e seus aliados são defensores dos direitos humanos, uma bandeira da legenda desde sua fundação e que a direita sempre explorou como uma fraqueza política.
A operação mais letal da história do país impulsionou não apenas o governador do Rio, Cláudio Castro, mas deu gás e um mote para a direita, que estava perdida desde a condenação de Jair Bolsonaro e a dificuldade de se unir em torno de um nome para concorrer com Lula em 2026. As pesquisas apontam que a maioria da população do Rio, e do país, aprova a ação, ainda que não seja por um placar elástico.
Se por um lado a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, no seu papel, foi ao Rio visitar parentes dos mortos pelos policiais e acusar a ação de “fracasso, tragédia e horror”, Lula, ao contrário, não foi para o ataque contra a operação, mas seu governo, sim.
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Um dos vídeos postados na conta do governo nas redes traz a chamada “explicando a operação policial no Rio de Janeiro com inteligência”, no qual ataca o crime organizado e o terror que espalha na população. Diz que as pessoas têm medo do crime organizado, mas critica como solução matar criminosos como a solução.
“Operações como essa, no Rio, coloca policiais, crianças e famílias inocentes em risco e matar 120 pessoas não adianta nada no combate ao crime, mesmo se forem 120 bandidos. Amanhã tem outros fazendo o trabalho. Para combater o crime, tem que mirar na cabeça, mas não dos bandidos”, diz a peça do governo, que faz propaganda da PEC da Segurança Pública, parada no Congresso Nacional desde abril.
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A única fala de Lula sobre a operação, não postagem de rede, foi na sexta, num vídeo gravado pelo Planalto quando assinava o projeto contra as facções criminosas, em uma leve estocada na ação no Rio. “As facções só serão derrotadas com o esforço conjunto de todas as esferas de poder. Diferenças políticas não podem ser pretexto para deixarmos de avançar. Por isso, confio no empenho dos parlamentares para a rápida tramitação e aprovação destes nossos projetos. As famílias brasileiras merecem essa dedicação”.
A Operação Contenção foi a deixa também para candidatos a presidente da direita, com chances próximas de zero, colassem suas imagens a Castro. Foram os casos de Ronaldo Caiado, do União, e de Romeu Zema, do Novo. Anunciaram, com outros governadores, um “consórcio da paz”.
A semana que começa hoje é de importância para o governo. Um teste a ser enfrentado pelo Planalto na Câmara é a votação de uma proposta que equivale uma facção criminosa a uma organização terrorista. A base governista é contra, mas, no clamor popular e no calor do episódio do Rio, não será fácil conter sua aprovação.
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