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Entre o gin e a cachaça

Em um movimento costurado por Tasso Jereissati, Ciro volta ao PSDB e pode disputar o Governo do Ceará ou voltar a corrida presidencial

Ciro gosta de Whisky. Assim como Churchill. Mas também como o estadista britânico, o wisky é a segunda bebida preferida do político cearense. No caso de Winston Churchill, a bebida preferida era o champanhe Pol Roger. No caso de Ciro Gomes, o gin. 

Mas por que abrir o perfil de um político com suas preferências etílicas? Porque Churchill entrou para a história por seu papel na vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial e não por seus hábitos com a bebida. E, no Brasil de hoje, os eleitores perdem o foco no que realmente importa, as credenciais e o perfil político. 

Churchill amava champanhe, Ciro Gin e Lula cachaça e nada disso importa para três grandes políticos que têm na bagagem feitos históricos. 

Corre na internet um vídeo antigo com Ciro carregando uma garrafa de wisky e batendo boca com bolsonaristas. Ciro não precisa beber para perder rapidamente a paciência com provocações. Aliás, o temperamento de Ciro é seu atributo mais explorado politicamente. E ele é explosivo sim para desespero de seus assessores. 

Mas a primeira e inegável credencial de Ciro Gomes que transcende o embate ideológico é o seu rigor no trato das contas públicas. Esta é a principal qualidade que une críticos e admiradores: a competência técnica como gestor e a inquestionável correção no uso do dinheiro público. Mesmo seus mais fervorosos detratores e adversários políticos são obrigados a reconhecer que, onde Ciro passa, há um rastro de responsabilidade fiscal e um esforço visível pela eficiência administrativa. Seu histórico em diversos cargos executivos atesta uma marca de gestão que coloca o equilíbrio das finanças acima do populismo, um atributo raro e valorizado no cenário brasileiro.

Este perfil de gestor rigoroso é um dos pilares que une a longa amizade e caminhada política de Ciro e Tasso. O retorno de Ciro ao PSDB não é um movimento explosivo e de cabeça quente, mas costurado pelas mãos e pela profunda amizade de Tasso Jereissati, seu amigo e admirador de longa data. As conversas entre os dois, na verdade, jamais foram interrompidas. Com a crescente aproximação do PDT cearense ao projeto do PT, Ciro passou a ouvir com mais atenção os conselhos de Tasso, fortalecendo a ponte que agora se torna pública. Esta é uma aliança que tem raízes históricas e pessoais, e que redefine o tabuleiro político do Ceará e do Brasil.

O anúncio público da mudança partidária de Ciro Gomes, a despeito do que dizem os holofotes, abre um leque de especulações e possibilidades. O burburinho imediato e mais forte sugere que Ciro irá concorrer ao Governo do Ceará, uma volta à origem que faria sentido para consolidar a força do novo eixo PSDB/Ciro no estado. Pode ser. Mas pode mudar.

No cenário atual de aperto fiscal, com o Brasil cada vez mais pressionado pelas contas públicas, sufocado pela ausência de dinheiro para investimentos e uma taxa de juros nas alturas, as bandeiras de Ciro Gomes tendem a ganhar uma relevância nacional inadiável. O político cearense tem sido vocal em seu ataque à política monetária vigente, defendendo com veemência a urgência de uma mudança que permita a descentralização do dinheiro do mercado financeiro para o setor produtivo. Sua tese central é que a alta concentração de capital em rentismo está matando a capacidade produtiva do país.

O plano e a falta de charme

Diferentemente de discursos populistas que prometem soluções mágicas e dinheiro “da noite para o dia”, Ciro apresenta planos econômicos com começo, meio e fim, sobretudo para a indústria. Ele não apenas teoriza; ele sistematiza. Seu livro, levado até mesmo à bancada do Jornal Nacional durante sabatinas presidenciais, é um atestado de que suas propostas têm fundamento técnico e visão de longo prazo. A verdade, contudo, é que este rigor programático não tem o mesmo “charme” da retórica simplista e das promessas.

Na última campanha Ciro implorava para que sua proposta econômica entrasse no debate. Em vão. Com bolsonaristas flertando com fascismo e nos calcanhares de Lula, o foco dos debates era na preservação da democracia.

O peso da realidade fiscal

Ocorre que a situação das contas públicas está se agravando de maneira dramática e Bolsonaro está inelegível. 

A realidade, que dispensa populismos, está cobrando seu preço. A seriedade da situação é tamanha que a própria Instituição Fiscal Independente (IFI) já alertou que o próximo presidente poderá pegar o país à beira de um shutdown, uma paralisação por exaustão fiscal. É neste contexto de crise iminente, onde a competência técnica se torna mais valiosa do que a popularidade efêmera, que as credenciais e o rigor de Ciro no trato da gestão e da economia emergem como um ativo inegável e seu novo partido pode enxergar uma oportunidade de emplacar um presidenciável. Seria a quinta tentativa de Ciro. Lula virou presidente na quarta.

Ciro dispensou sua aposentadoria como governador e deputado, não colocou a mulher no tribunal de contas nem seus filhos. A primeira mulher, Patricia Saboya, é conselheira do Tribunal de Contas do Ceará, mas foi com as próprias pernas. Política reconhecida, foi vereadora, deputada estadual e senadora e já estava divorciada de Ciro quando entrou no tribunal, mais de dez anos depois dele deixar o governo do Estado.

Para se ter uma ideia do quanto é sedutor empregar parentes no setor público, o ex-governador e atual ministro da educação, Camilo Santana, tem pai, mulher e irmão em postos da administração pública. O pai, Eudoro, é conselheiro na Cagece e comissionado na prefeitura. A mulher, Onélia, é conselheira no Tribunal de Contas do Estado. O irmão, Tiago, controla o Instituto Mirante de Arte e Cultura, gestor dos principais equipamentos da área no Estado. 

Se o trato do dinheiro público entrar na pauta na próxima campanha presidencial, Ciro pode ver finalmente sua pauta em debate. E com aval e apoio de Tasso Jereissati, que é visto, mesmo pela oposição, como o precursor da responsabilidade fiscal no Ceará.

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