Lula responde à Trump e, sobre anistia, diz “não haver pacificação contra impunidade” Foto: Ricardo Stuckert / PR

Lula responde à Trump e, sobre anistia, diz “não haver pacificação contra impunidade”

Presidente brasileiro diz ser “inaceitável” agressão contra o Judiciário e afirmou que EUA fazem “ataque sem precedentes ao Brasil”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu seu discurso na Assembleia Geral da ONU reforçando a defesa da soberania nacional e da democracia, ao mesmo tempo em que abordou duramente as crises internacionais, condenando o que chamou de genocídio em curso em Gaza e reiterando que não há saída militar para a guerra na Ucrânia.

Sobre questões internas, Lula se manifestou contra a aprovação da anistia, sem citar esse termo, criticou a família Bolsonaro, sem se referir a eles diretamente e defendeu a condenação de Bolsonaro pelo STF.

“Não há pacificação (no Brasil) contra a impunidade”, disse Lula, que seguiu:

“Um ex-presidente foi indiciado, julgado e condenado com o amplo direito de defesa”, disse o presidente brasleiro, sobre seu antecessor.

Em um momento em que a autoridade da ONU está em cheque, e o multilateralismo diante de uma nova encruzilhada, o presidente destacou que a agressão contra a independência do poder judiciário no Brasil é inaceitável e que “nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”. Lula ressaltou que atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regras no atual cenário de desordem internacional.

Ao tratar dos conflitos globais, o presidente foi incisivo ao afirmar que a saída para a guerra na Ucrânia deve ser a negociação e o diálogo.

“No conflito na Ucrânia, todos já sabemos que não haverá solução militar.”

Lula mencionou que é preciso pavimentar caminhos para uma solução realista, o que implica levar em conta as legítimas preocupações de segurança de todas as partes. Ele citou a iniciativa africana e o grupo de amigos da paz, criado por China e Brasil, como agentes que podem contribuir para promover o diálogo.

A situação mais emblemática do uso desproporcional e ilegal da força, contudo, foi apontada como sendo a da Palestina. O presidente afirmou que, embora os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas sejam indefensáveis, “nada, absolutamente nada justifica o genocídio em curso em Gaza”.

“Ali ali sobre toneladas de escombros estão enterradas de de milhares de mulheres e crianças inocentes. Ali também estão sepultados o direito internacional humanitário e o mito da superioridade ética do ocidente.”

O líder brasileiro denunciou que, em Gaza, a fome está sendo usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente. Ele expressou admiração aos judeus que, dentro e fora de Israel, se opõem a essa punição coletiva, e defendeu que o povo palestino só sobreviverá como um estado independente integrado à comunidade internacional, solução esta destruída por “um único veto” na ONU.

Além das questões de soberania e conflito, o discurso de Lula na Assembleia Geral abrangeu uma série de temas cruciais:
Combate à Fome e Nova Ordem Econômica

O presidente destacou que a única guerra na qual todos podem sair vencedores é a travada contra a fome e a pobreza. Com orgulho, ele mencionou que o Brasil voltou a sair do mapa da fome este ano de 2025, conforme confirmação da FAO.

Ele lançou um apelo à comunidade internacional para que reveja suas prioridades, sugerindo que se reduza os gastos com guerra e aumente a ajuda ao desenvolvimento. Além disso, defendeu o alívio do serviço da dívida externa dos países mais pobres, especialmente os africanos, e a definição de padrões mínimos de tributação global para que os super-ricos paguem mais impostos que os trabalhadores.

“Internet não é terra sem lei” 

Lula abordou a crise da desinformação, afirmando que as plataformas digitais, apesar de trazerem possibilidades, têm sido usadas para semear intolerância, misoginia, xenofobia e desinformação.

“A internet não pode ser terra sem lei.”

Ele explicou que regular o ambiente digital não é restringir a liberdade de expressão, mas garantir que o que é ilegal no mundo real seja tratado da mesma forma no ambiente virtual. O presidente mencionou a promulgação de uma das leis mais avançadas do mundo para proteção de crianças e adolescentes na esfera digital.

O ano de 2024, o mais quente já registrado, serviu de pano de fundo para as observações sobre o clima. Lula definiu a COP 30, a ser realizada em Belém (Brasil), como a “COP da verdade”, momento em que líderes mundiais precisarão provar a seriedade de seu compromisso com o planeta.

O Brasil se comprometeu a reduzir entre 59% e 67% suas emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia. Lula criticou países ricos por usufruírem de um padrão de vida obtido às custas de 200 anos de emissão de gases, e frisou que exigir maior ambição e acesso a recursos e tecnologias é uma questão de justiça.

Para enfrentar os desafios globais, o presidente defendeu uma reforma mais abrangente da ONU, que contemple um Conselho de Segurança ampliado nas duas categorias de seus membros, e a criação de um Conselho, vinculado à Assembleia Geral, que tenha força e legitimidade para monitorar os compromissos de coerência da ação climática. Ele também defendeu a urgente refundação da OMC (Organização Mundial do Comércio) em bases modernas e flexíveis.

O presidente concluiu afirmando que o século XXI será cada vez mais multipolar e, para se manter pacífico, “não pode deixar de ser multilateral”. Ele defendeu que a voz do Sul Global deve ser respeitada e ouvida.

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