Foto: Renan Santos/ divulgação
Eleições
Um dos fundadores do MBL, político é candidato à Presidência em 2026
O Tribunal Superior Eleitoral aprovou nesta terça-feira a criação do Partido Missão. Em um cenário político já fragmentado, emerge o partido Missão, liderado por Renan Santos. Ele é figura conhecida por ser um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL). O novo partido se apresenta como uma força de direita que propõe uma ruptura geracional com o establishment político brasileiro, desafiando tanto as legendas tradicionais quanto a dinâmica do bolsonarismo.
Renan Santos é oriundo da Mooca, na zona leste de São Paulo, vindo de uma família de classe média (seu pai é comerciante e advogado, e sua mãe, psicóloga) e torcedor do São Paulo Futebol Clube. Desde cedo, era um jovem tímido, mas fascinado por história e política.
Sua trajetória política começou na Faculdade de Direito da USP, onde ingressou em 2003. Lá, ele se envolveu com o Centro Acadêmico de XI de Agosto. Em um de seus primeiros atos políticos, ele e sua geração alteraram o estatuto do Centro Acadêmico (o que seus críticos chamam de “o golpe da alteração do estatuto”) e fundou o partido que se tornou o vencedor do XI de Agosto.
Embora não tenha concluído a faculdade, Santos foi aluno de figuras proeminentes, como Ricardo Lewandowski (de quem gostava das aulas, consideradas mais sedutoras), Janaina Pascoal, Eros Grau e, por um breve período, Alexandre de Moraes. Na época, Alexandre de Moraes era um professor simpático, presente e de opiniões firmes, mas sem a “persona” atual. Na entrevista exclusiva que deu ao MyNews há cerca de dois meses, Santos analisa que Moraes é um homem com “vocação para a glória” e, ao ver o Supremo frágil, assumiu a liderança, encontrando em Bolsonaro o “inimigo perfeito” para sua missão de consagração.
Após um período trabalhando com recuperação de empresas no setor privado, Renan Santos foi “dragado” de volta à política em 2013, com as manifestações. Em 2014, ele e seu irmão Alexandre Santos fundaram um escritório para trabalhar com mídia, e ele lançou uma campanha com discurso libertário, conhecendo Kim Kataguiri e fundando o MBL.
Renan se define com um “perfil muito criativo” e prefere atuar como o “maestro da orquestra”, o articulador do jogo (um “camisa oito” do futebol), em vez de estar nos holofotes.
O partido Missão não é o MBL, mas a “alma” militante e o espírito do MBL correm nele. A criação do partido faz parte de um projeto maior, idealizado como uma “Santíssima Trindade” para a atuação política:
1. Valete: A iniciativa cultural que busca fomentar um pensamento original da geração.
2. MBL: O movimento, responsável pela provocação e inovação do discurso.
3. Missão: A institucionalização da ação política e o partido propriamente dito.
Santos explica que esse ciclo completo (ideia, atuação política e atuação institucional) existe na esquerda (como no PT e PSOL), mas falta no centro e na direita brasileira, e é isso que diferencia a Missão.
A meta para a criação do partido era ambiciosa: terminar o processo em menos de dois anos para poder participar das eleições de 2026, exigindo muita organização e inteligência para lidar com as microexigências do TSE e dos cartórios.
A Missão busca ser um partido de direita alinhado aos anseios de uma nova geração (especialmente brasileiros de 35 anos para baixo). Embora se coloque à direita, Santos considera a definição de “extrema-direita” complicada e afirma que a Missão é “mais radical que os bolsonaristas” no sentido de propor uma ruptura com as formas convencionais de fazer política.
Para Renan Santos, “Bolsonaro é um parasita” de um processo histórico de tomada de consciência da classe média que começou em 2013. O movimento, que viu vitórias como a queda de Dilma e a Lava Jato, se materializou em Bolsonaro, que, ao chegar ao poder, “destruiu o processo histórico” (desmontando a Lava Jato e transformando o MBL, a base das manifestações, em atos “pelo Bolsonaro”). A Missão acredita que Bolsonaro precisa ser destruído para que o campo político da direita possa ressurgir.
Santos admite que o MBL era inicialmente contrário ao uso do Fundo Eleitoral e Partidário. Contudo, o aumento do Fundo Eleitoral para a casa dos R$ 5 bilhões, somado à dificuldade de competir contra oligarquias, emendas e compra de voto, especialmente em regiões como o Nordeste, tornou a política impossível sem o recurso. O uso do fundo passou a ser uma necessidade para participar das eleições. O partido utilizou o fundo na eleição de 2024 e conseguiu vitórias em Salvador e Natal, provando que a tese de participação se sustentou.
A Missão planeja lançar candidatos para presidente, governadores e todos os níveis em 2026. O próprio Renan Santos pode ser o nome para a presidência, caso o time o chame à guerra, prometendo ser “a mosca que vai pousar nessa sopa”, falando o que o sistema central não pode propor.
O projeto da Missão é fazer do Brasil um país que se torne líder da América do Sul e se sente como um “adulto” no conserto das nações, ao lado de potências como EUA, China, Rússia, União Europeia e Índia. Internamente, o foco é resolver desigualdades regionais e tirar o Nordeste e o Norte do controle de “coronéis corruptos”, eliminando a compra de votos.
O Partido Missão adota uma abordagem liberal. O Estado não deve ser um condutor da economia, mas sim um catalisador, respeitando o papel da iniciativa privada. O programa do partido está delineado no “Livro Amarelo”, que todos os candidatos são obrigados a seguir.
Renan Santos diz que o partido Missão vê exemplos de sucesso na história brasileira, como a Embraer (investimento estatal na formação de capital humano e indústrias bélica/aeroespacial, seguido de privatização, gerando competitividade global) e a Embrapa (empresa pública que entregou tecnologia para o agro brasileiro, cumprindo seu papel e não devendo ser privatizada). O partido é contra distorções econômicas como a Zona Franca de Manaus e subsídios setoriais “ridículos”. Para o Nordeste, a proposta é criar um polo de biocombustíveis no Matopiba para gerar complexidade econômica, enfrentando a corrupção e o voto comprado.
A segurança pública é uma questão fundacional para o partido. O ato fundacional de um governo Missão seria a “destruição completa do crime organizado”.
O Partido Missão propõe uma “declaração de guerra literal” contra o crime, tratando as facções como “organizações anômalas e terroristas”. Contra elas, deve ser aplicado o “Direito Penal do Inimigo”, garantindo um tratamento rápido e altamente punitivo para aqueles que atuam para violar e derrubar as regras do Estado.
Além do combate duro, o Estado deve focar no jovem que é recrutado como mão de obra barata para o crime (em geral, homens entre 15 e 25 anos, vindos de famílias monoparentais). Para retirar esse “exército de reposição”, segundo Renan dos Santos, é necessário garantir a presença de “figuras masculinas de exemplo” (como professores e orientadores) e a inserção econômica e cultural das periferias, combatendo a impunidade e garantindo um processo penal mais célere.
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