Outubro foi marcado por uma intensidade inédita de polarização digital Imagem feita com IA Crise na segurança

Outubro foi marcado por uma intensidade inédita de polarização digital

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54,7% de sentimento negativo, com fala de Lula sobre traficantes expondo o presidente a descontextualizações

O debate que se seguiu a megaoperação no Rio  intensificou a polarização política. O cenário digital de Outubro de 2025 no Brasil, conforme o novo estudo da Ativaweb, demonstrou que a megaoperação foi apenas um dos ingredientes de um coquetel explosivo de polarização. O mês foi marcado por uma intensidade inédita de volume e confronto nas redes.  Crises de imagem e figuras políticas desempenharam papéis cruciais ao estabelecer uma polaridade que se inclinou, de forma inédita, para o discurso crítico. A Ativaweb registrou 75,4 milhões de menções públicas entre 1º e 31 de outubro. “Os dados consolidam o mês como o mais intenso e polarizado do segundo semestre”, diz Alek Maracajá, sócio da Ativaweb.

A polaridade geral do mês foi predominantemente negativa, registrando 54,7% de sentimento negativo (contra 31,6% positivo e 13,7% neutro). Isso fez de outubro o mês mais polarizado de 2025.

Entre os principais temas, a fala do presidente Lula sobre traficantes liderou o volume de menções, com 15,6 milhões em apenas 10 horas. Já o encontro entre Lula e Donald Trump surpreendeu pelo resultado positivo, 41,3% das interações favoráveis ao presidente brasileiro, refletindo uma percepção de protagonismo diplomático e prestígio internacional.
Já a megaoperação no Rio de Janeiro (5,3 milhões de menções) e o caso “BET da Caixa” (4,1 milhões) dominaram o eixo das crises, com forte carga negativa e reação emocional nas redes.

Essa predominância do discurso crítico foi diretamente influenciada por crises de imagem e temas de segurança pública, que funcionaram como verdadeiros catalisadores de indignação e desconfiança.

As crises de imagem foram responsáveis por gerar os maiores picos de rejeição e indignação, contribuindo significativamente para o alto Índice de Sentimento Negativo Geral (ISA).

Crise Volume de Menções ISA Negativo Emoção Predominante Efeito na polaridade
A Fala de Lula sobre Traficantes 15,6 milhões em 10h 69,8% Indignação Gerou a maior onda de menções do mês; “Efeito manada digital” onde o recorte emocional substituiu o contexto original.
Crise “BET da Caixa” Não detalhado no resumo 81,4% em 48h Ironia e Sarcasmo (61% das menções negativas) Crise mais severa em reputação corporativa; Atingiu o ISA negativo mais alto, contribuindo diretamente para a desconfiança.

Contexto: A frase de Lula em Jacarta, dizendo que “traficantes são vítimas dos usuários”, foi descontextualizada e reacendeu o debate sobre segurança, expondo a vulnerabilidade da figura política a engajamentos afetivos e descontextualizações, elevando a polaridade geral.

2. Influência das figuras políticas: vetores de polarização

As figuras políticas atuaram como “vetores” que mobilizaram os espectros ideológicos e confirmaram que a polarização segue como o principal ativo emocional das redes.

  • A. Consolidação da Direita Digital por Nikolas Ferreira:
    • Protagonismo: Nikolas Ferreira firmou-se como o principal nome da nova direita digital, com um discurso moral, religioso e linguagem direta.
    • Engajamento: Seu engajamento orgânico é superior ao de figuras como Tarcísio e Michelle Bolsonaro.
    • Crescimento (ICP): Registrou o maior destaque do mês, com um aumento de 4,3% de seguidores em 96 horas.
    • Efeito: Reforçou o ambiente digital como binário e emocional, através do sucesso em mobilizar picos de audiência e engajamento para a direita.
  • B. Volatilidade institucional de Lula:
    • Vulnerabilidade: O evento da “fala dos traficantes” (69,8% negativo) expôs a vulnerabilidade do presidente a descontextualizações.
    • Contraponto positivo: O encontro entre Lula e Trump gerou um pico de 3,5 milhões de menções e demonstrou o efeito de recontextualização midiática, onde o discurso global gerou um deslocamento de sentimento, alcançando 41,3% positivo nas primeiras horas (contra 38,7% negativo).
  • C. Fechamento da bolha ideológica de Eduardo Bolsonaro:
    • Polaridade Intensa: Suas menções registraram um alto ISA negativo: 69,2% negativo. Eduardo Bolsonaro apresentou retração de alcance e discurso restrito à própria bolha ideológica.
    • Limitação: A repercussão ficou concentrada em públicos já convertidos, sem expansão para novos segmentos. O Índice de Dispersão de Audiência (IDA) apontou uma concentração de 78% das menções no Sul e Sudeste, com uma retração de 23% em alcance externo, limitando sua influência geral no debate.
    • Lula e Janja: mantiveram protagonismo institucional, combinando momentos de crise com picos de aprovação espontânea e engajamento positivo.

O tiroteio digital abastecido pela indignação

Em resumo, as crises de imagem, como a da “Caixa BET” e, principalmente, a “fala dos traficantes”, funcionaram como gatilhos de indignação e desconfiança, injetando o sentimento negativo que elevou o ISA geral para 54,7%. Enquanto isso, figuras políticas como Nikolas Ferreira e Lula mantiveram a polaridade alta.

O debate sobre a segurança pública e a megaoperação se inseriu neste contexto de hiperexposição e polaridade máxima. A questão, portanto, não é a ausência de debate, mas sim sua conversão em um tiroteio digital puramente emocional e ideológico, onde a busca por culpados e o reforço da própria “bolha” superaram qualquer espaço para a construção de consensos ou a discussão de políticas públicas complexas.

“O ambiente digital brasileiro continua profundamente emocional. As redes já não reagem apenas a fatos, mas à forma como cada tema é narrado. Emoção, símbolo e discurso são hoje os motores da percepção pública”, afirma Alek Maracajá

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