Foto: Ricardo Stuckert / PR
Coluna do Prando no site do MyNews
Fazem-se, ainda, presentes, no horizonte do Governo Lula, os resultados da operação policial no Rio de Janeiro, bem como a inicial cautela de Lula e, recentemente, sua fala classificando a ação operacional de “matança”.
O segundo semestre de 2025 tem sido bem melhor para Lula do que o primeiro semestre. Em meados do ano, as pesquisas apontam uma sutil melhora na avaliação de Lula e a diminuição da rejeição. As derrotas do governo, especialmente na Câmara, deram o mote para se colar uma narrativa que o PT sempre gostou: “nos x eles”, no caso, a Câmara e Hugo Motta foram tachados de “inimigos do povo brasileiro”, tanto pelas figuras do Planalto quanto pela militância. Ademais, houve um esforço em indicar que banqueiros, as bets e os bilionários pagam poucos impostos e que suas taxações deveriam ser maiores. Aqui, Lula e a comunicação liderada por Sidônio Palmeira conseguiram colocar uma agenda proativa – e não reativa -, como, por exemplo, se deu quando o Deputado Nikolas Ferreira gravou e divulgou vídeo sobre o Pix e fez com que o governo reagisse tardiamente e muito mal. Tendo o “inimigo interno” – BBB (bancos, bets e bilionários) – garantido, caiu no colo de Lula o “inimigo externo”: Trump e seu tarifaço, bem como as ações da família Bolsonaro.
À conjugação de “inimigo interno” e “inimigo externo” pode-se somar uma melhora na agenda governamental. A aprovação, na Câmara e agora no Senado, do projeto de isenção de imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais somada à presença, ao discurso e ao encontro de Lula com Trump na Assembleia da ONU, reforçou o protagonismo presidencial. Houve, como sabemos, desdobramentos e um encontro entre os dois presidentes, na Malásia, com boas possibilidades de retomada do diálogo diplomático e de revisão das tarifas impostas ao Brasil. Dessa forma, Lula sorria, anunciou, no exterior, que seria candidato à reeleição e, não menos importante, fez aceno à sua base progressista trazendo Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência. Tudo ia bem até que…
A operação policial no Rio de Janeiro com centenas de mortos foi comemorada pela direita, colocando o Governador Claudio Castro em evidência e, no campo oposto, criticado pela esquerda. Novamente, como temos nos últimos anos, uma guerra de narrativas se coloca, nas ruas e nas redes sociais. Pesquisas mostram que, nacionalmente, a operação foi apoiada pela população e, localmente, com moradores da favela palco da operação, a aprovação ultrapassa os 80%. Assim, inicialmente, Lula evitou usar termos mais fortes ao comentar os fatos ocorridos no Rio de Janeiro. Contudo, não faz muito, Lula, respondendo a jornalistas denominou de “matança” e “desastrosa” a ação do governo estadual e, por isso, deseja que tudo seja investigado.
Por que, neste momento, Lula faz críticas claras, evidentes, corroborando, assim, as manifestações do campo da esquerda? A resposta pode se constituir em algumas hipóteses: 1) porque, em primeiro lugar, por mais óbvio que seja, Lula faz parte desse prisma ideológico progressista; 2) assumindo a operação como “matança”, Lula se posiciona no palco político como contrário aos governadores de direita (Castro, Zema, Tarcísio, etc.) e comunica suas diferenças na visão da política nacional; 3) Lula parece crer, ter convicção, que, mesmo sua fala sendo impopular e podendo lhe causar danos eleitorais em 2026, o combate ao crime organizado não demanda, apenas, enfrentamento ostensivo e sim ações integradas de inteligência e ataques ao núcleo financeiro do crime organizado, como realizado recentemente em São Paulo, numa parceria da Polícia Militar e Polícia Federal.
Em síntese: Lula, no quadro em tela, faz uma aposta que, mesmo sua posição sendo impopular, no curto prazo, as ações mais estruturadas no combate ao crime organizado lhe renderão, no médio e longo prazo, dividendos políticos e resultados satisfatórios para a sociedade brasileira. O tema da segurança pública tem sido, historicamente, um problema para a agenda da esquerda e, mais importante, um problema concreto no cotidiano de milhares de brasileiros, vítimas da violência, contra o patrimônio e a vida, bem como regiões inteiras dominadas pela criminalidade nas quais a população torna-se refém, aprisionada e sem seus direitos básicos de cidadania garantidos pelo Estado.
A operação policial de Claudio Castro deu fôlego à direita, colocou o Governo Lula numa nova guerra de narrativas, todavia, trouxe um avanço considerado por muitos: pouco se tem falado de Bolsonaro, tarifaço, Trump e que tais. A reação parlamentar veio na constituição de uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito que, dessa vez, o governo conseguiu conquistar a presidência com o Senador Fabiano Contarato (PT) e tendo na relatoria o Senador Alessandro Vieira (MDB) e na vice-presidência Hamilton Mourão (Republicanos). O país pode ganhar muito com trabalhos sérios e sem baixarias nessa CPI, já que o crime organizado, a criminalidade e a violência, são preocupações centrais das famílias brasileiras.
Lula tem tirocínio político, isso é notório. O Senador Alessandro Vieira fez críticas às afirmações de Lula classificando a incursão policial carioca como “matança”. Veremos, doravante, como Lula usará seu tino político e como se relacionará com os atores principais dessa CPI. Nestes dois meses para o término do ano, o governo e o PT buscarão retomar a narrativa, mas, para isso, mais do que retórica, precisarão apresentar resultados no campo da segurança pública. Veremos.
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