Foto: © Marcelo Camargo/Agência Brasil
Coluna do Prando no site do MyNews
Novamente, a prestigiosa Universidade de Oxford – em seu Oxford English Dictionary – divulga a palavra do ano. Obviamente, o termo, em inglês, costuma evidenciar aspectos da vida social para além do universo dos países anglófonos.
Em 2025, o termo escolhido é rage bait, que, em tradução livre, seria algo como “isca de raiva”. Na acepção do referido dicionário o termo indica “conteúdo online concebido deliberadamente para suscitar raiva ou indignação, sendo frustrante, provocativo ou ofensivo, normalmente publicado para aumentar o tráfego ou engajamento de uma página ou conta de redes sociais específica”.
Nossas vidas – a real e a virtual – estão cada vez mais entrelaçadas, e há aqueles que mal distinguem a fronteira entre uma e outra. Vivemos numa sociedade hiperconectada que revisita potencialidade cívicas e virtuosas e, ao mesmo tempo, degradação do espaço público de debate, além de ataques diversos a indivíduos, instituições e democracias. Alguns autores, no campo da Sociologia e da Política, ajudam a compreender melhor o sentido de rage bait. Manuel Castells em sua trilogia – A sociedade em rede, O poder da identidade e O fim do milênio – iniciada em 1996, já nos alertava para as novas dimensões da sociabilidade mediada pelas redes sociais. E, mais recentemente, Giuliano Da Empoli com seu livro de 2019 Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições enfrenta a questão que ganha musculatura no universo político com a emergência de populistas digitais mundo afora.
Os algoritmos das redes sociais são arquitetados para mapear, localizar e impulsionar conteúdos que despertem sentimentos, não raro, sentimentos atrelados ao medo, ódio, angústia, frustração, euforia, entre outros, que são capazes de chamar a atenção dos usuários das redes sociais. Frases curtas ou vídeos rápidos são, portanto, iscas que servem para “pescar” indivíduos e grupos que consomem conteúdos produzidos com o objetivo é criar uma onda de curtidas, comentários (positivos ou negativos) e compartilhamentos. Isso faz com que o tráfego aumente em determinadas páginas ou redes sociais e, numa sociedade de mercado, há a monetização, ou seja, ocorre um processo de transformação de perfis e o conteúdo produzido em renda, em muito, muito dinheiro. Como milhões de desenvolvedores de conteúdo disputam atenção, a “isca de raiva” torna-se irresistível, não apenas por chamar a atenção, mas também por angariar seguidores e engajamento – muitos, nos dias que correm, não apresentam seu patrimônio e sim o número de seguidores, que, calculados, serão convertidos em dinheiro via monetização.
As iscas não atuam somente na disputa no campo da economia da atenção. Estão, cada vez mais, conectadas à política que, também, converte, ao mesmo tempo, engajamento em dinheiro e votos. Esse engajamento ganha relevo na conjugação de fake news, pós-verdade, negacionismo e teorias da conspiração. Politicamente, a extrema direita é muito mais eficiente ao manejar esse ferramental do que o campo progressista.
Reconhecer e escapar do rage bait exige letramento digital, capacidade crítica de interpretar informações e de identificar distorções e narrativas fantasiosas. Não é fácil, mas é possível – com educação e leituras que escapam das redes e telas.
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