Violência contra mulher não é algo isolado e vira “padrão” no digital Levantamento sobre violência contra a mulher atinge 137 milhões de registros em 2025, ano da escalada desse crime !| Imagem: Inteligência Artificial FEMINICÍDIO

Violência contra mulher não é algo isolado e vira “padrão” no digital

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Violência contra mulheres deixa de ser exceção e passa a ser reconhecida como padrão estrutural no Brasil digital, aponta estudo da Ativaweb, com 137 milhões de registros no ano

O Brasil viveu em 2025 uma escalada do feminicídio e da violência contra as mulheres. Chocam e surpreendem  esses casos, seus registros – filmados inúmeras vezes- reportagens e, principalmente, a banalidade. Um crime que foi cirurgicamente tipificado, ainda  que tenha enfrentado resistências, com o argumento inaceitável de que a violência, contra o sexo que for, já está previsto em lei.

Um estudo inédito da Ativaweb DataLab, baseado na análise de 137,6 milhões de registros públicos ao longo de 2025, de janeiro a dezembro, revela que a violência contra mulheres deixou de ser percebida como episódios isolados e passou a ser reconhecida coletivamente como um fenômeno estrutural da sociedade brasileira.

A pesquisa mostra que, em um ambiente hiperconectado, a repetição de casos em espaços cotidianos como elevadores, ambientes de trabalho, hospitais e vias públicas produz um deslocamento cognitivo: o debate social abandona o “o que aconteceu” e passa a questionar “por que isso continua acontecendo”.

Segundo o estudo, a hiperconectividade atua como um espelho social, tornando visíveis padrões históricos de violência que sempre existiram, mas que antes permaneciam diluídos na esfera privada. A circulação contínua de registros audiovisuais reduz o espaço da negação, amplia a consciência coletiva e impõe um confronto permanente com a falha estrutural de prevenção e resposta institucional.

Ao mesmo tempo, o relatório alerta para um risco crítico: a normalização simbólica da violência, causada pela exposição recorrente mediada por algoritmos que privilegiam repetição e engajamento.

“A sociedade brasileira não está mais reagindo a casos isolados, mas reconhecendo um padrão. Quando o padrão é percebido antes do próximo episódio, a violência já deixou de ser exceção e se consolidou como problema estrutural”, afirma Alek Maracajá, autor do estudo e coordenador da Ativaweb DataLab.

O levantamento destaca ainda que os impactos mais profundos da Revolução Digital surgem tardiamente, após cerca de 25 anos de internet popularizada no Brasil, quando a tecnologia deixa de ser novidade e passa a moldar costumes, linguagem e percepção da realidade. Nesse estágio, a visibilidade amplia a consciência, mas também exige respostas estruturais: sem políticas preventivas efetivas, a repetição corre o risco de transformar reconhecimento em convivência passiva com a violência.

O estudo captou exatos 137.676.109 registros públicos, de Facebook, Instagram, X, TikTok, portais jornalísticos, comentários públicos e conteúdos institucionais. O estudo mostra leituras conforme avança mês a mês esses casos. Exemplo: o início do ano marcado pela percepção de que a violência ocorre em espaços domésticos e rotineiros. E cita o elevador social como o ambiente desse tipo de agressão, como se viu em várias imagens de casos no país.

Com o tempo, há uma “rejeição social a discursos de relativização da agressão”. Aumenta a mobilização nas redes e a indignação.  “O debate desloca-se para falhas institucionais e histórico prévio de ameaças”. Depois,  questionamento do papel do entorno e da responsabilidade coletiva e um forte engajamento de jovens adultos e amplificação por áudio/vídeo.

E encerra o ano como a via pública como o ambiente dessa violência – o caso de Tainara Santos, morta após ser arrastada pelo carro de Douglas da Silva, que está preso. É a “expansão do medo para o espaço público e consolidação do padrão reconhecido” e fecha 2025 “com a editorialização do tema e reconhecimento estrutural”.

  • Alek Maracajá é publicitário e coordenador da Ativaweb DataLab

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