Arquivos Walter Moreira Dias - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/walter-moreira-dias/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Fri, 13 Jan 2023 14:41:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Ana Moser, E-Sports e o Ministério do Esporte https://canalmynews.com.br/voce-colunista/ana-moser-e-sports-e-o-ministerio-do-esporte/ Fri, 13 Jan 2023 14:38:43 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=35402 Não é preciso entrar no mérito se os jogos eletrônicos podem ser considerados esportes para que não sejam destino de verbas públicas

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Ana Moser, nova Ministra dos Esportes, na última terça-feira (10) fez uma declaração que causou um certo alvoroço nas redes sociais. Em uma entrevista para o portal UOL, a ex-atleta afirmou que os jogos eletrônicos estão na esfera da indústria de entretenimento e não do esporte ao ser perguntada se este setor receberia incentivos públicos federais em sua gestão.

Em seguida, para sustentar sua análise, ela aborda duas questões. Faz uma comparação descabida entre os ensaios de artistas como a Ivete Sangalo para fazer shows e os treinos dos jogadores profissionais de e-sports, considerando ambos como artistas de entretenimento, excluindo completamente o nível e a rotina de preparo e o aspecto competitivo dos torneios dos atletas dos jogos eletrônicos.

Para completar afirmou que os esportes eletrônicos não são imprevisíveis por serem desenhados por uma programação digital. Se formos por este caminho, isolando o fator humano nas disputas, teremos dúvidas inclusive se os esportes automobilísticos são esportes também. E uma grande discussão seria possível se analisássemos diversas partidas, dos mais diferentes esportes, em que o seu resultado, ou mesmo o desenrolar do seu jogo, é bastante previsível.

Mas a Ministra está certa em sua premissa: os e-sports não devem receber incentivos públicos no campo esportivo durante a sua gestão. Mas não é preciso entrar no terreno espinhoso de descredibilizar estas modalidades para justificar essa medida, pois apenas fez gerar uma onda de críticas via redes sociais, incluindo a revolta de diversos atletas famosos dos esportes eletrônicos.

Ana Moser poderia ter lembrado da preocupação central que ficou nítida em seu discurso de posse, no dia quatro do corrente mês, quando destacou que seu objetivo era desenvolver a cultura da prática motora em um país sedentário em que apenas 30% da população praticava algum tipo de atividade física regularmente.

Medida mais que acertada. Vivenciamos um apagão na área do esporte – como em várias outras – nos últimos 4 anos do governo Bolsonaro, como o sucateamento ou a descontinuidade de políticas públicas como o Programa Segundo Tempo, o Mais Educação e o Programa Esporte e Lazer nas Cidades (PELC). Políticas públicas que buscavam tanto aliar oficinas e esportes à ampliação de carga horária nas escolas públicas, como propiciar núcleos de esporte recreativo e de lazer.

Os primeiros governos Lula e Dilma mobilizaram um relevante aumento no orçamento do Esporte, e agora, sem o ciclo de grandes eventos é possível fomentar de forma muito melhor a transformação da realidade de crianças e jovens do Brasil. Porém, o atual orçamento para 2023, deixado pelo governo Bolsonaro, é de apenas R$ 190 milhões inicialmente. Há realmente necessidade de se investir em e-sports neste cenário?

Além disso, também acertou de forma fundamental ao afirmar que o objetivo maior do Ministério não será o investimento em atletas de alto rendimento, com o impacto em um reduzido número de atletas, e sim buscar o direito ao esporte para todos.

Para ilustrar essa questão, sobre os investimentos somente no topo da pirâmide, podemos refletir sobre o mundo do futebol. Não é raro vermos cidades de pequeno e médio porte utilizando verbas públicas para financiar times masculinos de suas regiões. O que nos leva a fazer algumas perguntas: Quantas pessoas são impactadas diretamente por estes investimentos? Qual o ganho real para as populações desses locais?

E se essas verbas de patrocínio fossem destinadas para políticas públicas visando garantir o direito social ao esporte e lazer? Por exemplo, financiar instalações, arenas esportivas e quadras públicas; Praças com equipamentos e programas de atividade física gratuitos; Piscinas públicas para natação e hidroginástica; Aulas gratuitas de diferentes danças, dentre outras ações.

Neste cenário, dois pontos elucidariam o porquê de os jogos eletrônicos não contarem com investimento estatal: o foco da atual gestão em atividades que levem ao exercício físico para combater o sedentarismo e o apoio deve priorizar e revolucionar o cotidiano das classes populares no tocante à atividade física.

Para incentivar a atividade física não se pode investir em e-sports. Nem nos esportes da mente, como o xadrez, que tem sua Federação Internacional reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional desde 1999. Já os esportes automobilísticos ou os e-sports já conseguem se organizar por meio da iniciativa privada, ao mesmo tempo, que há uma parcela relevante de crianças e jovens brasileiras que estudam em escolas que não possuem nem quadra poliesportiva.

Um caminho sempre possível para as políticas públicas do Esporte é a sua intersecção com a Educação, fortalecendo a prática da Educação Física na Educação Básica. Os objetos de conhecimento previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) são as práticas corporais dos esportes, lutas, danças e ginásticas.

O objetivo do espaço educacional deve ser democratizar o acesso ao conhecimento, e não selecionar os melhores e cercear determinada prática a esse grupo. É fundamental que as camadas populares experenciem as mais variadas práticas esportivas, conheçam e se apropriem dos elementos das atividades físicas, o que não necessariamente se traduzirá em resultado esportivo, pois o central é se os estudantes se tornarão atletas profissionais ou não, e sim um compromisso ético com o dinheiro público.

Porém, outro assunto importante seria melhorar a vivência digital das crianças e jovens de classes populares, dos equipamentos disponibilizados à qualidade da conexão, além dos ganhos educacionais, potencializaria, indiretamente, o surgimento de novos jogadores profissionais de e-sports nas periferias. Mas isto pode ser uma consequência de políticas públicas de outras áreas, como Ciência e Tecnologia.

Desta forma, o Ministério do Esporte tem total condições de fazer a diferença no campo das políticas públicas nesses quatro anos do terceiro governo Lula, focando no combate ao sedentarismo e garantindo o acesso a atividades físicas para grande parcela da população. Até mesmo o senador Romário (PL-RJ), antigo cabo eleitoral do ex-presidente Bolsonaro, parabenizou a escolha de Ana Moser e a própria recriação do Ministério.

Assim, para cumprir as melhores expectativas, deve-se evitar essas bolas divididas. Deixemos os e-sports fora dessas polêmicas, afinal são sim um tipo de esporte e que cresce sem o aparato estatal. Essa discussão só gera críticas ácidas em debates rasos nas redes sociais e atrapalha o desenvolvimento das políticas públicas almejadas e a rotina do novo Ministério.

Professor, graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestre em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atua na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) e na Secretaria Municipal de Educação de Maricá (SME-Maricá)

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Sociedade Anônima do Futebol: Futebol, reificação e antirracismo https://canalmynews.com.br/voce-colunista/futebol-reificacao-e-antirracismo/ Mon, 07 Mar 2022 13:47:45 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=25483 Em agosto de 2021 foi instituída e regulamentada a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), conhecida “clube-empresa”. A ponderação é sobre o mercado, que transforma até as lutas sociais em mercadoria.

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A Lei 14.193, de 06 de agosto de 2021, que instituiu e regulamentou a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), o conhecido “clube-empresa”, está promovendo grandes mudanças no cenário esportivo brasileiro. Cruzeiro e Botafogo foram os primeiros a serem adquiridos. Ao aprovar o modelo da SAF, o antigo clube associativo cria uma empresa, sem dívidas, que passa a ser responsável pelo futebol profissional e de base, tendo a obrigação de encaminhar uma porcentagem dos lucros para o clube associativo para sanar as antigas dívidas.

No caso de Cruzeiro e Botafogo, 90% das suas ações da Sociedade Anônima do Futebol foram compradas por Ronaldo e John Textor, respectivamente. Foi a saída encontrada para clubes que têm passivos na casa de 1 bilhão de reais. É notória a falta de democracia interna e os erros sucessivos de diversos presidentes, conselheiros e beneméritos em diversos clubes brasileiros por décadas, e o modelo da SAF tem se apresentado como solução neste contexto.

Desse modo, o conceito de reificação ajuda a interpretar este cenário. Reificação é o processo de transformação de tudo em objetos a serem consumidos. Chegamos ao ponto que os clubes e a paixão de milhões de torcedores possuem preço, e esse preço leva em conta o potencial de consumo da torcida. Mais do que nunca, torcedores serão clientes.

Jogador em cobrança de escanteio. Foto: Planet Fox (Pixabay)

Dito isto, o terceiro grande clube brasileiro a caminhar em direção da Sociedade Anônima do Futebol é o Vasco da Gama. No dia 21 de fevereiro deste ano, o clube assinou um pré-acordo de venda de 70% de ações de sua futura SAF com a 777 Partners, uma holding estadunidense que possui ativos na casa de R$ 50 bilhões.

Um adendo ao contexto da reificação veio na entrevista do sócio-fundador da 777 Partners, Josh Wander, ao Globo Esporte no dia 23 de fevereiro. A razão principal para escolha do Vasco foi a tradição e a história do clube em quebrar barreiras sociais e raciais.

Convém lembrar que em 1923, em seu primeiro ano na divisão principal do futebol carioca, o Vasco foi campeão com doze jogadores negros e pobres em seu elenco. Por não possuir estádio próprio, mesmo tendo sido campeão, foi proibido de se filiar ao novo campeonato criado equivalente à 1ª Divisão em 1924. Contudo, essa decisão poderia ser revertida caso estes doze jogadores não estivessem mais no elenco vascaíno.

Em carta endereçada à nova associação no ano de 1924, o então presidente do Vasco, José Augusto Prestes, recusou a proposta e o Vasco foi, na prática, rebaixado, jogando com clubes de menor expressão da 2ª Divisão, mesmo tendo se sagrado campeão no ano anterior. Ali iniciou-se uma campanha para construção do estádio de São Januário financiado por carnês dos próprios torcedores.

A fala de Josh Wander valoriza este passado do Vasco, mas também menciona o foco de seus investimentos com a holding: trabalhar na valorização de seus ativos para a posterior revenda em médio ou longo prazo.

Time do Vasco campeão carioca em 1923. Foto: Arquivo (CRVG)

A questão que fica é: a história do Vasco servirá para mobilizar a luta antirracista e contra outras formas de opressão? Ou a luta antirracista do passado será também reificada para se tornar objeto que irá auxiliar a holding estadunidense a recuperar seu investimento?

Neste sentido, o escritor francês Guy Debord (1931-1994), também pode ser lembrado. Ele criou a expressão “Sociedade do Espetáculo” que se estrutura sempre focando na aparência para estimular desejos de consumo. Não precisa “ser”, basta “aparentar”. E ainda vemos como cada vez mais se lucra a partir isso.

Vale mencionar que essa reificação não é exclusividade do modelo SAF no Vasco. O clube que se orgulha de ser vanguarda na luta contra opressões, e coloca à venda diversas camisas e utensílios alusivos às causas sociais, também carece de diversidade internamente no clube associativo.

A reunião do Conselho Deliberativo de 24 de fevereiro, que aprovou o empréstimo-ponte de 70 milhões da 777 Partners ao Vasco da Gama, demonstrou, ao vivo pelo YouTube, como a luta em defesa da diversidade e igualdade ainda tem longos caminhos a serem atingidos na prática. Dos mais de 200 conselheiros presentes, raros eram negros e mulheres.

Ainda temos um grande percurso para as que lutas sociais no esporte contemporâneo não sejam somente mercadorias a serem exploradas comercialmente.

*As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews

Quem é Walter Moreira Dias?

Professor, graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestre em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atua na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) e na Secretaria Municipal de Educação de Maricá (SME-Maricá).


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Clubes de futebol avançam na pauta LGBTQIA+, mas torcedores ainda marcam gols contra https://canalmynews.com.br/voce-colunista/clubes-de-futebol-avancam-na-pauta-lgbtqia-mas-torcedores-ainda-marcam-gols-contra/ Thu, 05 Aug 2021 20:56:51 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/clubes-de-futebol-avancam-na-pauta-lgbtqia-mas-torcedores-ainda-marcam-gols-contra/ Enxurrada de comentários preconceituosos inundou as redes sociais em virtude das ações de clubes

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Vimos na sétima rodada do Campeonato Brasileiro, tanto na série A quanto na B, iniciativas de combate à LGBTfobia. Isto se deu em razão da proximidade das datas com o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, 28 de junho, em razão da rebelião de Stonewall ocorrida neste dia, em 1969, em Nova York. Um levante contra violência policial neste bar de público LGBTQIA+, numa época em que homossexualidade era item do Código Penal dos Estados (derrubada definitivamente nos EUA pela Suprema Corte somente em 2003).

Esse posicionamento não é algo novo. Postagens referentes a este dia nas redes sociais dos clubes têm crescido nos últimos anos, mas neste último final de semana as iniciativas de maior visibilidade abalaram uma parte dos torcedores nas redes sociais.

Vimos Flamengo e Fluminense usarem nos uniformes dos jogadores números com as cores da bandeira arco-íris, criada por Gilbert Baker a pedido de Harvey Milk para representar o movimento gay em 1978.

O Vasco, além de um manifesto, lançou um quarto modelo de uniforme em que a tradicional faixa transversal foi remodelada com as cores do movimento LGBTQIA+.

É bom lembrar que outras medidas como estas já ocorreram anteriormente. Na Europa, PSG já estilizou os números dos jogadores há poucas semanas, Rayo Vallecano e St Pauli também já tiveram uniformes específicos com essa temática. O Bahia, por meio de seu Núcleo de Ações Afirmativas, no início deste ano também lançou de forma oficial uma camisa em apoio à luta LGBTQIA+.

Mas o que ocorreu em quantidade relevante nas páginas de Vasco, Flamengo e Fluminense foi uma série de comentários preconceituosos que repetiam quase mesmo teor: “Isso é pura lacração”; “Vou cancelar meu título de sócio”; “Foco tem que ser no futebol e não essas besteiras”; “Nem vou assistir o jogo”; “Aqui é time de macho”; “Vergonha eterna”. Além de outros ainda mais pesados. Não raras associações à pedofilia.

É revelador e simbólico como diversas outras campanhas, contra o racismo, contra a violência contra a mulher, em favor do recolhimento de alimentos para populações periféricas enfrentarem a pandemia não enfrentaram tamanha resistência e ódio.

Flamengo que se orgulha de ser um clube de massas, com torcedores de todas as classes sociais; Fluminense que divulgou fortemente o lema #TimeDeTodos após diversos casos de cânticos homofóbicos de jogadores e torcidas adversárias; Vasco que sempre recorda de ter se recusado a expulsar doze jogadores negros em 1924 e por isso foi impedido de continuar na Primeira Divisão do Campeonato Carioca na época, mesmo sendo o então campeão.

Ainda assim, vemos que a luta é grande. A falta de empatia com as dores, perseguições, não aceitação, agressões e homicídios de uma parcela significativa da população seguem transcendendo a polarização política pós 2018. O bolsonarismo não tem propriedade privada sobre a homofobia e a transfobia.

Clubes brasileiros estão chegando ao século XXI, mas parte dos torcedores insiste em se manter na Idade Média.

Até mesmo um candidato à presidência do Vasco nas últimas eleições lançou uma nota neste final de semana, justificando que a tradição católica do século XV “de levar luz, conhecimento e fé ao Oriente” (sic) se relaciona intimamente com a instituição Vasco da Gama, e assim não permitiria que ações contra homofobia e transfobia fossem feitas pois poderiam gerar um conflito moral de torcedores e associados.

Faltou só citar que se for para lembrar de tradição religiosa do século XV, não dá nem para criticar escravidão, ainda mais ser contra o racismo.

Urge deixarmos a Idade Média. Chega de gol contra.


Quem é Walter Moreira Dias?

Walter Moreira Dias é professor, graduado em História pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atua na SEEDUC-RJ e na SME-Maricá.

* As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews

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