Discurso e realidade: governo Castro fracassa em prender chefes do tráfico Foto: © Fernando Frazão/Agência Brasil

Discurso e realidade: governo Castro fracassa em prender chefes do tráfico

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Último grande criminoso preso pelo estado foi em dezembro de 2017, na época, Rogério 157 comandava o CV na comunidade da Rocinha e ainda sob comando de Pezão, na cadeira de Governador

Era uma quarta-feira, 6 de dezembro de 2017, quando a Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu o criminoso Rogério 157, então chefe do tráfico na Rocinha, na Zona Sul. Ele era o bandido mais procurado do estado, e a recompensa por sua captura chegava a 50 mil reais. Desde então, sete anos se passaram, com operações sucessivas, inúmeras mortes e apreensões, mas nenhuma prisão de outro grande líder do tráfico.

Naquele período, o governo estava nas mãos de Luiz Fernando Pezão, sucessor de Sérgio Cabral, ambos do PMDB, hoje PMB. Logo depois, o Rio de Janeiro elegeu Wilson Witzel e Cláudio Castro. Witzel deixou o cargo e Castro assumiu, defendendo como bandeiras a segurança pública, a retomada de territórios e a promessa de atuar de forma diferente do período das UPPs. Segundo os números oficiais, desde então o estado registrou o maior volume de mortes em operações policiais desde a redemocratização. Foi assim no Jacarezinho, em 2021, com 28 mortos, e na Vila Cruzeiro, em 2022, com 23 mortos. Com as vítimas do Complexo do Alemão, o total passa de 170.

Nas entrevistas, Castro insiste que busca prender as principais lideranças criminosas do estado. Mas quantas ele realmente capturou? Doca, que comanda o Comando Vermelho e lidera a expansão da facção, principalmente na Zona Sudoeste, fugiu novamente sem deixar rastros. BMW e Gardenal também continuam soltos e seguem cometendo crimes. Abelha, antes um dos nomes mais citados pelas autoridades, saiu pela porta da frente de Bangu mesmo com mandados ativos. Na época, ele recebeu apoio de Raphael Montenegro, ex-secretário de Administração Penitenciária do Rio, depois preso por corrupção e facilitação de fuga. Nas operações recentes contra o CV, Abelha deixou de ser citado.

+ Governo do Rio diz ter mil fuzis com o tráfico nos Complexos da Penha e Alemão

Outro nome que segue fora do alcance do estado é o traficante conhecido como Pezão. Desde a época das UPPs, ele permanece foragido, e já são mais de 15 anos sem qualquer pista concreta.

Na Zona Norte, nas áreas de Parada de Lucas, Vigário Geral e Cordovil, quem domina a atenção é Peixão, do Terceiro Comando Puro. Ele atua de forma diferente, usa a religião para controlar suas áreas e proíbe manifestações de outras crenças. Mesmo procurado há anos, nunca apareceu em operações, e a polícia nunca chegou perto de capturá-lo. A operação mais recente prendeu 20 criminosos, mas deixou um rastro de problemas na cidade, sobretudo na Avenida Brasil. Diferentemente de Doca, na Penha, Peixão nunca teve passagem pela polícia.

Miliciano preferiu se entregar há dois anos

Entre os milicianos, o estado registrou alguns avanços. A polícia matou Ecko, da família Braga. Logo depois, a disputa pelo espólio gerou novas mortes, como a de Pipito, apontado como chefe da maior milícia do Rio. No ano anterior, Fausto, sobrinho de Zinho, também morreu em confronto com policiais.

Zinho se entregou às autoridades no Natal de 2023. Ele é, na prática, o último grande criminoso capturado pelo estado. Castro deve encerrar seu mandato em 2026 e planeja disputar o Senado, mas em sete anos no poder, como vice ou como governador, não prendeu nenhuma liderança do tráfico, contrariando seu discurso de combate. Sua nova aposta é a retomada de territórios, mas a ocupação da Muzema, em 2022, já mostrou falhas em planos semelhantes.

Essa matéria contou com suporte e dados do Fogo Cruzado.

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