Foto: © Valter Campanato/Agência Brasil
Rio
Presidente ainda não se pronunciou após megaoperação no Rio de Janeiro
A megaoperação realizada no Rio de Janeiro, com seu saldo trágico de mortes e a impressionante apreensão de armamentos, expôs uma chaga profunda e dolorosa na segurança pública do Rio e do país. Neste momento de luto profundo, pelas vidas perdidas ontem, pelas que se foram hoje, e por todas as que foram ceifadas pela violência nos últimos anos, o pior que pode acontecer é permitir que esta tragédia se torne munição barata para a artilharia da direita ou da esquerda.
Os corpos, as poucas roupas nos mortos exibidos, um indicativo sombrio de que vestimentas militares foram largadas na fuga, a quantidade de armas apreendidas, a impossibilidade de perícia por ser uma zona conflagrada e a certeza insofismável de que a violência escalou para um patamar de guerra: tudo isso grita que a briga não é mais com o “crime organizado” como o conhecíamos. Como disse o general Santos Cruz que já liderou operações da ONU em várias regiões de conflitos no mundo, o tráfico tem um verdadeiro Exército. É contra um verdadeiro exército, que recruta jovens e os transforma em alvos em uma batalha sem quartel, como os que entregaram suas vidas ao Comando Vermelho que estamos lutando.
Em respeito a esses mortos, aos policiais que arriscam suas vidas diariamente, e à sociedade carioca que vive sob constante terror, o Brasil tem um dever inadiável: a união. Governo federal, governo estadual, prefeituras, sociedade civil, ONGs, pesquisadores, o Judiciário e o Ministério Público, todos nós, deveríamos nos curvar em um pacto solene para que esta cena de horror jamais se repita. A hora de politizar a dor e a tragédia deve ceder lugar à urgência de soluções complexas e duradouras para um problema que transcende a lógica eleitoral.
Temos que reconhecer que chegamos a um ponto de inflexão. A segurança pública é o principal desafio do país. Ela não é um problema “apenas dos estados”; ela é uma ameaça à soberania e à estabilidade nacional, alimentada por rotas internacionais de armas e drogas, e sustentada por uma máquina de guerra que ri da fragilidade das nossas instituições.
O melhor, o mais urgente e o mais poderoso movimento que poderia ocorrer agora, seria o presidente Lula quebrar o seu silêncio e assumir a liderança deste movimento nacional contra o crime organizado. Lula, um líder político incontestável e com a capacidade de mobilizar as mais diversas forças, tem o capital político para convocar governadores, o Congresso, o Judiciário e a sociedade para uma grande mesa de diálogo e ação.
Seu silêncio atual deixa uma impressão devastadora: a de que o líder máximo do país não tem o que dizer em relação ao seu principal desafio. Afinal, este é um problema dos Estados. Parece, para muitos, um lavar de mãos, uma desresponsabilização em nome do pacto federativo, que soa vazio diante da escala da carnificina.
A ausência de sua voz forte e agregadora permite que a tragédia seja cooptada pelas narrativas extremas, que a transformam em mais um round na briga ideológica, desviando o foco do que realmente importa: a vida e a segurança dos brasileiros.
Que a megaoperação não seja lembrada apenas pelo número de mortos, mas como o marco que forçou o Brasil a encarar sua realidade. O combate a esse “exército” não será vencido com uma operação policial a cada seis meses. Ele exige inteligência, investigação financeira, bloqueio de fronteiras e portos, e, acima de tudo, uma ação coordenada e ininterrupta do Estado brasileiro para ocupar os territórios hoje ocupados pelo tráfico por ausência de escolas, saúde, emprego, enfim o Estado.
Chega de usar o sangue do Rio para ganhar manchete ou voto. É hora de usar o luto para construir um futuro onde o Brasil não entregue seus jovens para a morte, seja ela nas mãos dos criminosos ou na ponta da guerra que eles impõem.
Duas horas depois de publicada a coluna, o presidente fez seu primeiro pronunciamento sobre a operação do Rio, uma curta nota nas redes sociais.
https://x.com/DamaDeFerroTV/status/1983655623020671371
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