Ex-presidente do PT, o deputado por seis mandatos recebeu o MyNews em sua casa, mostrou seu acervo, revisitou sua história e disse que não se sente um ingênuo, adjetivo que lhe recai com frequência
Personagem de rica história na política e na existência do PT, o deputado federal por seis mandatos José Genoino experimentou muitos lados nessa caminhada: da guerrilha do Araguaia a fundação de seu partido, do papel de destaque o Congresso a renúncia de seu mandato, da prisão no mensalão ao isolamento em sua residência.
Foi lá, em sua casa no bairro Butantã, em São Paulo, que ele recebeu a reportagem do Canal MyNews, onde gravou o programa Segunda Chamada, na última terça-feira. Genoino foi preso pela ditadura, por sua participação na Guerrilha do Araguaia, nos anos de 1970, e na democracia, condenado por corrupção ativa a quase cinco anos de cadeia, em 2013.
Toda essa história está minuciosamente arquivada nos escaninhos de seus armários, nos recortes de jornais, nos documentos e cartas, nas charges dos periódicos e fotografias. Com seus direitos políticos recuperados desde 2023, Genoino, que foi um deputado ativo, não quer mais saber da política eleitoral, optou por ser um militante de rua.
Portão de ferro intransponível
Para se proteger da “perseguição sistemática da grande imprensa comercial, monopolista e familiar”, fez de sua casa um bunker. Instalou um portão de ferro que isola ele e sua família de contatos externos, desde o início do mensalão. Até para acessar a campainha não é fácil.
Na conversa, Genoino conta que foi alvo da ditadura e da democracia.
“Sofri dois grandes processos, da ditadura, que me prendeu por cinco anos, e do mensalão. Foi condenado e perseguido pela ditadura e pela democracia liberal. Uma começa no corpo e chega na alma. A outra, começa na alma e chega no corpo. Não sei qual é a pior. Vivi esse processo de maneira muito dramática. Fui perseguido pelo que eu era, não pelo que eu fiz”, contou Genoino.
Na prisão, conheceu outra condenada
Sua condenação no mensalão se deu por ser presidente do PT e nessa condição ter assinado dois empréstimos com o Banco Rural e o BMG, cujos dirigentes também foram condenados no mensalão. Com frequência, recai sobre Genoino o adjetivo de “ingênuo”, associação que se faz a sua integridade com a “bobeira” de ter sido signatário desses empréstimos.
“Tudo que fiz, todas minhas escolhas, foram de forma consciente. Foram elaboradas. Não quis ser candidato a governador, e fui. Não queria ser presidente do PT, e fui. Então, não fui ingênuo. Meus colegas sabiam que era presidente do PT para cuidar da política, não das finanças. Os contratos que assinei foram legais, registrados e pagos”, disse o petista, que recebeu a reportagem ostentando a camisa com o número 13 da legenda que ajudou a fundar. E complementou o raciocínio.
“Nada encontraram no meu sigilo bancário, não teve delação, não teve testemunha. Nunca visitei as sedes dos bancos. A diretora do Banco Rural, Kátia Rabello, a conheci na cadeia. Ou seja, conheci um membro da cadeia quando estava preso com ela. Não fiz nada de errado. Não fui enganado. Não me sinto ingênuo”.
Agora, um militante do PT
Com sua família, ele reside na mesma casa há 41 anos.
“Uma das últimas compradas pelo antigo BNH”.
Vive hoje de uma aposentadoria de deputado, não integral, e uma parte complementar.
Hoje, o petista diz que fez um resgate da relação com política, não quer cargos nem disputar mandatos, apesar do vigor das décadas de parlamentar, quando, ironia do destino, era o político que mais frequentou comitê de imprensa da Câmara, onde se concentrar os jornalistas, todos, incluídos os da mídia “familiar, monopolista e comercial”. E falava com todos.
“Hoje, quero fazer política sem cargo, fiz política com cargo antes, campanha, ser eleito. Não quero representar, não quero aparecer. Quero ser um militante”.