Prédio do Banco Central do Brasil | Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Sistema Financeiro
O Tribunal de Contas da União já confirmou que, provocado pela representação do Ministério Público, irá questionar o Banco Central sobre a demora na intervenção.
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MP-TCU) protocolou uma Representação junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) para que o órgão de controle externo avalie se houve falhas ou negligência por parte do Banco Central do Brasil (Bacen) na fiscalização e supervisão do Banco Master e suas subsidiárias. O documento, assinado pelo Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado, também exige a verificação da existência de risco sistêmico bancário decorrente da liquidação extrajudicial da instituição.
A Representação do MP-TCU surge no mesmo dia em que o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master e suas subsidiárias – incluindo Banco Master Múltiplo, Banco Master de Investimento, Banco Letsbank e Master S/A Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários.
A medida, assinada pelo presidente do Bacen, Gabriel Galípolo, foi fundamentada na constatação de insolvência irrecuperável e na ocorrência de graves infrações às normas reguladoras da atividade bancária. A liquidação extrajudicial é o regime de resolução destinado a interromper o funcionamento de uma instituição e promover sua retirada organizada do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
Simultaneamente à decretação da liquidação, o proprietário do Banco Master, Daniel Vorcaro, foi preso pela Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Compliance Zero. A operação investiga um esquema de emissão e negociação de títulos de crédito falsos, que teria como alvo outras instituições financeiras do SFN, como o Banco de Brasília (BRB). O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, revelou que a fraude envolvida na operação alcança a cifra de R$ 12 bilhões.
O cerne da representação é a preocupação com a aparente omissão ou falha do Bacen no exercício de suas atribuições. O Subprocurador-Geral questiona a eficácia e a tempestividade das ações de supervisão.
O mercado já via indícios de problemas há tempos, pois o banco era notoriamente conhecido por enfrentar dificuldades de captação. Isso se refletia nas taxas muito acima da média pagas pelos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do Master, o que era interpretado como um claro sinal de risco iminente e situação financeira precária, indicando uma tentativa desesperada de atrair liquidez.
Apesar dos indícios públicos, a intervenção demorou, alimentando a percepção, entre agentes econômicos, de que poderia ter havido um componente político na postergação da medida. Técnicos do Banco Central, contudo, defendem que as decisões de intervenção são tomadas em colegiado, seguindo um cronograma rigoroso de avaliação técnica.
O MP-TCU argumenta que, se o órgão regulador tivesse atuado de forma mais proativa, tempestiva e eficaz, os danos causados pela insolvência poderiam ter sido evitados ou, ao menos, mitigados.
Lucas Rocha Furtado destaca que a liquidação extrajudicial de uma instituição de porte relevante, como o Banco Master, pode acarretar impactos profundos e de grande magnitude no SFN.
Estima-se que o impacto financeiro no FGC possa ultrapassar R$ 40 bilhões, sendo este o maior volume histórico pago pelo Fundo.
Para cumprir suas competências de controle externo, o MP-TCU requer que o Tribunal adote uma série de medidas:
A situação do Banco Master evidencia de forma clara a existência de um risco sistêmico no SFN, exigindo uma atuação firme e eficaz do Bacen, bem como o fortalecimento do setor de fiscalização bancária nacional.