Arquivos Chile - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/tag/chile/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Tue, 26 Nov 2024 17:54:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Presidente do Chile, Gabriel Boric, é denunciado por assédio sexual https://canalmynews.com.br/noticias/presidente-do-chile-gabriel-boric-e-denunciado-por-assedio-sexual/ Tue, 26 Nov 2024 17:54:28 +0000 https://localhost:8000/?p=48876 Caso teria ocorrido dez anos atrás, quando ainda era líder estudantil; Gabriel Boric nega as acusações e afirma nunca ter tido nenhum tipo de relação com a vítima

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O presidente do Chile, Gabriel Boric, é alvo de uma denúncia de assédio sexual que está sendo investigada pelo Ministério Público. De acordo com a acusação, apresentada em setembro na Procuradoria Regional de Magallanes, Boric teria assediado a vítima na época em que ele concluiu a faculdade de direito, dez anos atrás.

O chefe do Ministério Público de Magallanes confirmou a existência de um processo criminal e uma equipe especial foi designada para conduzir a investigação. O caso vem à público em meio a um escândalo envolvendo o ex-ministro Manuel Monsalve, preso preventivamente por abuso sexual e estupro.

Esta é a segunda vez que Boric é denunciado por assédio. A primeira acusação ocorreu durante a campanha eleitoral em 2021, mas nunca foi investigada criminalmente.

A defesa de Boric disse que a denúncia nõo possui “qualquer fundamento” e que o atual presidente nunca teve nenhum tipo de relação afetiva ou de amizade com a vítima. “O presidente […] rejeita e desmente categoricamente a denúncia de um suposto fato ocorrido em 2013”, afirmou advogado Jonatan Valenzuela.

O ex-líder estudantil tem foro privilegiado em razão do cargo, por isso sua imunidade deve ser revista antes de ser submetido a qualquer julgamento.

Assista abaixo ao Segunda Chamada de segunda-feira (25):

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Morre ex-presidente Sebastián Piñera em queda de helicóptero https://canalmynews.com.br/internacional/morre-ex-presidente-sebastian-pinera-em-queda-de-helicoptero/ Tue, 06 Feb 2024 22:12:33 +0000 https://localhost:8000/?p=42285 Gabinete confirmou a morte do ex-presidente em queda de helicóptero e foi decretado três dias de luto nacional

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Morreu nesta terça-feira (6), aos 74 anos, o ex-presidente Sebastián Piñera em acidente de helicóptero que caiu no Lago Ranco. O ex-presidente voltava de almoço na casa do empresário José Cox, com mais três pessoas a bordo, que sobreviveram. Segundo informações da Direção-Geral da Aeronáutica Civil, os ocupantes teriam saltado da aeronave antes da queda.

A notícia foi confirmada por seu gabinete e a Procuradoria Regional de Los Ríos confirmou a abertura de uma investigação sobre o acidente.

Doutor em Economia, empresário e político independente, Piñera foi presidente da República de 2010 a 2014 e de 2018 a 2022. Foi senador pelo 8º Distrito de Santiago Oriente durante os anos 1990-1998. O governo chileno declarou luto nacional, e haverá um funeral oficial com honras de Estado.

Nas redes sociais, autoridades ao redor do mundo repercutiram a notícia com mensagens de condolências. No Brasil, o presidente Lula disse estar “muito triste pelo seu falecimento de forma tão abrupta” e que sempre tiveram “um bom diálogo”.

Em Especial do MyNews, Afonso Marangoni e a jornalista Sylvia Colombo informam o ocorrido, comentam as repercussões e explicam quem era o ex-presidente Piñera. Acompanhe:

 

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Filmes para entender o golpe de Estado no Chile https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/filmes-para-entender-o-golpe-de-estado-no-chile/ Thu, 31 Aug 2023 12:14:31 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=39243 Para ajudar a refletir sobre a época, segue a recomendação de 5 filmes, entre clássicos e novidades, que reconstroem a época segundo distintos aspectos

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O golpe de Estado do Chile completa 50 anos no próximo dia 11 de setembro, num momento delicado do governo do esquerdista Gabriel Boric, que começou sua carreira política evocando a figura de Salvador Allende, o presidente socialista que foi derrotado e que se suicidou após o bombardeio do palácio de La Moneda. Este capítulo foi o início da sangrenta ditadura militar chilena (1973-1990), que deixou mais de 3 mil desaparecidos. Para ajudar a refletir sobre a época, segue a recomendação de 5 filmes, entre clássicos e novidades, que reconstroem a época segundo distintos aspectos.

A lista

“Missing” (Costa-Gravas, 1982) – Filme clássico com Jack Lemmon e Sissy Spacek, baseado numa história real, a do jornalista norte-americano Charles Horman, que desapareceu logo após o golpe de 1973. Seu pai e sua mulher o buscam por todas as partes, mas nunca o encontram. O filme, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes, foi banido no Chile até o fim da ditadura, em 1990.

“Aranha” (Andrés Wood, 2019) – Protagonizada por Mercedes Morán, María Valverde e Marcelo Alonso, conta a história de um trio amoroso que compartilha, na juventude, a militância em um grupo de direita, o Frente Nacionalista Patria y Libertad, conhecido pelo símbolo de uma aranha. Nos anos 70, antes do golpe militar, a organização promoveu vários atentados contra apoiadores do governo do presidente socialista Salvador Allende.

“A Batalha do Chile” (Patricio Guzmán, 1975-1979) – A trilogia de documentários traz a visão privilegiada do cineasta que retratou os antecedentes da eleição de Salvador Allende, a tensão social e a polarização da sociedade até culminar no golpe de Estado. Há passagens históricas, como o momento em que o câmera argentino Leonardo Henrichsen é morto enquanto grava o próprio tiro que o alvejou. Guzmán também vai a encontros de trabalhadores, reuniões sindicais e paradas militares e mostra as primeiras aparições daquele que seria o protagonista do golpe, o general Augusto Pinochet.

“No” (Pablo Larraín, 2012) – O drama ficcionaliza a famosa “campanha do não”, que ocorreu em 1988, quando se deu um plebiscito que decidiria se os chilenos queriam que a ditadura de Pinochet continuasse ou não. Baseada em obra do escritor Antonio Skármeta, o filme é protagonizado pelo mexicano Gael García Bernal, que integra a equipe que faz a campanha publicitária para que o “não” vença. O filme mostra como ele conseguiu armar uma estratégia que transformou uma mensagem com uma palavra negativa em algo festivo, alegre, enquanto a campanha do “sim” era burocrática e baseada em números e balanços do regime. O “não” acabou vitorioso, colocando fim na ditadura.

“Machuca” (Andrés Wood, 2004) – Durante o governo socialista de Salvador Allende, encerrado pelo golpe de Estado de 1973, havia um programa do governo que trazia indígenas de comunidades para estudar em Santiago. O filme mostra a relação do menino branco e burguês Gonzalo Infante e o humilde Pedro Machuca, numa escola católica de Santiago. A amizade dos dois mostra a divisão da sociedade chilena. Enquanto a família de Infante apoiou o golpe, a de Machuca sofreu duramente suas consequências, A polarização da época está na origem da cisão política que existe até hoje no país.

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Alerta para as comemorações do 11 de Setembro no Chile https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/alerta-para-as-comemoracoes-do-11-de-setembro-no-chile/ Thu, 13 Jul 2023 15:31:19 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38478 Os desafios de Boric para encontrar um consenso são enormes, e sua debilidade começa a se fazer notar, em suas diferenças com o Congresso e com a incapacidade, sequer, de nomear alguém de sua confiança para comandar a memória de data tão nefasta para o Chile.

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A noite em que se conheceu que Gabriel Boric seria o novo presidente do Chile, em 19 de dezembro de 2021, foi de festa para os progressistas. Desde socialistas de antiga data, a allendistas, partido comunista, centro-esquerda e a chamada “direita democrática”, que se assustou com o avanço da extrema-direita que representava a opção de José Antonio Kast, saíram para comemorar.

Porém, lembro-me que, voltando daquela cobertura do centro até o hotel em Santiago, já avançada a madrugada, me topei com um grafitti recém pintado num muro: “Boric, não brinque com os presos políticos!”.

A assinatura era clara, tratava-se dos jovens representantes de esquerda do Partido Comunista e de outras agrupações relacionadas. Eles, que foram o coração dos protestos de 2019 e que deram o primeiro passo para a instalação da Assembleia Constituinte (primeira versão), já vinham mostrando desgosto com Boric.

Primeiro, porque se afastava de sua base eleitoral para aproximar-se do centro político e até da direita. Hoje, teve de retroceder em vários pontos progressistas de sua agenda e até celebrar os Carabineros responsáveis por abusos de direitos humanos nos protestos. Tampouco liberou os chamados “presos políticos”, detidos naquela fase, ou fez gestos de resolver as questões de violência no Sul, que vira e mexe recebe intervenções militares.

O partido comunista já não se vê representado por ele e aproveita todas as oportunidades para criticá-lo.

O mais recente desses episódios ocorreu no último mês. Boric havia nomeado o escritor e jornalista Patrício Fernández, criador da revista The Clinic e progressista, para cuidar das comemorações dos 50 anos da ditadura chilena (1973-1990), que ocorrem no próximo mês de setembro.

Pois, integrantes do PC foram vasculhar tuítes e postagens de Fernández, e encontraram ali o que alegam ser uma campanha de relativização da ditadura. Junto a outras 160 agrupações relacionadas à defesa dos direitos humanos, pediram sua cabeça a Boric.

A principal discórdia ocorreu num trecho de uma entrevista de rádio em que Fernández foi entrevistado pelo sociólogo Manuel Antonio Garretón. Na entrevista, o jornalista, que fez parte da Assembleia Constituinte, afirmou que era necessário estudar mais as razões do golpe militar e que atitudes do presidente socialista Salvador Allende poderia ter provocado o giro dos militares contra ele.

As críticas foram ferozes. Patrício Fernández retrucou que nunca justificaria um golpe de Estado. Porém, seu cancelamento nas redes sociais e no ambiente político foi rápido. Enquanto isso, membros da oposição atacaram a esquerda, por sua virulência contra um de seus próprios integrantes. A fogueira já estava acesa e vários representantes dos partidos de direita, estes sim, saíram a dar declarações relativizando a ditadura.

“Eu sim justifico o golpe militar, vimos o cancelamento imediato de uma pessoa de esquerda que não era suficientemente de esquerda para o setor mais radical”, disse Jorge Alessandri (UDI).

Foi demais para Fernández, que renunciou ao posto. “Minha pessoa se transformou num obstáculo para o bom desenvolvimento dessa comemoração. O desafio é tão grande e importante, que peço que entendam porque estou dando um passo para o lado”.

Para não causar mais turbulências nessas delicadas comemorações do 11 de Setembro, não nomeou um novo nome, e sim encarregou distintos ministérios de cuidar das atividades que ocorrerão no período.
O período militar chileno fez mais de 3 mil vítimas, entre mortos e desaparecidos, dentre os quais apenas 307 foram até hoje identificadas.

Com a esquerda rachada, brigando entre si, e os ultradireitistas ganhando tração, uma vez que derrotaram a Constituinte no ano passado e agora são maioria na nova Assembleia, o Chile chega à data histórica de 50 anos de uma ferida que, em vez de estar cicatrizando-se, parece reabrir.

Os desafios de Boric para encontrar um consenso são enormes, e sua debilidade começa a se fazer notar, em suas diferenças com o Congresso e com a incapacidade, sequer, de nomear alguém de sua confiança para comandar a memória de data tão nefasta para o Chile.

Ainda neste ano, os chilenos voltarão às urnas para decidir sobre a segunda versão da nova Constituição. Uma derrota do governo ali pode significar que a estrada estará ainda mais aberta à extrema-direita no Chile.

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Chile flerta com seu bolsonarismo: parece que não aprendeu nada com o Brasil https://canalmynews.com.br/voce-colunista/chile-flerta-com-seu-bolsonarismo-parece-nao-aprendeu-com-brasil/ Mon, 15 Nov 2021 20:06:38 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/chile-flerta-com-seu-bolsonarismo-parece-nao-aprendeu-com-brasil/ Como dizem por aí, o mundo não gira, ele capota, e a história sempre teima em se repetir. É impressionante como o cenário no Chile caminha igual ao do Brasil pós manifestações de 2013

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“No Chile, assim como no Brasil, a democracia renasceu sob vias institucionais e pacíficas, com muita paciência. Sua Constituição democrática, ao contrário, está sendo forjada de forma abrupta e selada sob sangue.”
O Chile vai viver suas eleições presidenciais este mês, um fato que deve ser acompanhado com peculiar interesse, pois é um decisivo pleito que ocorre logo após a ebulição social que tomou conta do país em 2019 e culminou com a elaboração de uma nova constituição, um processo mais que necessário, uma vez que, ao contrário do Brasil, os chilenos nunca haviam posto fim ao legado constitucional de sua respectiva ditadura.

Se a decisão por uma nova Constituição se mostrou mais que acertada, e ela foi aprovada com 80% dos votos, o que vem se desenrolando desde aí parece denotar uma saída de pista do processo, e não era difícil imaginar isso. Se no Brasil resolvemos pôr fim às lembranças da Ditadura Militar de modo rápido após o seu término, utilizando a política institucional e de modo pacífico, a demora dos chilenos para se livrarem do legado de Pinochet cobrou um preço caro: a nova Constituição chilena está nascendo sob sangue, foi forjada sobre uma verdadeira e violenta revolução popular, onde se notaram excessos tanto de manifestantes quanto do governo na repressão dos mesmos.

Chile - eleições 2021
Imagem da eleição para a Assembleia Constituinte do Chile, em maio de 2021. No próximo domingo (21) haverá 1º turno das eleições presidenciais/Foto: Fotos Públicas/Alejandra De Lucca V. / Minsal

Radicalização gera radicalização. Na eleição para a Assembleia Constituinte a esquerda ganhou de lavada, era natural, já que a revolta se deu dentro de um governo de centro-direita, mas não foi aquela esquerda tradicional, a chamada Concertación, que tem como principais partidos o Socialista de Bachelet e a Democracia Cristã (este, um caso que considero peculiar no mundo, uma vez que tradicionalmente partidos que carregam a denominação cristã são associados à direita), que venceu a ditadura Pinochet sem derramamento de sangue e governou o Chile em praticamente todo período democrático desde então, a exceção dos dois mandatos de Piñera, mas sim uma versão mais jovem e radicalizada, bem de acordo com o cenário predominante que se via nas ruas.

Era natural que a esquerda colhesse os frutos de modo imediato, mas não era garantido que isso durasse para sempre. O cenário das explosões sociais é sempre incerto. Vejamos o que ocorreu no Brasil em 2013: manifestações que começaram pela convocação de um movimento radical de esquerda, desses que vemos quase toda a semana e têm absolutamente pouca repercussão e menos ainda gente, se transformaram em uma aglutinação de milhões de pessoas com pautas difusas e revolta contra tudo e todos.

O centro mais radical das manifestações talvez até tenha continuado com os que haviam iniciado tudo, mas o corpo já havia ficado grande demais e totalmente sem controle. E a esquerda quem pagou o pato, já que era ela que governava, e paga até hoje.

Como dizem por aí, o mundo não gira, ele capota, e a história sempre teima em se repetir. É impressionante como o cenário chileno caminha igual ao do Brasil pós manifestações de 2013, com os mesmos erros. O descrédito dos partidos tradicionais chilenos está a olhos vistos, independentemente da ideologia dos mesmos, tanto nas eleições constituintes como agora, nas presidenciais, assim como a desilusão com a política tradicional reverberou por aqui em 2018, ajudada pelos efeitos da Lava Jato. Se por estes lados nós parecemos sofrer com a catarse coletiva de 2013 até hoje, mesmo mais de oito anos depois, imagine lá, onde o cheiro de pólvora é sentido com toda a força e os paralelepípedos ainda estão mornos.

E aí que vem a chave do bingo: assim como cá, lá a direita populista de repente surgiu e começou a colher os frutos do desequilíbrio social! Os jovens radicais que queimavam igrejas podem até ter aplaudido os resultados iniciais de sua revolta, mas agora devem estar atordoados com os efeitos adversos que um cenário sem controle pode trazer. O Chile é um país mais bem educado que aqui, com uma consciência política maior, feridas muito mais abertas em relação a seu período militar e uma qualidade de vida de nos fazer inveja, mas não deixa de ter uma população média com características parecidas com a nossa, embora em um processo de evolução.

Seria inútil pensar que uma população que quatro anos atrás elegeu Piñera, de repente havia virado de extrema-esquerda, ou que a aprovação esmagadora do referendo constitucional implicava uma pureza e homogeneidade ideológica dos que votaram assim, apesar da extrema direita de apoiado o “não”. A questão constitucional era uma página que o Chile precisava virar e tenho certeza que ia muito mais além do que disputas ideológicas entre campos distintos, inclusive a direita tradicional também apoiou a mudança.

O que era fácil de se prever é que boa parte da população comum, também revoltada com a situação vigente, mas menos por ler Marx e mais por não ter dinheiro no bolso, de repente começou a ficar assustada com os valores dos que lideravam aquele processo e resolveu se voltar para alguém que exprime os seus desejos de mudança, mas ao mesmo tempo parece ter muito mais relação com os seus valores pessoais.

E assim cresceu José Antonio Kast, o novo fenômeno eleitoral chileno, que deve ir para o segundo turno, talvez até em primeiro lugar, contra Gabriel Boric, outrora e ainda favorito, e o representante dessa nova esquerda mais radical, numa espécie de aliança entre o que seria o PSol e o Partidão (PCB). São eles e não a antiga Concertación, ou o partido de Piñera, que vão antagonizar o pleito chileno e, um ou outro, governar o Chile nos próximos quatro anos.

Os candidatos tradicionais definharam completamente, engolidos pelo radicalismo do momento. Kast, que quatro anos atrás não teve nem 10% dos votos, agora cresce de forma assustadora. É um pinochetista convicto, e ganhou a degradante alcunha de Bolsonaro chileno. Aliás, foi um dos primeiros que visitou o presidente brasileiro após sua vitória. Os dois têm muito em comum e certamente seguem cartilhas parecidas de campanha, como é de praxe nessa direita populista.

O ultradireitista chileno parece se aproveitar de fatores parecidos que elegeram Bolsonaro: além de colher da insatisfação da população, também pode ser ajudado pelo contrário – um efeito de reação conservadora e também de voto útil das elites tradicionais chilenas, que migram para ele como alternativa menos pior do que ter um radical de esquerda no governo.

Boric, que derrotou um comunista mais radical ainda nas prévias de sua coalização partidária (aliás, bom de ser observar também o exemplo das federações que o Chile segue a tanto tempo e será adotado aqui a partir do ano que vem), parecia ter a vitória garantida, mas já não lidera com folga no primeiro turno; em alguns casos está até em segundo e vê sua vantagem na segunda volta se estreitar a passos cavalares. O cenário parece incerto.

Eu ainda acredito, ao contrário daqui, na vitória do esquerdista. Como disse, o Chile é mais bem educado e tem experimentado um grande avanço de valores sociais progressistas nos últimos tempos, mas nunca duvide da massa conservadora, que também é grande. Além disso, é difícil imaginar que um país que deu uma guinada tão grande à esquerda recentemente, se volte ao seu extremo oposto de forma tão rápida e abrupta. E lá ainda há o fator da votação não ser obrigatória, o que coloca como crucial a questão de mobilização e participação de cada setor social.

Porém, o fato de existir alguém a lá Bolsonaro com chances reais de vitória já diz muito sobre o processo, de como mudanças necessárias feitas por vias exclusivamente institucionais tendem a serem mais exitosas, duradouras e menos traumáticas, embora possam demorar mais. O Brasil mesmo e sua Constituição de 1988 são um exemplo vivo, embora tenha acabado por cair nas garras do populismo, devido a fatores já tanto citados.

O Chile, ao contrário, flerta com o seu bolsonarismo e mostra como o que começa radical não tende a terminar bem. Espero que consigam consertar a tempo e não cometam o erro crucial que cometemos e tanto tem nos custado nos últimos anos.


Quem é Manoel Martins da Costa Júnior?

Manoel Martins da Costa Júnior é paraibano, formado em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), e pós-graduado em Gestão Empresarial pela Estácio de Sá

* As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews


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Regiane Bressan: Chilenos requerem mudanças profundas no país com a nova Constituição Política https://canalmynews.com.br/dialogos/regiane-bressan-chilenos-requerem-mudancas-profundas-no-pais-com-a-nova-constituicao-politica/ Mon, 24 May 2021 15:34:52 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/regiane-bressan-chilenos-requerem-mudancas-profundas-no-pais-com-a-nova-constituicao-politica/ Para a reforma da Carta Magna, três áreas chaves devem balizar os trabalhos

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Derivada do antigo regime militar de Augusto Pinochet, a Constituição Política da República do Chile foi sendo fortemente criticada ao longo de anos. As manifestações chilenas de 2019, evocaram a revogação da Constituição Chilena, inclusive porque ela consolida um papel mínimo do Estado na prestação de serviços básicos.

A Convenção da Constituinte tornou-se realidade com as eleições para compor este Colegiado no mês de maio de 2021. O resultado foi surpreendente pois quase um terço dos assentos foi composto pela ala dos “independentes”, pois os partidos tradicionais foram preteridos.  Tratando da ala centro-esquerda, a qual governou o país por vinte anos, entre 1990 e 2010, esta foi superada pelo Partido Comunista e pela Frente Ampla. 

Como primeira tarefa, os 155 membros da Convenção elegerão um presidente e um vice-presidente. Em seguida, terão que definir as regras de trabalho, como inclusão de participação cidadã. Na sequência, a Convenção terá de nove meses a um ano, para apresentar um novo estatuto fundamental, sendo referendado em um plebiscito popular em meados de 2022. 

A nova Constituição deverá respeitar o caráter da República do Estado do Chile, seu regime democrático, as decisões judiciais definitivas e executórias, bem como os tratados internacionais ratificados pelo país em vigor. Para a reforma da Carta Magna, três áreas chaves  devem balizar os trabalhos. 

1. Papel do Estado

Atualmente, o papel do Estado na Constituição Chilena é subsidiário. A reforma política deve incorporar um Estado social de direito. A necessidade de um Estado mais presente nas demandas sociais foi reivindicada nos protestos massivos de 2019, quando se clamou por maior proteção em áreas como saúde ou educação. Neste sentido, haverá discussão muito forte sobre os direitos sociais e econômicos, bem como no papel do Estado na provisão dos serviços públicos em geral. Existe um amplo consenso em incorporar o papel do Estado de forma mais detalhada, como educação, saúde, segurança social, moradia, entre outros; além dos direitos de segunda geração, como a não discriminação e a participação. 

2. Regime de governo

O debate sobre o regime político e a distribuição do poder tornou-se bastante relevante para a nova Carta Magna. Questionam-se o modelo presidencialista chileno por parte daqueles que consideram o presidente com muitos poderes. Uma das principais causas da crise chilena foi a rigidez institucional que criou um regime de “hiperpresidencialismo”. O modelo chileno é bicameral, mas as câmaras não parecem exercer o seu peso real e os partidos políticos denotam fragilidade deliberativa. 

Na nova Constituição, torna-se fundamental instituir o equilíbrio de poder entre o presidente e o Congresso, ampliando a participação política e colocando em prática mecanismos democráticos, como o controle social, entre os períodos de eleições. A definição de distribuição do poder do executivo afetará diretamente a conformação de novas leis na Constituição. Algumas alternativas começaram a surgir, incluindo o semi-presidencialismo ou o parlamentarismo.

3. Reconhecimento de povos nativos

A definição de direitos para as comunidades indígenas e o debate sobre um Estado plurinacional constituem outro tema fundamental à nova Constituição. A recém-eleita Convenção Constitucional incorpora 17 representantes indígenas pertencentes aos 10 povos originários do Chile reconhecidos pelo Estado, entre eles os Mapuches, Aymara, Quechuas e Diaguitas.

Entre as demandas dessas comunidades está a criação de um Estado plurinacional, com o qual sua autonomia e direitos sejam aceitos. Além disso, levantam a necessidade de garantias territoriais e de reconhecimento de sua cultura e língua. 

O reconhecimento constitucional dos povos indígenas e a inclusão de direitos garantidos e reconhecidos na Constituição, além de deterem forte efeito simbólico, garantirão a incorporação como direito positivado. 

Outras temáticas, como o meio ambiente e direito à água, devem ser discutidas vigorosamente pela  nova Constituinte. O perfil político-ideológico dos membros eleitos para este pleito e as reivindicações populares confirmam que os chilenos querem mudanças profundas no país. 


Quem é Regiane Bressan?

Regiane Bressan é professora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e especialista em Política Internacional e Relações Internacionais.

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Denilde Holzhacker: Nova Constituição chilena: velhos e novos dilemas https://canalmynews.com.br/dialogos/denilde-holzhacker-nova-constituicao-chilena-velhos-e-novos-dilemas/ Fri, 21 May 2021 21:03:16 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/denilde-holzhacker-nova-constituicao-chilena-velhos-e-novos-dilemas/ A Constituinte – a primeira com igualdade de gênero – tem a oportunidade de avançar no sentido da justiça social e do desenvolvimento sustentável

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As manifestações populares que eclodiram no Chile, em 2019, um dos países considerados mais estáveis na região, desencadearam o movimento para substituição da Constituição, aprovada nos anos 1980 durante ditadura de Augusto Pinochet, e que representa as profundas disparidades econômicas e sociais no país.  

Após a vitória dos apoiadores da mudança constitucional no plebiscito realizado em 2020, a segunda fase do processo aconteceu nos dias 15 e 16 de maio, com a eleição dos 155 representantes que irão elaborar a nova Carta Magna. 

O baixo comparecimento, apenas 47% dos chilenos votaram, revela apatia frente a um processo que trará mudanças na organização política, econômica e social no país.  As restrições impostas pela pandemia explicam em parte essa baixa participação, no entanto, 51% dos eleitores votaram no plebiscito em 2020 (também com as restrições da Covid-19). A insatisfação em relação aos políticos tradicionais e o sistema partidário manifesta-se também na composição ideológica dos representantes eleitos.

O ruim desempenho dos candidatos da Coalizão Chile Vamos, associada ao governo do presidente Piñera, frustrou seus aliados e os setores empresariais. A Coalizão Chile Vamos elegeu 37 representantes e não terá poder de veto, pois seriam necessários 52 assentos (1/3 dos votos). 

Já os candidatos independentes elegeram 48 representantes, sendo composto por ativistas e membros de movimentos ambientais, feministas, organizações sociais e comunitárias. Os indígenas terão 17 representantes. As coalizões dos partidos de esquerda tiveram bom desempenho. A aliança Concertación (composta por composto por democratas cristão e centristas) obteve 25 assentos e Esquerda Alternativa (Partido Comunista e Frente Ampla) alcançou 28 cadeiras. 

O perfil da maioria das e dos constituintes (independentes, indígenas e de esquerda) reforça os temores do setor privado e investidores externos quanto ao caráter mais intervencionista que a nova Constituição trará para o país, alterando profundamente o papel do Estado e a atuação da iniciativa privada no país. Os temas mais controversos envolvem as discussões a respeito das privatizações nos setores de saúde e educação, a previdência social e a regulação sobre terras e uso da água. Por outro lado, a esquerda e ativistas argumentam que atual modelo reforça a exclusão e desigualdade social, sendo necessário construir um Estado que atenda os interesses das populações mais vulneráveis. 

Dessa forma, a Constituinte – a primeira com igualdade de gênero – tem a oportunidade de avançar no sentido da justiça social e do desenvolvimento sustentável.  Além disso, o Chile poderá alterar a experiência Constitucional na América Latina, com fortalecimento das instituições democráticas de forma mais inclusiva. O atual debate sobre novos modelos de capitalismo, baseados em uma economia ambientalmente consciente, práticas inclusivas e socialmente responsáveis podem ser inspiração para os debates nesses próximos meses no Chile. 

O momento é propício para os chilenos elaborarem um Carta Magna que reflita as transformações do século XXI e supere os dilemas econômicos e políticos históricos que persistem na América Latina. 


Quem é Denilde Holzhacker?

Denilde Holzhacker é doutora em Ciência Política e Coordenadora do Núcleo de estudos e negócios americanos da ESPM.

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A relação entre a ditadura de Pinochet e os protestos recentes no Chile https://canalmynews.com.br/vip/a-relacao-entre-a-ditadura-de-pinochet-e-os-protestos-recentes-no-chile/ Fri, 30 Apr 2021 15:07:49 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/a-relacao-entre-a-ditadura-de-pinochet-e-os-protestos-recentes-no-chile/ Segundo episódio da série sobre América Latina do MyNews Traduz trata do processo de redemocratização do Chile

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O apoio do Brasil à ditadura de Pinochet no Chile https://canalmynews.com.br/mais/o-apoio-do-brasil-a-ditadura-no-chile/ Sun, 14 Feb 2021 15:17:57 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/o-apoio-do-brasil-a-ditadura-no-chile/ Livro conta como a ditadura brasileira apoiou a ditadura chilena de Augusto Pinochet

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Nove anos após o golpe de 64 no Brasil, o Chile sofreu um golpe de Estado, em 1973, que tirou o então presidente Salvador Allende do poder e colocou Augusto Pinochet no comando de uma das mais violentas ditaduras da América do Sul. E o regime militar brasileiro apoiou o golpe no Chile. A relação entre as duas ditaduras é narrada no livro “O Brasil contra a Democracia: a ditadura, o golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul”, do jornalista e analista internacional Roberto Simon.

O apoio do Brasil à ditadura de Pinochet no Chile. Fonte: Cia das Letras

O livro é resultado de 7 anos de pesquisa em milhares de arquivos chilenos, americanos e brasileiros. Em entrevista a Hermínio Bernardo, no MyNews Entrevista, o autor contou que no momento do golpe no Chile, tanto os documentos secretos quanto conversas de bastidores de membros da junta militar que assumiu o poder fazem referência a “um tal modelo brasileiro”. “O que era esse modelo brasileiro? Era um regime militar anticomunista que derrubaria o presidente que suspostamente estava levando o país ao socialismo, pra instaurar a ordem e o progresso conservador, um progresso ‘controlado’”, conta Roberto Simon.

Ele conta que houve apoio material brasileiro no momento do golpe e na construção do regime de Augusto Pinochet. E o Itamaraty teve atuação nisso. “O livro mostra uma realidade distinta na qual a chancelaria brasileira tinha agências de repressão, agências de inteligência dedicadas a vigiar exilados no exterior, a recrutar informantes entre esses exilados e a transmitir essas informações para SNI, para outras agências de repressão do regime, agências como a Divisão de Segurança e Informação do Itamaraty ou o próprio Centro de Informações do exterior. Então, o Itamaraty era institucionalmente parte da repressão a brasileiros fora das fronteiras nacionais”, diz.

No Estádio Nacional, no Chile, eram colocadas as pessoas presas pelo regime de Pinochet, inclusive brasileiros que estavam exilados no país. O livro contara que o Brasil enviou agentes da repressão que atuaram no local.

Brasil e Chile: a relação entre as duas ditaduras

Veja abaixo a íntegra da entrevista:

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