Arquivos ditadura miitar - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/tag/ditadura-miitar/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Fri, 24 May 2024 14:55:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Guerra das Malvinas aproxima militares e Milei https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/guerra-das-malvinas-aproxima-militares-e-milei/ Thu, 04 Apr 2024 13:02:24 +0000 https://localhost:8000/?p=42828 Presidente argentino pede "reconciliação com militares" em comemoração dos 42 anos do conflito

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Na semana em que os argentinos rememoram o início da Guerra das Malvinas, em 2 de abril de 1982, o presidente Javier Milei chamou as Forças Armadas a uma “nova era de reconciliação”, que faria parte de um de seus projetos algo utópicos de declarar um Pacto de Maio, no mês da independência argentina, do qual participariam todos os governadores, todos os partidos e, agora, também o Exército.

A relação de Milei com os direitos humanos significa uma guinada numa área em que a Argentina é vanguardista. O país já condenou a mais de mil repressores, e, ainda nos anos 1980, elaborou as primeiras listas de desaparecidos e colocou os líderes do regime militar (1976-1983) no banco dos réus, durante o Julgamento das Juntas, retratados no filme “Argentina, 1985”.

A opinião sobre o período ditatorial do mandatário é explicada parafraseando as palavras do comandante da Marinha, Emilio Massera, que liderou a tortura e as desaparições dos anos de chumbo. Milei defende a ideia de que o golpe militar foi produto de uma guerra, equiparando a violência do Estado com a dos guerrilheiros, o que não é aceito pelos principais organismos de defesa dos direitos humanos.

O próprio Estatuto de Roma estabelece que os crimes cometidos por civis prescrevem, mas os cometidos pelo Estado, não. Por isso, na Argentina, eles vêm sendo julgados até hoje.

Ao relativizar esse consenso, Milei abre as portas para que, em primeiro lugar, seja iniciado um processo de julgamento dos ex-guerrilheiros (como Montoneros e o ERP), em segundo, que se inicie o corte dos aportes que o governo faz a instituições como as Mães e as Avós da Praça de Maio, e, em terceiro, para uma ação muito mais polêmica, porém defendida por sua vice, Victoria Villarruel, de começar a anistiar os repressores militares presos. Villaruel é filha de um militar que batalhou na Guerra das Malvinas.

Neste sentido, reivindicar os militares e pedir uma conciliação está em sintonia com esse movimento de reaproximação dos mesmos à política.

Depois da Guerra e do fim da ditadura, os militares saíram de campo desmoralizados. Haviam perdido o conflito de forma vergonhosa, mandando 648 rapazes argentinos a morrer nas ilhas, e entregavam ao primeiro presidente democraticamente eleito, Raúl Alfonsín (1983-1989), um país quebrado economicamente. 

Desde então, os militares nunca mais opinaram nem participaram das decisões políticas. Pelo menos até agora. 

Sobre as Malvinas, de modo mais específico, há muito que pode ser feito para melhorar a vida tanto dos argentinos como dos islenhos. 

É certo que há um artigo importante da atual Constituição argentina que afirma que é dever de todo mandatário nunca deixar de lutar pela soberania das ilhas. Todos os ex-presidentes e o atual jamais deixaram de reafirmar que defenderiam essa bandeira, a única que une a todos os argentinos, da esquerda à direita.

O caso é que a discussão pela soberania está travada num dilema difícil de romper. Se por um lado existe de fato uma resolução das Nações Unidas, dos anos 1960, de que ambos os países, Argentina e Reino Unido, deveriam negociar a questão da soberania das ilhas; ,de outro, o Reino Unido considera que essa decisão não tem mais vigência depois que, de fato, a Argentina invadiu as ilhas. Afinal, houve uma guerra, e a Argentina saiu derrotada. 

De lá para cá, houve diferentes posições dos governos argentinos com relação a como atuar diante das Malvinas. Por exemplo, na gestão de Carlos Saúl Menem (1989-1999), houve gestos de aproximação com o governo e a população da ilha, como a promoção de eventos entre os dois países, e os voos especiais para levar familiares de vítimas a finalmente visitarem a sepultura de seus filhos. Durante a ditadura, foi proibido tentar trazer os corpos dos argentinos mortos para serem enterrados no país. Eles estão, até hoje, num cemitério inóspito onde o vento não para de soprar. Nos anos 1990, foram realizados voos para levar esses familiares a conhecer as tumbas de seus seres queridos. 

Já no período kirchnerista, a coisa ficou mais difícil, pois Cristina Kirchner foi mais hostil aos islenhos e reivindicou as Malvinas de modo aberto em diversos fóruns. Os islenhos não ficaram quietos e fizeram um referendo apenas para provar ao governo argentino que queriam continuar a ser parte do Reino Unido. A proposta saiu vencedora com mais de 90% dos votos. 

Nos últimos anos, uma iniciativa ainda mais interessante foi levada adiante, o trabalho de identificação dos corpos no cemitério de Darwin, que antes não existia. Cada soldado morto e enterrado na ilha aparecia identificado apenas como “Soldado argentino, apenas conhecido por Deus”. Os argentinos, vanguardistas também no que diz respeito à antropologia forense, fizeram um trabalho de exumação e análise de DNA, e hoje a maioria das sepulturas leva o nome do soldado que lá está. As famílias foram levadas até as ilhas, e pela primeira vez puderam chorar nos túmulos de seus filhos e irmãos. 

Enquanto a questão do debate da soberania parece impossível de resolver _os islenhos se consideram originais das Falklands (como chamam as ilhas) e muitas famílias estão lá há mais de nove gerações_ gestos como esses são muito mais eficientes. 

Por exemplo, seria possível incrementar o acesso às ilhas, hoje apenas feito pelo Chile ou por um raro voo que sai de Río Gallegos. Todos os insumos e medicamentos que os islenhos precisam, ou vêm de Santiago ou de Londres.

Se viessem de Buenos Aires ou mesmo de São Paulo, custariam bem menos. Também nada impede que garotos das Malvinas possam estudar na Argentina, em vez de serem enviados ao interior da Inglaterra aos 17 anos para completar a faculdade, barateando os custos para o governo local, que hoje custeia toda a educação universitária dos nascidos nas Malvinas/Falklands. E os argentinos poderiam se beneficiar também em termos de ciência, pesca e eventos culturais e esportivos _tanto as ilhas como o continente adoram o futebol e o rugby.

Mais que de grandes decisões e negociações políticas para destravar a questão da soberania, ambas as sociedades, a Argentina e a dos habitantes das Falklands/Malvinas, poderiam trabalhar por um intercâmbio cotidiano, como ocorria antes da invasão das ilhas, beneficiando a ambas populações.

Usar a narrativa da Guerra para ganhar apoio político e, no caso de Milei, chamar os militares para ter um papel mais protagonista no governo, não parece ser o melhor caminho.

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Noite de 13 de dezembro de 1968. https://canalmynews.com.br/balaio-do-kotscho/noite-de-13-de-dezembro-de-1968/ Wed, 13 Dec 2023 15:21:13 +0000 https://localhost:8000/?p=41763 Há 55 anos, o Brasil entrava no Ato Institucional Nº 5, o golpe dentro do golpe da ditadura militar

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Há 55 anos, o Brasil entrava no Ato Institucional Nº 5, o golpe dentro do golpe da ditadura militar

“O BRASIL ENTRA NO 5º ATO”, assim mesmo, em caixa alta, foi a manchete da antológica edição do Jornal da Tarde, o vespertino do Grupo Estado, como se estivéssemos assistindo a uma ópera macabra. O matutino, hoje centenário, chamado de Estadão, era o maior jornal do país na época, e o que mais combateu e resistiu ao golpe do AI-5.

Iniciei lá minha carreira na grande imprensa, no início de 1967, com 18 anos. Eu estava lá naquela noite. Muita gente já esqueceu, inclusive o Estadão, que hoje não publica nenhum registro sobre a data.

Mais recentemente, o jornalão encolheu fisicamente, ficou mais mirrado e irrelevante na cena política do país. Em 1968, o diretor-responsável ainda era úlio de Mesquita Filho, o dr. Julinho, uma figura altiva, que era venerada por seus colaboradores, mesmo os que não comungavam do seu credo político. Os Mesquita hoje já não comandam a redação, dirigida por Eurípedes Alcântara. Seus nomes aparecem apenas no Conselho de Administração.

Eles podem ter esquecido, mas eu não esqueço o que foi aquela longa noite, que se prolongaria por muitos anos, com dezenas de cassações de mandato de adversários políticos, prisões, torturas e mortes nas masmorras do DOI-CODI, a sinistra sigla da repressão exercida pelos militares.

Para lembrar como tudo começou, recorro mais uma vez ao meu livro de memórias “Do Golpe ao Planalto – Uma Vida de Repórter”, da Companhia das Letras, 2006.

 

“Parem as máquinas!”

O pior ainda estava por acontecer. Na madrugada de 13 de dezembro, dia em que o general Costa e silva editou o Ato Institucional Nº 5, o principal editorial do jornal, na página 3, trazia o premonitório título “Instituições em frangalhos. Informado por algum dos vários colaboradores do regime infiltrados na redação, o delegado Silvio Correia de Andrade, da Polícia Federal, invadiu a oficina, que dava para a rua Martins Fontes, e gritou a ordem: “Parem as máquinas!”

Em seguida, determinou aos policiais que o acompanhavam a apreensão de todos os exemplares já prontos para a distribuição. Pela primeira vez, desde o golpe, o Estadão deixou de circular. Logo cedo, os irmãos Julio Mesquita Neto e Ruy Mesquita foram se queixar ao governador Abreu Sodré, um amigo da família nomeado para o cargo pelos militares. Comunicaram-lhe que o jornal não mudaria sua linha editorial, agora de oposição ao regime. No começo da noite, dois policiais à paisana da Divisão de Diversões Públicas da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo chegaram à redação para “examinar o noticiário político”. Era o início oficial da censura prévia. Enquanto eles se aboletavam em volta da mesa de Oliveiros Ferreira, o secretário de redação, nós nos reuníamos para ouvir o pronunciamento de Costa e Silva num rádio portátil posto sobre a mesa do chefe e editor de reportagem, Clóvis Rossi.

No silêncio do ambiente destacava-se a voz grave do general, que não deixava nenhuma dúvida nas suas palavras: meninos, a brincadeira acabou. O Brasil entrava no 5º ato. Era um golpe dentro do golpe _ a ditadura total, sem disfarces, com mais cassações de mandatos, fechamento do Congresso Nacional e fim das liberdades e dos direitos in individuais, começando pela censura prévia. Ao recordar este episódio, muitos anos depois, Oliveiros me contou que Carlão Mesquita, o nosso amigo diretor, só se zangou quando um contínuo serviu café aos censores. Voltei para a minha mesa e continuei a escrever, como se nada estivesse acontecendo. Sem alternativa, eu e meus colegas da reportagem terminaríamos outra noite num bar. Professor da USP, Oliveiros previu um longo e feroz período de ditadura.

 

E pensar que, até hoje, tem gente com saudades daquele tempo, sonhando com a volta dos militares ao poder. Bem que tentaram, no governo passado, de triste lembrança, mas como já ensinava Karl Marx, “a História se repete, a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa”. Ainda bem que, desta vez, foi uma farsa encenada por incompetentes, que acabou no 8 de Janeiro, outra data a ser lembrada para que nunca mais se repita.

Vida que segue.

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