Até hoje, quase 40 anos depois da redemocratização, militares que torturaram e mataram dissidentes não foram julgados e punidos pelos crimes que cometeram
por Sofia Pilagallo em 11/07/24 10:33
Sofia Pilagallo entrevista o ex-preso político Maurice Politi | Foto: Reprodução/MyNews
A sensação de impunidade por parte dos agentes do Estado é um legado nefasto que a ditadura nos deixou, afirmou ao MyNews o ex-preso político da ditadura militar Maurice Politi, que é também diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política (NM). Até hoje, quase 40 anos depois da redemocratização, militares que torturaram e mataram dissidentes não foram julgados e punidos pelos crimes que cometeram — ao contrário do que aconteceu em países vizinhos ao Brasil que também passaram por ditaduras.
Em países como a Argentina, que viveu um período de repressão ditatorial entre 1976 e 1983, há mais de 200 generais presos, alguns sob pena de prisão perpétua. Já no Brasil, a Lei da Anistia, promulgada em 1979, embora tenha pavimentado o caminho para a redemocratização, com a soltura de presos políticos e o retorno dos exilados, perdoou agentes da repressão.
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“Na questão da Justiça, o Brasil ainda está muito aquém de vários países vizinhos, como Argentina, Chile e Uruguai, onde agentes da repressão foram julgados e punidos”, diz Maurice.
“Não é à toa que dizemos que um dos legados que a ditadura nos deixou é a sensação de impunidade pelos agentes do Estado, tanto os militares quanto hoje os policias, que invadem favelas e matam. No fundo, eles pensam: ‘Se 50 anos atrás, mataram, torturaram e não aconteceu nada, por que vai acontecer comigo?”, acrescenta.
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A fala de Maurice ecoa o posicionamento do cientista político Pedro Fassoni Arruda, professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que participou do Segunda Chamada na última sexta-feira (5). Na ocasião, ao comentar o caso do cantor Sérgio Reis e do deputado Zé Trovão (PL), indiciados na semana passada por incitação a atos antidemocráticos, em setembro de 2021, ele disse que “as Forças Armadas saíram do governo, mas não deixaram completamente o poder”.
Para ele, a influência da instituição se reflete até os dias de hoje, com o “entulho autoritário” que perdurou mesmo após o fim da ditadura militar, em 1985. No Brasil, não houve propriamente justiça de transição, que é o conjunto de medidas adotadas para enfrentar um passado de ditadura. Por isso, hoje, “muitas pessoas se sentem hoje no direito de ir às ruas pedir intervenção militar”.
Assista abaixo a entrevista completa com o ex-preso político Maurice Politi:
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