Classe política critica fala de Bolsonaro sobre Forças Armadas, ditadura e democracia

Em um encontro com apoiadores na manhã desta segunda-feira (18), em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que “quem decide se um povo vai viver numa democracia ou numa ditadura são as suas Forças Armadas”. Referindo-se ao não reconhecimento do valor atribuído aos militares, o mandatário alegou que, no Brasil, “temos liberdade ainda”, mas “tudo pode mudar”.

A declaração foi registrada em vídeo e publicada, com cortes, nas redes sociais. Um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro (Republicanos), que é vereador no Rio de Janeiro, foi um dos responsáveis pelo compartilhamento dos trechos na internet.

A manifestação presidencial repercutiu negativamente nas redes e veículos de comunicação. Ela foi condenada por lideranças políticas, representantes públicos, analistas políticos e críticos da atual gestão federal. Até mesmo figuras representativas de ideologias opostas externaram posicionamentos parecidos mediante a fala do presidente.

Como justificativa, Bolsonaro, sem citar procedências, disse ainda que “querem levar o Brasil para o socialismo”, sucateando, para esse fim, as Forças Armadas. “Por que sucatearam as Forças Armadas ao longo de 20 anos? Porque nós militares somos o último obstáculo para o socialismo”, concluiu o presidente.

Reações rigorosas

O governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), protagonista de um embate político direto com Jair Bolsonaro, justificou a declaração, em português e inglês, como uma verdadeira afronta à democracia brasileira. “Sua índole autoritária tem o repúdio dos brasileiros de bem, que condenam sua tentativa de violar nossa Constituição”, comunicou.

Joice Hasselmann, deputada federal paulista pelo PSL (ex-partido de Bolsonaro), aproveitou-se de uma fala do jornalista William Waack para dizer, indiretamente, que o recente posicionamento do presidente se deve ao fracasso no enfrentamento da pandemia e do programa de vacinação. Quanto à garantia das liberdades democráticas, a parlamentar ponderou: “Temos uma Constituição.”

Para a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, Bolsonaro “volta às bravatas ideológicas e flerta com o autoritarismo”. Em defesa do Estado Democrático de Direito, a deputada complementou sua desaprovação afirmando que nós, brasileiros, “vivemos numa democracia e ameaças devem ser refutadas veementemente”.

Deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo incumbiu parte do julgamento às Forças Armadas, que, segundo o parlamentar, se calou após a fala presidencial: foram “usadas mais uma vez por Bolsonaro para ameaçar a democracia”.

Como recurso, Freixo sugere o afastamento imediato do presidente das funções administrativas. “O campo democrático precisa reagir imediatamente e começar o processo de impeachment já”, finalizou.

Utilizando-se do perfil oficial do partido, Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, publicou um vídeo desautorizando a ocorrência. Em pouco mais de um minuto, o político caracterizou a estruturação organizacional do Governo Federal como incompetente, ignorante e despreparada.

Logo no início do conteúdo, Lupi diz que “mais uma vez, o profeta da ignorância, o senhor Bolsonaro, tenta desviar a atenção da sua incompetência”, referindo-se ao desgoverno frente à crise sanitária. Assim como Freixo, o presidente do PDT requisitou a exoneração do presidente: “Bolsonaro, as Forças Armadas não são suas! Chega de incitação ao autoritarismo. #ImpeachmentJá”.