Pedido de Anistia do ex-presidente é tema da coluna de Rodrigo Augusto, no MyNews
No dia 16 de março de 2023, ocorreu em Copacabana uma manifestação organizada por apoiadores de Jair Bolsonaro, com foco na anistia dos presos após os eventos de 8 de janeiro. Para muitos analistas e adversários políticos, o ato foi um fracasso, distante da expectativa de reunir 1 milhão de pessoas. Pesquisadores da USP estimaram que o número de participantes no auge do ato foi de cerca de 18.300 pessoas.
Embora a manifestação tenha ficado aquém das expectativas em termos de público, é inegável que o bolsonarismo permanece ativo. No entanto, sua força não é mais a mesma de quando Bolsonaro estava no poder, com a estrutura, apoio logístico e recursos financeiros que impulsionavam os atos. Mesmo entre as lideranças do Centrão e dos partidos que apoiam o ex-presidente, há uma visão fria sobre o evento. Para muitos, a manifestação não visa os presos de 8 de janeiro, mas sim dar continuidade aos ataques do ex-presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a Alexandre de Moraes.
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Caso a anistia seja concedida, a conexão jurídica pareceria beneficiar diretamente Bolsonaro, que, provavelmente, responderá por seu papel na tentativa de golpe de Estado e na ruptura violenta do Estado Democrático de Direito.
Em Copacabana, estavam presentes líderes do PL e outros aliados de Bolsonaro, mas a presença de figuras de peso foi modesta, refletindo as atuais condições políticas do ex-presidente. Bolsonaro foi derrotado por Lula, está inelegível e enfrenta sérios desafios jurídicos. Suas condições políticas se deterioraram desde a derrota nas eleições de 2022, e agora enfrenta investigações mais sérias, como o relatório da Polícia Federal e a denúncia do Procurador Geral da República.
Diferente de outras manifestações bolsonaristas, o ato em Copacabana não teve a virulência habitual. As críticas mais agressivas foram, como de costume, terceirizadas para o Pastor Silas Malafaia. No entanto, dois políticos presentes merecem destaque: o deputado Nikolas Ferreira e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Nikolas Ferreira, em suas declarações, questionou se seria obrigatório achar os petistas bonitos e afirmou que “Bolsonaro salvou o Brasil do comunismo”. Além disso, ele disse que os presos de 8 de janeiro “estão perdendo a vida”. Um ponto crítico em suas falas foi a afirmação de que “Moraes não tem voto de nenhum cidadão brasileiro”. Embora seja verdade que Alexandre de Moraes, como ministro do STF, não tenha voto, essa declaração busca deslegitimar o Poder Judiciário, o que é preocupante em uma democracia. A Constituição brasileira estabelece que os três Poderes são equipotentes e devem atuar em harmonia, com o Judiciário exercendo suas funções dentro de sua esfera.
O governador Tarcísio de Freitas também fez duras críticas a Lula e à inflação, e defendeu a candidatura de Bolsonaro para 2026. No entanto, ele também fez um comentário polêmico ao afirmar que “inocentes receberam penas desarrazoadas” nas decisões do STF. Essa fala, que parece desconsiderar o trabalho do Judiciário, é parte da narrativa de que as punições aos apoiadores de Bolsonaro são uma perseguição política e jurídica. O governador, consciente da necessidade de apoio dos eleitores bolsonaristas, continua a linha de ataque ao STF.
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Embora Bolsonaro ainda seja uma figura política relevante, ele enfrenta as consequências de seu estilo de governo confrontador. A principal acusação contra ele é a tentativa de desrespeitar as regras democráticas e tramitar um golpe de Estado. Seus apoiadores, como os presentes em Copacabana, permanecem fiéis, mas a pergunta que fica é: quem substituirá Bolsonaro, considerando sua inelegibilidade e os problemas jurídicos que enfrenta? Ele ainda possui capital político, mas não parece ter condições de retornar ao Planalto no curto ou médio prazo.
O ano de 2025 promete ser um período decisivo para a política brasileira.