Governo Americana divulga trecho sobre Golpe no Brasil seis meses antes do ocorrido
O governo americano divulga documentos que mencionam a participação dos Estados Unidos no debate sobre o golpe de 1964. Em um deles, o então presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, conta ao embaixador Lincoln Gordon que está “profundamente desconfiado” das intenções do presidente João Goulart em relação ao futuro do Brasil.
Aliás, a conversa entre o parlamentar brasileiro e o diplomata americano ocorreu seis meses antes da tomada do poder pelos militares. Na ocasião, Mazzilli ocupava a primeira posição na linha sucessória da Presidência da República.
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Desse modo, o arquivo faz parte de um conjunto de mais de 2 mil documentos relacionados à investigação do assassinato do presidente americano John F. Kennedy, publicados na terça-feira (18). O material inclui relatórios de diversos órgãos americanos, como a CIA e o FBI.
Conversa entre deputado e embaixador antes do golpe — Foto: Reprodução/Arquivo Nacional dos EUA
Segundo as informações disponíveis, a CIA alertava que o Brasil vivia um cenário de instabilidade política e poderia passar por um golpe de Estado, o que acabou acontecendo. Durante a Guerra Fria, os americanos temiam que João Goulart buscasse alianças com países comunistas, como Cuba e União Soviética.
“Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados e próximo na linha sucessória para a presidência, disse ao embaixador Gordon no sábado que desconfia profundamente das intenções de Goulart”, afirma o documento americano.
“Nossa estação no Brasil acredita que Goulart está vivendo em um mundo de fantasia. Ele parece estar desconectado da realidade ou muito mal-informado. A opinião pública não está com ele, e a tradição de que o poder político só deve ser transferido constitucionalmente é muito forte no exército”, diz outro trecho da documentação.
Contudo, seis meses após o encontro entre Gordon e Mazzilli, os militares derrubaram o governo Goulart. Mazzilli assumiu a presidência provisoriamente por duas semanas, até a posse do general Castelo Branco, primeiro presidente da ditadura. Depois, seguiu como deputado federal por São Paulo até 1967 e faleceu em 1975.