Eduardo Rajabally revela os bastidores de “Volta, Priscila” e a luta da família por respostas Fotos: Arquivo pessoal de Eduardo Rajabally

Eduardo Rajabally revela os bastidores de “Volta, Priscila” e a luta da família por respostas

Série mostra detalhes do desaparecimento da jornalista e irmã do lutador Vitor, em 2004, no Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, 9 de janeiro de 2004. Priscila Belfort, irmã do lutador Vitor Belfort, desapareceu no Centro da cidade sem deixar rastros. Ela trabalhava na região, saiu para almoçar e nunca mais retornou ao trabalho, nem para casa. Desde então, inúmeros questionamentos surgiram, mas até hoje ninguém obteve respostas.

No ano de 2024, o aplicativo de streaming Disney lançou a série “Volta, Priscila”, que aborda tudo o que ocorreu após o sumiço, incluindo a busca da família e demais situações. Ao MyNews, Eduardo Rajabally explicou como surgiu a oportunidade de produzir o conteúdo e destacou sua importância.

R:A série Volta Priscila surgiu pelas mãos da Bruna Rodrigues, pesquisadora e diretora de conteúdo da série, que fez toda a aproximação com a família Belfort. E depois, com a Prodigo Films, parceiros de longa data que me trouxeram para o projeto. Acho que a série me chamou a atenção por se tratar de um drama familiar sem fim – o desaparecimento é uma dor que se renova diariamente, como diz D. Jovita Belfort, mãe da Priscila. Você não passa pelos processos naturais da morte, do luto, da memória e da saudade. O desaparecimento é uma ferida aberta.

Após anos lidando com assuntos difíceis, senti que era hora de abordar esse tema complexo, trazendo delicadeza e respeito pela família e pela memória da Priscila.

O outro ponto importante dessa série é chamar a atenção para os milhares de desaparecidos brasileiros e para a falta de políticas públicas nacionais unificadas. Essa é uma luta atual da família Belfort que precisamos todos abraçar”

Esperança da família em saber o que houve com Priscila ainda existe

Em entrevistas e na série, a família de Priscila mantém a esperança de descobrir o paradeiro e entender o que aconteceu com ela. Aqui, Eduardo relata como foi o contato com os familiares e se houve alguma restrição.

R:Minha forma de trabalho é mais lenta que o habitual, dando tempo para que todos se acostumem e estejam confortáveis com o processo de pré-produção e a filmagem. Estou ali para poderem se expressar como e quando quiserem, com segurança. Esse ato de escuta absoluta é fundamental. Essa ponte precisa ser construída. Assim, os contatos com a família foram sempre muito respeitosos, construindo essa confiança mútua. Meu compromisso é sempre com as pessoas as quais escuto.

Dessa forma, esses conteúdos surgem de maneira espontânea, sem grandes pressões ou direcionamentos incisivos. Minha busca é pela simplicidade e naturalidade sempre. É um método que, para mim, tem se provado muito eficiente e emocionante.

O cineasta fala sobre como a imprensa aborda o assunto

Jornalista de formação, Eduardo também é cineasta. Assim, comenta sobre como a imprensa aborda esse tema e outros casos semelhantes.

R:De fato, me formei em jornalismo, mas desde 1996 não estou na área. Então, hoje não me vejo como jornalista, embora algumas das ferramentas documentais que utilizo tenham características da prática jornalística. Acho que a imprensa, de modo geral, corre sempre atrás da manchete, da próxima grande notícia. E, depois, acaba “virando a página” e tratando de outros assuntos. No caso dos desaparecimentos é ainda mais complicado, porque é um assunto que “não rende” grandes manchetes ou reportagens. Exige investigações mais profundas e longas, com maior investimento de recursos”

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Eduardo também comenta sobre a abordagem política nacional em relação ao desaparecimento de pessoas no Brasil e destaca a luta da mãe de Priscila.

R:D. Jovita Belfort hoje se dedica integralmente a trabalhar com a causa dos desaparecidos e pela unificação das políticas públicas, com o estabelecimento de um cadastro nacional que reúna todos os nomes e dados de pessoas desaparecidas. Infelizmente isso ainda não é uma realidade num país tão vasto e desconectado como o nosso. Acho que ainda há muito a ser feito para amenizar o sofrimento de milhares de famílias pelo país”.

Crescimento de True Crime no Brasil

No Brasil, conteúdos de True Crime têm crescido e conquistado sucesso. Eduardo classifica o que considera essencial em uma série e os elementos mais procurados pelo público.

R:O que não pode faltar é a emoção. A sensação de que realmente aquelas pessoas retratadas estão inteiramente à vontade para se expressarem. Claro que o contexto e as informações precisam ser precisos. A forma narrativa de passar isso para o público durante a série também.

Mas, acima de tudo, minha preocupação maior é proporcionar uma experiência forte para quem assiste. Para que todos possamos sentir e experimentar, mesmo que de longe e na imaginação, a dor daquela família. Quando buscamos histórias, queremos espelhos para podermos vivenciar por alguns instantes outras realidades e, ali, aprender. Viver e ter compaixão pela dor do outro pode ser um enorme aprendizado”

Por fim, Eduardo Rajabally destaca sua carreira e principais realizações. Além da série sobre Priscila, ele também liderou a produção da série Vidas Roubadas, disponível no Globoplay.

Carreira de Eduardo e outras produções

R:Meu nome é Eduardo Rajabally, estou no audiovisual há 28 anos, e como diretor de documentários e séries há mais de 25 anos. Uma coleção de muitas experiências e de ver esse mercado crescer e se profissionalizar. Nesse tempo todo, pude filmar em todos os estados brasileiros, na América Latina, EUA, Europa e Ásia, trabalhando para os principais canais e streamings. Hoje, minha preocupação maior é transformar cada projeto em algo único, sempre me reinventando e buscando novas formas de expressão e de aprendizado.

Ao longo da minha carreira pude, gradualmente, direcioná-la para os assuntos que mais me interessam: temas socioambientais, mudanças climáticas, investigações de todo tipo, estudos sobre o mundo, os seres humanos, a sociedade e os tempos em que vivemos. O que gosto mais de fazer é conviver com outras pessoas, outras realidades e universos; e poder ouvi-las. Nada supera uma entrevista bem feita.

O ano de 2024 foi bem produtivo. Lancei vários trabalhos de formatos e temáticas bem diferentes: as séries True Crime “Vidas Roubadas” (sobre tráfico infantil internacional), no Globoplay, e “Volta Priscila”, para Disney+; as séries documentais “Arquitetos do Som”, sobre a arte de luthiers brasileiros, e “Sobre_Vivências”, sobre as principais questões do século XXI; o documentário-longa “Sociedade de Ferro”, sobre a indústria da mineração e a poesia de Drummond; e o documentário para TV “Grãos de História”, sobre produtores de cafés especiais em Minas. “Made in Dafen”, longa filmado na China sobre pintura, estreou em 2025. Atualmente, estou finalizando uma nova série sobre fotógrafos socioambientais para a HBO”, concluiu ao MyNews.

Para quem quiser acompanhar mais do seu trabalho:

Site profissional: www.rajadocs.com

Instagram: @e.rajabally

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