“Um Papa que tocou nas feridas do mundo, nas feridas humanas” Canal MyNews realiza programa especial sobre a morte do Papa Francisco | Imagem: Arte/MyNews FRANCISCO DE TODOS

“Um Papa que tocou nas feridas do mundo, nas feridas humanas”

Religiosos e intelectuais falam do Bregoglio agente social, conhecedor da Igreja, da simpatia, do sorriso, da profundidade e da brincadeira de cachaça com os brasileiros.

São muitas as faces de Francisco Bergoglio, do cidadão comum próximo dos demais, de um agente social profundo, de um entendedor do funcionamento da Igreja Católica e de como colocá-la no cenário mundial, da simpatia, do sorriso, da profundidade e da brincadeira de cachaça com os brasileiros.

O Canal MyNews promoveu uma roda de debates com religiosos, cientistas sociais, historiadores sobre o Papa Francisco. Nesse encontro, foram colocadas essas “camadas” do Pontífice. Algumas falas se destacam, como a coragem de tocar em todos os temas, sem qualquer receio.

O Frei Davi, da Educafro, falou que o momento é de reflexão, provocado pela morte de Francisco, e faz uma relação de religião e política, criticando uma Igreja Católica de direita radical.

“Há uma direita bonita, sincera, e outra direita complicada, que vende a imagem de um Papa que deixou o legado de comunismo. Essa segunda parte da igreja, a extremista, precisa ser convertida, quem sabe como o primeiro milagre do Papa Francisco, que converta essa direita que o perseguiu. Vemos as religiões de todo o mundo elogiando o Papa, todos vendo o lado bom do Evangelho”.

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Para o frei, Francisco discutiu muito a vocação, dada a fragilidade da Igreja Católica, perdendo seguidores no mundo, avalia.

“Aponte uma só igreja evangélica, algum espaço de candomblé ou espírita, ou alguma expressão judaica que reclamam, que rezam para Deus pedindo que mande vocações? Esse problema de falta de vocação tem atingido a Igreja Católica. Precisamos enxergar esse problema”, diz o franciscano.

O primeiro Papa do “submundo”

O padre Diego Antônio da Silva, pároco do Arraial D´Ajuda, em Porto Seguro (BA), citou a reforma promovida pelo Pontífice na Igreja Católica, sem usar da autoridade, mas de um modo sutil e delicado. O religioso diz que Francisco assumiu o Vaticano no momento, na hora e com o jeito certo.

“Respeitou a dignidade humana e a sacralidade da vida. Por isso é admirado por diferentes religiões. Mais que um líder foi um grande influenciador da fé, da esperança e da prática do bem comum”, disse o padre Diego.

Diego lembrou que Francisco foi o primeiro Papa latino-americano, primeiro jesuíta, o primeiro do “submundo”. Recordou que Francisco nomeou cardeais de regiões que nunca tiveram esse privilégio, como da África e da Ásia. E da indicação de mulheres para postos e missões na Igreja.

“Foi um homem inovador, não teve medo do tempo de hoje, mas soube dialogar com muita sabedoria e delicadeza. O Papa tocou no tema da homossexualidade, o casamento de segunda união, tocou no tema do aborto, falou de economia, responsabilizou bispos e cardeais pela negligência com temas polêmicos, como o abuso sexual. Um papa que não teve medo de tocar nas feridas do mundo, nas feridas humanas. Foi extraordinário no seu último gesto, sem medo de apresentar uma imagem física e humana abatida, de um homem fraco, que sente dores, cansado pela idade e responsabilidade”, disse o padre Diego.

Todas as dimensões da Igreja Católica

O cientista político Rudá Ricci afirmou que o Papa Francisco trabalhou as três dimensões fundamentais para a instituição da Igreja: foi um líder religioso, uniu dimensão mística da religiosidade com a tradição e cuidou da estrutura burocrática.

“Foi um papa que trabalhou essas três dimensões, com inteligência. Criou estrutura com a sociedade civil, tratou da economia solidária, do respeito a natureza. A Igreja Católica estava se fechando em si mesmo e na defensiva. Trabalhou pautas modernas, avançou na discussão sobre o papel da mulher na Igreja, na questão da sexualidade, se articulou com outras religiões. Era um padre que adorava rir”, lembrou Rudá.

O Papa que falou de Marielle e Lula

O sociólogo Eduardo Brasileiro, da PUC de Minas Gerais, enfatizou a figura humana do Papa, da capacidade de gestos como pegar o telefone e ligar para a Paróquia de Gaza, de criar diálogo com movimentos populares.

“Foi o Papa que mais conseguiu conseguiu dialogar com a sociedade pluralista. Da abertura, do acolhimento. Promoveu a cultura do encontro. Tivemos com ele semanas depois da morte de Marielle Franco e com Lula preso. Ele disse que acompanha essas questões. Acompanhou os quatro anos do risco que a democracia sofreu”, disse Eduardo Brasileiro, numa referência aos anos da gestão de Jair Bolsonaro.

O escritor e historiador Célio Turino teve um contato pessoal com o Papa Francisco, que se iniciou em 2015. Trataram de experiências no Brasil e na Argentina, quando foi bispo em seu país, de pontos de cultura, uma ação para aproximar os diferentes.

“Ele toca qualquer pessoa que se aproxima dele, por sua abertura, por sua clareza”, afirmou.

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