Foto: Fernando Frazão, Agência Brasil
Em 2000, Luiz Paulo Conde concorria pela cadeira de Prefeito contra Cesar Maia, quando fez críticas ao fato da Pavuna receber o transporte e com isso acabou tomando a virada nas urnas; confira o que mudou no munícipio desde então
O Rio de Janeiro é um município que chama atenção de diversas. Há 25 anos, na disputa pela Prefeitura, os antigos aliados Cesar Maia, ex-prefeito, e Luiz Paulo Conde, então mandatário, se enfrentaram nas urnas. Uma análise sobre a chegada do metrô ao bairro da Pavuna acabou mudando os rumos daquela eleição, que terminou com 51% contra 49% e marcou o retorno de Maia à administração da cidade.
A uma semana da votação, os dois candidatos participaram de um debate promovido pela Rádio CBN, do Grupo Globo. Tudo seguia de forma segura e favorável para Conde, até que ele resolveu criticar a expansão do metrô até a Pavuna. Na visão dele, a região já era bem atendida por linhas de ônibus.
“Levar o metrô até a Pavuna foi um equívoco. Deviam ser presos todos os envolvidos, quem aprovou e quem executou, porque foi um gasto indevido de dinheiro público. Isso é um erro, fruto do desconhecimento do nosso adversário. Se houvesse uma lei de responsabilidade no Brasil, todos que autorizaram isso deveriam estar presos”, disse Conde, à época.
Para piorar, quase no fim do debate, Conde afirmou mentir menos do que Cesar Maia. Foi o suficiente para o ex-prefeito conquistar a virada e garantir seu segundo mandato no comando da cidade. Embora tenha realizado obras importantes, como o término da Linha Amarela, Conde ficou marcado por esse declínio na busca pela reeleição. Três anos depois, tornou-se vice-governador no mandato ao lado de Rosinha Garotinho.
Mas e a Pavuna? E a mobilidade urbana? O que mudou desde então e como era antes? Vale lembrar que Luiz Paulo Conde era Arquiteto de formação. O MyNews foi atrás de respostas e conversou com Paloma Oliveira, Arquiteta, Paisagista e Jardinista. Ela explicou o que mudou e o que permanece igual desde a declaração do ex-prefeito, começando pelos efeitos da chegada do metrô ao bairro da Zona Norte.
Paloma: O efeito imediato foi a redução do tempo de viagem para as regiões da Zona Norte e, por extensão, parte da Zona Oeste e da Baixada Fluminense, que utilizam o transporte por integração. A mudança facilitou a rotina de quem usava o transporte rodoviário na Avenida Brasil e enfrentava congestionamentos crônicos no trajeto diário. A estação Pavuna tem baldeações com transportes rodoviários que alimentam o sistema metroviário, vindos da Zona Oeste e da Baixada, o que deu mais fluidez aos deslocamentos entre áreas residenciais e locais de trabalho e lazer. O metrô até a Pavuna encurtou distâncias e reduziu o tempo de viagem das regiões mais periféricas, ampliando o acesso a áreas com maior oferta de emprego, saúde, lazer e educação, historicamente concentradas nas partes mais centrais e nobres da cidade.
A Zona Norte era realmente abastecida por ônibus? Essa afirmação feita por Conde na época ainda faz sentido atualmente? O que falta para melhorar a mobilidade na cidade?
Paloma: A afirmação não procede integralmente hoje. Mesmo com uma cobertura mais ampla na oferta de transporte rodoviário, a qualidade e a eficiência desse serviço pioraram em relação às demandas atuais. Ônibus e trens passaram por diversas mudanças e crises para se adaptar às transformações da cidade. A má qualidade da frota, a superlotação, a insegurança, a falta de manutenção, os furtos e a deterioração dos veículos impactam diretamente no tempo de deslocamento e causam atrasos constantes. Em resumo, embora a oferta de linhas e rotas seja grande, a qualidade e a integração do serviço não atendem à eficiência exigida por uma metrópole como o Rio de Janeiro.
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O que mudou no Rio de Janeiro nos últimos 25 anos, principalmente na mobilidade urbana?
Paloma: Mesmo com as modificações na infraestrutura da malha urbana e as políticas de incentivo à compra de veículos, o número de veículos na cidade aumentou consideravelmente, principalmente entre moradores da Zona Oeste e da Baixada Fluminense. A fragilidade do transporte público e da integração incentivou o uso do automóvel para deslocamentos diários, o que elevou o trânsito nessas regiões. A falta de planejamento completo da mobilidade urbana, voltado principalmente à expansão rodoviária e ao uso do carro, deixou de lado políticas voltadas ao transporte público de qualidade.

Vista do metrô da Pavuna atualmente — Foto: Leonardo Cardoso/MyNews
Mesmo com a criação do BRT, o sistema se demonstrou vulnerável a congestionamentos e problemas de gestão, sem alcançar a confiabilidade e a rapidez dos modais sobre trilhos, como metrô e trem. A lógica rodoviária permaneceu dominante, e o crescimento da frota, somado à insuficiência do transporte coletivo de alta capacidade, criou uma dinâmica em que qualquer nova via é rapidamente ocupada por mais carros, mantendo o trânsito como um desafio crônico da metrópole.
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