Em defesa da anistia para golpistas, aliados do ex-presidente já invadiram o Salão Verde, forçaram encontro com Hugo Motta e obstruíram discurso do líder do PT
Em uma semana, os aliados de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional demonstram que a aprovação da anistia aos golpistas do 8 de janeiro de 2023, e do próprio ex-presidente, é praticamente a única pauta que os interessa neste ano. Antes mesmo da denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que atingiu em cheio a Bolsonaro, esse grupo já se mobilizava na Câmara e recorreu a métodos diversos, como a invasão do Salão Verde e forçaram um encontro do presidente da Casa, Hugo Motta, com a esposa de um condenjado dos atos de vandalismo que está foragido.
A sessão de ontem no plenário não deixou dúvidas de que aos bolsonaristas interessam tumultuar e apostar no caos para tentar aprovar a anistia na marra, no grito. A quarta-feira na Câmara foi de embates, no dia posterior à denúncia do PGR que, além do presidente, acusa outras 33 pessoas de crimes como tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e de golpe de Estado.
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Parlamentares dos dois lados se revezaram no Salão Verde, principal espaço de visibilidade da Câmara, para marcarem suas posições. De um lado, bolsonaristas discursavam que o objetivo é “matar Bolsonaro politicamente”. Do lado petista, o tom era que não resta mais dúvida de que Bolsonaro comandou a tentativa de um golpe e que acabará preso.
Mais tarde, no plenário, o clima esquentou. Durante discurso, o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), que estava cercado por petistas com cartazes de “Bolsonaro preso”, elogiava a denúncia de Gonet. Os bolsonaristas reagiram e conseguiram interromper a fala de Lindbergh várias vezes com ofensas como “mensaleiro”. Foram repreendidos depois por Hugo Motta, que afirmou que não é frouxo, que a Câmara não é um jardim de infância e que é até mais combativo que o antecessor Arthur Lira.
Uma semana antes, na quarta-feira passada, os aliados de Bolsonaro já tinham promovido um ato pela anistia dos golpistas, mas foram impedidos de realizá-lo no Salão Verde, por decisão da direção da Casa. Marcaram outro ponto da Câmara, mais afastado, mas, descontentes, decidiram peitar o veto e marcharam em direção ao salão, invadindo praticamente o local e deixando o policial legislativo sem recurso para detê-los. Levavam cartazes com os dizeres “anistia já”.
Nesse mesmo ato, os bolsonaristas deram espaço para Vanessa Vieira discursar. Ela é esposa de Ezequiel Ferreira Luiz, um foragido do 8 de janeiro, que foi preso em flagrante dentro do Palácio do Planalto naquele dia. Condenado a 14 anos de prisão, foi beneficiado por liberdade provisória, mas tirou a tornozeleira eletrônica e fugiu. Vanessa estava com os filhos. O deputado Luciano Zucco (PL-RS), líder da Oposição, ainda levou Vanessa e os filhos para dentro do plenário e os conduziram até Hugo Motta, que foi surpreendido e acabou os recebendo.
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O presidente da Câmara anunciou que não irá aturar essas ações mais extremadas e que a Câmara não é jardim de infância. Discursou também que não é frouxo e garantiu ser mais combativo que Lira.
“Aqui não é o jardim de infância, muito menos lugar para espetacularização que denigre a imagem dessa casa. Não aceitarei esse tipo de comportamento. Não vamos aceitar isso. Não existe deputado mais ou menos, todos somos iguais”, afirmou Motta.