Em vez de focar na América, o presidente Donald Trump parece empenhado em ‘fazer a Rússia grande de novo’
Uma das principais promessas de campanha de Donald Trump foi a de que ele iria encerrar a Guerra entre a Ucrânia e a Rússia em até 24 horas – já faz cerca de 80 mil horas que ele foi eleito presidente – e sua promessa parece não ter um desfecho tão óbvio, ainda mais após um encontro mal sucedido com o líder russo Vladimir Putin no Alasca neste final de semana.
O fatídico encontro do Alasca serviu para Putin fincar seus objetivos e assegurar que ele terá o líder mais poderoso do mundo ao seu lado quando for negociar com a Ucrânia e outras nações. Putin vai conseguir o que ele quer e o mundo vai assistir praticamente de braços cruzados. O líder russo e ex-KGB é um estrategista nato, seu foco principal é deixar um legado glorioso na história da Rússia e trazer de volta o passado grandioso da época dos czares e da União Soviética.
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Para Vladimir Putin, a queda da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século 20. Os anos dourados em que a Rússia era considerada uma superpotência, são uma busca constante para esse Czar dos tempos modernos, que não precisa de slogans para deixar claro que seu objetivo é o de fazer “A Rússia Grande de Novo”.
Com o fim da União Soviética a Rússia perdeu praticamente 5,3 milhões de km² em território, isso representa cerca de 50% da área da Europa inteira, portanto a Guerra na Ucrânia não é uma mera coincidência, ela é estrategicamente calculada para trazer de volta territórios importantes para o orgulho e o imaginário do povo russo e, consequentemente, ganhos econômicos para a Rússia e ganhos políticos para Putin.
A invasão da Rússia na Ucrânia se estende por quase 4 anos, já devastou cidades e famílias, mais de 300 mil pessoas foram mortas, e bilhões foram gastos em armamento. Putin declarou Guerra à Ucrânia em cima de argumentos ligados às preocupações com a segurança nacional russa, já que havia a possibilidade concreta de aproximação da Ucrânia com a OTAN e com a União Europeia. O líder russo valeu-se do princípio da autodeterminação para cravar sua presença nas áreas do leste ucraniano, o Donbass, local que se fala majoritariamente russo. Esses são os territórios conquistados por Putin neste atual conflito e são pontos cruciais na negociação do cessar-fogo. A incursão russa já conseguiu conquistar 20% do território ucraniano, com a possibilidade de ampliar essa porcentagem.
A tentativa de Trump em encontrar possibilidades para um acordo de paz são pontos que tangem o âmago de Vladimir Putin. Ele não vai abrir mão do território conquistado e não possui motivos para fazê-lo. Para que um acordo de paz seja efetivo, Putin precisaria de muitos fatores para persuadi-lo, dentre eles: apoio interno e pressão externa, atualmente 70% da população russa apoia esse conflito, e a Rússia conseguiu driblar as sanções econômicas através de mercados alternativos.
A Rússia é muito grande para ser isolada economicamente e Putin é muito esperto para ser persuadido facilmente. Fato é que Putin coloca Trump “no bolso”, e vai conseguir o que quer.
A próxima semana trará novidades em relação ao desfecho deste conflito, Zelensky, líder ucraniano, já declarou que está disposto a rever a questão da cessão do território ucraniano aos russos. Líderes europeus irão se encontrar para discutir o desfecho do conflito baseado na conversa de Trump com Putin.
Se o acordo for firmado, Trump poderá reivindicar o cumprimento de sua promessa, ainda que às avessas, ao transformar “Make America Great Again” em um irônico “Make Russia Great Again”. E o Nobel da Paz se concretiza para esse pacifista um tanto heterodoxo, retratando a atual conjuntura geopolítica das narrativas trocadas e conflitos invertidos.