Crônica: A minha Selic era menor Foto: EBC

Crônica: A minha Selic era menor

No camarote dos juros, Campos Neto transforma a taxa básica em bordão e marca presença, mesmo ausente, no Fórum de Lisboa.

Homens em geral não se gabam de coisas pequenas. Mas Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central e celebridade improvável graças ao Pix, anda quebrando o protocolo masculino: vem se gabando com os amigos que a sua Selic era menor que a de Galípolo, o presidente do Banco Central que o sucedeu.

É com essa frase, dita com um sorriso quase adolescente, que Campos Neto tem iniciado conversas sempre que o assunto derrapa para juros. Nem ele nem Galípolo apareceram no Fórum de Lisboa este ano, muitos dos seus amigos estavam por lá e garantem que o bordão já virou folclore.

E o curioso é que a Selic dos dois estava lá embora a Selic não fosse o tema oficial do Fórum estava onipresente como vinho verde. Nos bastidores, pairava uma nuvem de críticas às atuais taxas de juros, atravessando conversas como um drone barulhento.

Porque, para medir popularidade, o melhor é ter Selic pequena e nos bastidores do Fórum o assunto era crise fiscal, IOF e quem vem em 2026. Mais do que isso: em muitos dos painéis do Fórum de Lisboa, mesmo quando o tema era geopolítica ou tecnologia, juros e questões fiscais estavam sempre espreitando, feito aquele parente que não foi convidado para a festa, mas apareceu mesmo assim.

Afinal, a Selic é o tipo de número que não sai da cabeça de ninguém, principalmente de quem tem boleto. Grande ou pequena, a taxa básica de juros é o principal preço da economia e vai afetar tudo que faz parte da vida de quem estava ali e de quem não estava, do investimento verde à dívida vermelha, do crescimento azul ao humor cinza dos ministros da Fazenda.

E para Campos Neto, a Selic baixa é um trunfo, como aquele ex-namorado que não te esquece: sempre volta pra assombrar e lembrar seus atributos frente ao atual “a minha selic era menor”.

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