Coluna da Mara Luquet
Jô Soares costumava repetir: “O seu poder está aqui, na palma da sua mão”, dizia, mostrando o celular. Ouvi isso algumas vezes quando participava do quadro Meninas do Jô, na TV Globo. Não era apenas uma frase de efeito: Jô enxergava, já naquele momento, como a tecnologia estava redesenhando a forma de acompanhar a política e pressionar os representantes eleitos. É a rua…
A votação de hoje na CCJ do Senado, que enterrou a chamada PEC da blindagem, é um exemplo concreto dessa transformação. Pois, ela não ocorreu no vácuo. Foi antecedida por manifestações de rua em diversas cidades brasileiras no último domingo, quando milhares de pessoas protestaram contra a PEC e contra a anistia. A pressão popular, visível e organizada, foi um dos elementos que ajudou a moldar o resultado.
Mas não é possível manter manifestações de rua todos os dias. E aqui voltamos à lição de Jô: a praça pública também cabe no celular. A democracia não se esgota no voto. Ela se renova a cada vez que o cidadão lembra ao parlamentar que ele está no Congresso para representá-lo. E hoje, a tecnologia oferece ferramentas diretas e acessíveis para isso.
Redes Sociais
Muito se fala sobre o mal das redes sociais. A desinformação, os discursos de ódio, a manipulação algorítmica. Tudo isso é real e preocupante. Contudo, há também a possibilidade de ensinar aos algoritmos a amplificar o que pode fazer bem: a cobrança cívica, a vigilância cidadã, a exposição de quem atua contra o interesse público.
A proximidade das eleições aumenta a sensibilidade dos parlamentares à opinião pública. Eles monitoram tendências digitais, percebem quando um tema ganha volume e raramente ignoram o impacto sobre sua imagem. Se as ruas mostraram força no domingo, a continuidade dessa pressão pode e deve se dar também pelas redes.
O algoritmo, afinal, já trabalha incansavelmente para medir nossa atenção e moldar nosso consumo. É hora de colocá-lo a serviço da cidadania, ajudando a levar a voz do eleitor até Brasília. Porque, no fim, a rua não está apenas no asfalto onde se reúnem os manifestantes. A rua também está na palma da sua mão. Em suma, é a rua.