Cotado para suceder Francisco, Pierbattista Pizzaballa ganha força por seu perfil conciliador e experiência em zonas de conflito. Sua trajetória no Oriente Médio pode ser decisiva para a missão geopolítica da Igreja de construir a paz global.
A sucessão do Papa Francisco não será apenas uma questão interna da Igreja Católica — trata-se de um movimento com peso geopolítico global. Em um cenário de conflitos cada vez mais intensos e de fragmentação internacional, o próximo pontífice terá a missão de colocar a maior instituição religiosa do planeta a serviço da paz.
A avaliação é do teólogo e sociólogo costarriquenho Alberto Rojas, que alerta: a força diplomática e espiritual da Igreja precisa ser usada para construir pontes — e não para alimentar divisões entre progressistas e conservadores.
Entre os possíveis herdeiros desse desafio, surge o nome de Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém. Diferente de outros cardeais envolvidos nas disputas internas entre reformistas e conservadores do Vaticano, Pizzaballa está mais associado às tensões do Oriente Médio.
“Ele está envolvido diretamente com o problema que existe no Oriente Médio”, aponta Rojas. Segundo o teólogo, sua experiência em uma região marcada por perdas humanas e conflitos constantes pode ser fundamental para abrir caminhos de diálogo, mediação e apoio pastoral às vítimas da violência.
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A principal tarefa do próximo papa, a julgar pelos discursos recentes de Francisco, será dissolver as tensões internas e recolocar a Igreja Católica como um ator relevante na cena internacional. Em sua última mensagem de Páscoa, Francisco reforçou que a prioridade da Igreja deve ser a paz, citando não apenas o drama de Gaza, mas também conflitos ignorados pela grande mídia em diversas regiões do mundo.
A preocupação de Francisco vai além da esfera espiritual: trata-se de uma estratégia de ação geopolítica. “A geopolítica diz respeito às relações de poder que viabilizam ações estratégicas entre Estados e organizações”, explica Rojas, pesquisador do Observatório do Religioso da Escola Ecumênica de Ciências da Religião da Universidade Nacional da Costa Rica.
Hoje, a Igreja Católica reúne 1,4 bilhão de fiéis em todos os continentes e mantém uma estrutura unificada — um contraste com o mundo evangélico, que, apesar do crescimento numérico, é fragmentado em diversas denominações. Essa unidade dá à Igreja Católica um alcance incomparável.
Essa influência também se reflete na diplomacia: o Estado do Vaticano mantém mais de 300 representações diplomáticas, superando até mesmo os Estados Unidos. Está presente em quase todos os países — exceções como a Coreia do Norte são raras.
Com essa rede, a Igreja atua não apenas no âmbito religioso, mas também influencia políticas públicas, temas de direitos humanos, educação e mediação de conflitos.
“A Igreja tem uma capacidade muito forte de orientar o sentido das ações e pensamentos das pessoas, e também de incidir nas políticas públicas em nível nacional e internacional”, afirma Rojas.
O sucessor de Francisco terá, portanto, um desafio claro: mobilizar essa enorme estrutura global em favor da reconciliação e da paz, evitando que a Igreja se perca em disputas internas.
“O mundo precisa de pontes, não de novos muros”, resume Rojas. E poucas instituições têm hoje, como a Igreja Católica, o poder real de construir essas pontes em escala global.