Ex-deputado defende que, se o país deseja contestar o poder dos EUA, não pode fazê-lo nos espaços digitais criados por eles
A dependência do Brasil em relação às plataformas digitais americanas é, para o ex-deputado federal Paulo Delgado (PT-MG), um dos sintomas mais graves da fragilidade tecnológica e política do país. Em entrevista, ele argumenta que governo e Supremo Tribunal Federal (STF) estão presos a uma contradição: reagem aos Estados Unidos justamente a partir das redes sociais controladas por empresas americanas. O resultado, diz, é uma disputa desigual que revela a falta de soberania digital brasileira.
“O problema do Brasil é que responde aos EUA pelo Twitter (que mudou o nome para X depois da compra por Elon Musk). Ou seja, governo e STF reagem aos EUA pelas redes sociais americanas. É preciso criar o TikTok brasileiro”, afirmou.
Para Delgado, a política internacional também se reflete no Brasil por meio de personagens que simbolizam trincheiras opostas. Ele observa que, na lógica do presidente Donald Trump, o seu antagonista não é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo. “Na verdade o Trump tem a certeza que o correspondente a ele no Brasil é o Moraes. Por isso o enfrentamento dele é o Moraes e não Lula. É um absurdo o Lula comprar a briga do Moraes”, disse.
O ex-deputado defende que, se o país deseja contestar o poder dos EUA, não pode fazê-lo nos espaços digitais criados por eles. “Precisam parar de falar com os EUA na rede deles. Se você quer confrontar os EUA não use as redes”, resumiu.
O problema de fundo, segundo ele, é tecnológico e estratégico. “O país não tem tecnologia para ter raiva proporcionalmente. O Brasil abandonou a luta pela tecnologia”, concluiu.