Brasil

QUESTÃO SOCIAL

Envelhecer com qualidade de vida é privilégio da elite, diz Alexandre Kalache

Segundo especialista em longevidade, viver muito, e bem, depende 75% de escolhas individuais, e apenas 25% do fator genético; discussão passa por recorte de classe

por Sofia Pilagallo em 26/08/24 14:00

Médico Alexandre Kalache participa de evento sobre longevidade na Congregação Israelita Paulista (CIP) | Foto: Reprodução/MyNews Vida & Previdência

Envelhecer com qualidade de vida é privilégio de poucos da elite, afirmou o médico epidemiologista Alexandre Kalache, especializado no estudo do envelhecimento e fundador do Centro Internacional da Longevidade Brasil. A declaração foi dada durante o evento A Revolução da Longevidade: o desafio de viver muito. E bem, realizado na Congregação Israelita Paulista (CIP), que também contou com a participação da jornalista e empresária  Mara Luquet, CEO do MyNews.

Nascido em outubro de 1945, Kalache, que completa 79 anos em breve, se diz um “produto da revolução da longevidade”. Ele terminou a faculdade de medicina em 1970, quando a expectativa de vida era de 57 anos. Hoje, a expectativa de vida é de mais de 77 anos. A geração atual ganhou a oportunidade de viver mais e melhor, mas é preciso saber aproveitá-la.

O médico explica que um estilo de vida pouco saudável — conjunto de hábitos ruins relativos à alimentação, exercício físico e consumo de álcool e tabaco — é o que “condena” uma pessoa a morrer cedo. Viver muito, e bem, depende 75% das escolhas individuais de cada um, e apenas 25% do fator genético. Mas ter um conjunto de hábitos saudáveis não é só questão de escolha. É um privilégio de classe.

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“Não adianta, em um país desigual como o Brasil, chegar para aquele indivíduo e dizer assim: ‘Coma brócolis’. Ele vai responder: ‘Eu não posso comer brócolis na primeira semana, porque não vai sobrar dinheiro para comer açúcar e farinha na última. Eu tenho que medir'”, afirmou Kalache, ressaltando que a prática regular de exercícios físicos também é um privilégio de classe.

“[Se um médico disser a um morador da periferia para fazer exercício, ele vai responder]: ‘Mas como é que eu vou fazer exercício, doutor? Eu moro num lugar esburacado, não tem calçada, não tem iluminação. As mulheres, se saírem, são estupradas.’ O Brasil é campeão de estupro, com 170 mil crianças estupradas nos últimos três anos”, acrescentou.

Para Kalache, cujo avô era sapateiro, se antes as diferenças entre avô e neto eram meramente geracionais, agora elas são principalmente de classe. Em outras palavras, enquanto o gap geracional diminuiu, o abismo social aumentou. Hoje, a maioria da população consegue atingir uma idade avançada, mas sem nenhuma qualidade de vida. Não fosse o suficiente, ainda tem de lidar com o etarismo, com o machismo (no caso das mulheres) e com várias outras formas de preconceito.

Assista abaixo à transmissão do evento sobre longevidade na CIP:

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