Ciro, Aldo e Tasso, uma via em construção para disputa de 2026 Ciro Gomes em entrevista ao MyNews | Foto: Reprodução/MyNews

Ciro, Aldo e Tasso, uma via em construção para disputa de 2026

Uma via que se vislumbra, um esboço de chapa: Ciro para o Planalto, Aldo de vice e Tasso ao governo do Ceará; as conversas estão acontecendo e a projeção da eleição está na ordem do dia

Ciro Gomes e Tasso Jereissati almoçam juntos pelo menos uma vez por semana. A amizade entre os dois atravessou décadas e resistiu até mesmo à guerra aberta entre os irmãos Ferreira Gomes. Passei a última semana em conversas com políticos cearenses e, quando entrego meu cartão de embarque para voltar a São Paulo, trago na bagagem a certeza de que uma chapa Ciro e Tasso está em gestação para 2026.

O formato final desse tabuleiro ainda não está claro. Mas se tivesse que apostar, colocaria minhas fichas nas seguintes postulações: Ciro na Presidência e Tasso para o governo do Estado. Ciro está com um dos pés de volta ao PSDB, de Tasso.

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Aos que acompanham os bastidores da política cearense, uma possível dobradinha começa a ganhar contornos: Tasso Jereissati no Palácio da Abolição e Ciro Gomes, mais uma vez, mirando o Planalto. Ambos representam uma linhagem de políticos nordestinos que defendem o planejamento, o investimento público eficiente e a responsabilidade com as contas.

E essa responsabilidade fiscal faz de Tasso o candidato dos sonhos de muitos “farialimers”.

"Dói ver esse desfecho do PSDB", diz Tasso Jereissati

Tasso Jereissati, um dos fundadores do PSDB, em entrevista ao MyNews | Foto: MyNews

Tasso, é bom lembrar, foi um marco na transformação do Ceará. Sua cultura de gestão baseada em metas, controle de gastos e investimentos de longo prazo tornou-se referência e, por muito tempo, sobreviveu a diferentes governos. Mas essa herança parece sob risco: o atual governador aumentou a estrutura do Estado. Eram 23 secretarias e hoje são 40, ou seja , criou mais 17 secretarias. O motivo? Para alguns observadores atentos, foi uma forma de acomodar aliados políticos.

Enquanto isso, em Brasília, o presidente Lula parece querer tudo, menos Ciro. Como disse o ex-ministro Aldo Rebelo ao MyNews esta semana, se Lula enxergar a possibilidade de uma derrota em 2026, “vai terceirizar essa derrota”. A frase resume uma tese recorrente entre aliados do Planalto: um nome fora da órbita lulista poderá carregar o fardo de um eventual revés.

"Conheço Lula. Se for para derrota, ele vai terceirizá-la a outro"

Aldo Rebelo durante entrevista ao MyNews | Foto: Reprodução/MyNews

Mas, fora desse roteiro, outra alternativa começa a circular: Ciro e Aldo. A aliança entre dois políticos com raízes profundas no Nordeste vai além da geografia. Ambos compartilham a crítica ao rentismo, à financeirização da economia e à paralisia da infraestrutura nacional. Defendem a retomada de um projeto de desenvolvimento que una responsabilidade fiscal com investimento produtivo.

Não se espante se o MDB fizer parte dessa construção, com Aldo Rebelo como vice. O ex-ministro, que tem percorrido o país como uma espécie de embaixador do velho MDB nacional-desenvolvimentista, pode oferecer à chapa o que Ciro precisa: capilaridade política e um discurso de moderação sem abrir mão de projeto.

Mais do que uma articulação de nomes, o que começa a se desenhar é algo mais profundo: um sentimento de que, finalmente, uma via está tomando forma. Uma alternativa real ao lulismo e ao bolsonarismo. Um projeto que tenta combinar planejamento, justiça social e protagonismo produtivo nacional.

Nesta semana os três devem desembarcar em São Paulo. E vão conversar. A ver.

Aldo e Ciro, bem nas redes

Segundo levantamento da Ativaweb, empresa de inteligência digital que vem mapeando os passos de potenciais candidatos para 2026, Aldo Rebelo apresentou o maior crescimento proporcional de seguidores nas redes no último mês: 47,5%, totalizando agora 69,5 mil seguidores, com uma taxa de engajamento de 2,77%. Já Ciro Gomes cresceu 4,2%, alcançando 1,6 milhão de seguidores, com engajamento de 0,49%.

Para Alek Maracajá, coordenador do estudo, Aldo apresenta uma taxa de engajamento cinco vezes maior que a de Ciro, com picos de interação orgânica em conteúdos originais. Seu discurso conecta com um nicho claro: nacionalistas moderados, críticos do ambientalismo ideológico, militares da reserva, intelectuais históricos e jovens da “nova direita crítica”. Mesmo com base pequena, Aldo lidera em empatia emocional e mobilização espontânea, o que o posiciona como uma figura emergente na nova polarização brasileira.

Por outro lado, Ciro mantém uma audiência volumosa, consolidada e altamente urbana, principalmente em capitais do Nordeste e Sudeste. Seu estilo confrontador e técnico ainda ressoa fortemente em acadêmicos, jovens da centro-esquerda crítica, egressos do PDT e segmentos progressistas não lulistas. Apesar da queda no engajamento proporcional, sua base fiel continua ativa, especialmente quando o foco são temas institucionais, econômicos e ataques ao centrão.

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