Ataques e ameaças de bolsonaristas tentam silenciar os jornalistas A bolsonarista Débora Rodrigues exibe suas mãos logo após pichar a estátua "A Justiça", em frente ao STF | Foto: Gabriela Biló/Folha de S. Paulo INTOLERÂNCIA À IMPRENSA

Ataques e ameaças de bolsonaristas tentam silenciar os jornalistas

Mesmo com Jair Bolsonaro fora do poder, seus seguidores mantém perseguição a profissionais da imprensa, como se fossem os responsáveis por seus atos de vandalismo e barbárie.

Jair Bolsonaro deixou o poder há mais de dois anos, mas a intolerância dos que integram seu universo político com o trabalho dos jornalistas segue viva, sejam de autoridades ou de seguidores apaixonados,  Episódios mais recentes exibem uma violência costumeira à imprensa do período da gestão do ex-presidente, com ameaças a profissionais nas redes sociais, incitação ao ódio contra quem produz reportagens que desagradam esse nicho e exposição de repórteres que fazem a cobertura crítica a episódios que envolvem esse agrupamento. Confira o debate e o que fazem os bolsonaristas.

Ataques e ameaças de bolsonaristas tentam silenciar os jornalistas

O programa “Segunda Chamada”, do Canal MyNews, tratou desse tema ontem (sexta-feira) e ouviu dirigentes da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e do Sindicato de Jornalistas do Distrito Federal. Em tela, os recentes casos de violência e ameaça a duas jornalistas da Folha de S. Paulo – Gabriela Biló e Thaísa Oliveira -, pela cobertura dos ataques do 8 de janeiro e suas repercussões. E também os ataques ao jornalista Paulo Motoryn, editor e repórter do Intercept Brasil.

As profissionais da Folha foram alvos de ataques em massa nas redes sociais, com ameaças, apontadas como responsáveis pela prisão da bolsonarista Débora dos Santos Rodrigues, o que não é verdade, que pichou a estátua “A Justiça”, em frente ao STF (Supremo Tribunal Federal), com a expressão “Perdeu, mané”.  Biló fez a foto desse flagrante, naquele 8 de janeiro. Débora foi presa por um conjunto de razões. Ontem, seguindo entendimento da Procuradoria-Geral da República, o ministro Alexandre de Moraes transformou essa prisão em domiciliar. Débora é alvo de julgamento na Primeira Turma do Supremo e, antes da medida de ontem, Moraes e o ministro Flávio Dino votaram pela condenação dela, com uma pena de 14 anos de prisão. Luiz Fux pediu vista.

Leia Mais: Débora Rodrigues pede perdão em depoimento ao STF 

No segundo caso de intolerância, Motoryn recebeu seguidas ameaças de morte e violência física por ter publicado uma reportagem sobre um golpista condenado pelo 8 de janeiro que está na Argentina. A reportagem mostra que  Josiel Gomes de Macedo, condenado a 16 anos de prisão por incendiar uma viatura e comprar equipamentos militares para a tentativa de golpe de estado, vive tranquilo e impune em Buenos Aires, ainda que com um mandado de prisão em aberto no Brasil.

A jornalista Tatiana Farah, gerente de comunicação da Abraji, destacou o papel e a responsabilidade do jornalista em tempos de intolerância e do desafio do profissional em não se sentir acuado.

“É um absurdo esse grupo de pessoas tratarem os jornalistas como traidores da Pátria, ou antipatriotas, por estarem exercendo suas funções. No caso da Folha, as jornalistas mostraram quem era uma dessas pessoas. Não a condenaram, não julgaram ou a processaram. Nem a prenderam. Apenas reportaram”, disse Tatiana.

O coordenador-geral do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, Marcos Urupá, ressaltou que esses ataques à imprensa não vêm de hoje, não ocorrem apenas no Brasil, e que são chancelados pelas autoridades.

“É muito desonesto o discurso de que foram os jornalistas que prenderam. São veículos e profissionais exercendo ali seus papéis. O argumento de que os jornalistas querem acabar com a família não é honesto e nem verdade”, disse o dirigente sindical.

Intimidação contra experiente e mais novos

Tatiana cita que essas ameaças atingem repórteres mais experientes, mas também os mais novos, que estão começando na carreira. E que essa intimidação alcança a todos e incomoda o jornalista que está nas duas pontas, os com mais anos de profissão e os com menos tempo nesse trabalho.

“Tentam colocar a sociedade contra o jornalista. Se viu muito isso no governo Bolsonaro, a tentativa de descredibilizar o trabalho do jornalista. Cada ataque que a gente sofre é algo que dói na alma”, disse Tatiana, que, na Abraji, é responsável pelo acolhimento de jornalistas que se encontram nessa situação vulnerável, com o estado emocional abalado.

“E essa situação não é diferente nem para o jovem ou para um jornalista mais experiente. É muito revoltante ser atacado por estar trabalhando”, afirmou.

Tentativa de silenciamento

Marcos Urupá classifica a violência contra esses jornalistas como “algo terrível” e lembrou que, na cobertura dos ataques do 8 de janeiro de 2023, muitos profissionais trabalharam disfarçados, usando um boné e, no caso de profissionais de imagem, foram recomendados não vestirem seus coletes de imprensa, traje específico e de uso no dia a dia.  Tatiana lembrou que 40 jornalistas que trabalharam naquele dia na Praça dos Três Poderes foram atacados e feridos e tiveram seus equipamentos levados  pelos vândalos.

Os dois falaram das condições e dos riscos de profissionais de imprensa que exercem a profissão no interior do país, onde estão mais desprotegidos ainda e sob ameaça de segmentos e pessoas alvo de suas reportagens. A dirigente da Abraji lembrou também dos “litigantes contumazes”, inclusive deputados, que sistematicamente processam jornalistas, mesmo sabendo que vão perder a ação.

“Mas é uma intimidação, um silenciamento muito grande. Em alguns locais essa intimidação é física e financeira. Se a gente vê grandes jornais quebrando, imagine a situação de jornais pequenos e localizados”, afirmou Tatiana Farah.

“É um sinal de coronelismo mesmo esse tipo de intimidação. É o mando, forte e coercitivo, atuando contra esses veículos, blogs e sites”, afirmou Marcos Urupá.

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