Frase infeliz sobre aposentados foi incômodo na reeleição de FHC

São episódios que não se equivalem – o escândalo do INSS de agora com a frase de FHC associando aposentados a vagabundos -, mas que diz muito sobre a sensibilidade do tema

São episódios que não se equivalem, mas traz à memória que o tema aposentados causa prejuízo para os políticos que se envolvem em controvérsia com esse extrato delicado da população. O escândalo envolvendo o governo Lula agora é muito mais grave que a frase dita por Fernando Henrique Cardoso, em maio de 1998, que se tornou um incômodo na campanha de sua reeleição e que é lembrada até os dias de hoje.

Relembre frase de FHC

Em entrevista no Rio, naquele dia e ano, 11 de maio de 1998, FHC fez uma associação infeliz entre aposentados e vagabundos. Literalmente, declarou:

“Fiz a reforma da Previdência para que aqueles que se locupletam da Previdência não se locupletem mais, não se aposentem com menos de 50 anos, não sejam vagabundos em um país de pobres e miseráveis”.

Foi o suficiente para o presidente ser associado ao seguinte enunciado: FHC chamou aposentados de vagabundos. Totalmente desvinculada da realidade não está. Mas a frase, com esse sentido, o perseguiu por bom tempo e precisou explicar algumas vezes.

O escândalo que derrubou a cúpula do INSS ontem ainda vai dar o que falar. Se vale a lógica do resumo popular, pode ser disseminado assim esse caso de desvios de recursos de aposentados por entidades, direto no pagamento do INSS: “Lula pega dinheiro de aposentados”. Longe de ser a verdade, o rolo já é explorado pela oposição, que tenta pregar essa pecha no governo e já fala em CPI.

O país tomou conhecimento ontem de um esquema escandaloso que retirou dos bolsos de aposentados, entre 2019 e 2024, mais de R$ 6 bilhões. Entidades sindicais recolhiam entre a R$ 20 a R$ 50 mensais, em média, e boa parte desse desconto era feito à revelia dos beneficiados. O serviço oferecido por essas entidades inclui desconto em farmácia, programa de envelhecimento com qualidade, sorteios e seguro de vida.

A PF e a CGU ajudaram a desmontar esse esquema, que é antigo, de duas a três décadas atrás. Dos 1.300 aposentados e alvos desse desconto entrevistados pela CGU, 1.250 disseram que nunca autorizaram esse pagamento.