A avaliação recorrente é que ministro perdeu tração como potencial candidato do governo, por não ter conseguido avançar em reformas estruturais e por não ter a força política necessária para liderar um projeto de sucessão com viabilidade eleitoral e econômica
O silêncio sobre 2026 é tão eloquente quanto os ruídos. No mercado financeiro, investidores estrangeiros já antecipam o que Brasília ainda hesita em admitir: Haddad saiu do páreo. E Lula, embora presente, depende de pesquisas futuras para decidir se permanece. Neste vácuo, o Brasil se move — com mais especulação que direção.
Ministro da Fazenda desde o início do terceiro mandato de Lula, Haddad conquistou o respeito de parte relevante do mercado financeiro, inclusive de estrangeiros. Seu esforço por credibilidade, especialmente na apresentação do novo arcabouço fiscal e na defesa de metas de superávit, foi bem recebido no início da gestão. Mas a percepção atual é de frustração.
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“A simpatia segue, mas a esperança acabou”, resume um gestor brasileiro ouvido por estrangeiros. A avaliação recorrente é que Haddad perdeu tração como potencial candidato do governo, por não ter conseguido avançar em reformas estruturais e por não ter a força política necessária para liderar um projeto de sucessão com viabilidade eleitoral e econômica.
A própria candidatura de Lula também é tratada como uma incógnita. Interlocutores no mercado afirmam que a decisão do presidente dependerá diretamente das pesquisas em 2025. Se estiver bem posicionado, será candidato. Se não, abrirá espaço para outro nome — ainda indefinido. Mas admitir isso publicamente agora é inviável: significaria perder capital político e mergulhar o governo em instabilidade.
O paradoxo é que o mercado torce por esse sinal de saída. A simples expectativa de que Lula não disputará a reeleição já é vista por muitos investidores como um gatilho para alívio nos mercados: bolsa em alta, dólar em queda e recuo nos juros futuros. A lógica é pragmática: um novo governo pode significar uma nova rota econômica.
A frustração com os rumos da política macroeconômica só aumenta. Lula resiste ao ajuste fiscal necessário. Aumentos pontuais de tributos, como o recente caso do IOF, e recuos improvisados, como na taxação de compras internacionais, reforçam a percepção de improviso e falta de convicção.
Além das conversas reservadas entre agentes financeiros e fundos estrangeiros, a crítica à condução econômica também cresce na imprensa. Artigos e entrevistas com economistas e investidores experientes têm sido cada vez mais frequentes — e incisivos.
Na mais recente delas, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco fez duras críticas à equipe econômica. Franco falou ao jornal O Globo que o governo busca cumprir a meta fiscal “sem nenhuma convicção” e comparou o momento atual ao segundo mandato de Dilma Rousseff:
“O governo Lula 3 é uma espécie de Dilma 2”. Franco também afirmou que o bloqueio e o contingenciamento de despesas só terão impacto em 2025, sem efeito estrutural para os anos seguintes.
Enquanto isso, o mercado observa e precifica. Ainda não se sabe quem será o candidato do governo em 2026. Mas já se sabe quem não será.