‘Levaram meu celular’ VIOLÊNCIA E ASSALTOS

‘Levaram meu celular’

Estilhaços de uma rotina no coração da segurança pública do governador Tarcísio

Foi ali, abraçada pela forte e imponente estrutura de segurança publica do Estado de São Paulo que uma explosão seguida de estilhaços de vidro que se espalharam pelo meu corpo deu cobertura à mão rápida e nervosa que arrancou o celular da minha mão. Eu com os braços estendidos para o chão digitava uma mensagem para saber notícias de um amigo que havia passado por uma cirurgia delicada.

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O primeiro sentimento foi de raiva. Uma raiva profunda de mim, pelo vacilo, pela bobeada que dei de tirar o celular da bolsa. “Deixe o celular em casa, nunca o leve para a rua”, adverte o marido exagerado, mas que tem razões para isso.

Depois veio a tristeza, um misto de angustia, desesperança e uma vontade enorme de chorar, não pelo celular, mas por essa violência que escala e nos afasta das coisas prazerosas, simples e baratas da vida como caminhar pela cidade.

Não, eu não estava caminhando, abandonei este hábito desde que fui assaltada caminhando a tarde pela região da Paulista, sem celular, há cerca de três meses.

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Desta vez estava no banco de trás do taxi, na avenida Tiradentes voltando de um evento no Anhembi onde trabalhei a tarde toda. Na rápida parada que o motorista deu no sinal vermelho (sim ainda é preciso parar em sinais vermelhos para não ser multado, e os valores são altíssimos) a violência aconteceu.

Sr. Carlos, o motorista, me olhou preocupado para saber se estava tudo bem comigo. Queria parar o carro para limpar os estilhaços e eu não me ferir ainda mais. “Se o senhor parar aqui eles nos matam”, argumentei. Seguimos.

Um amigo policial foi encontrar comigo em casa para me levar para fazer um BO na delegacia mais próxima. Era necessário? Sim. Por diversos motivos, os dois mais importantes: receber o seguro e me proteger de possíveis fraudes e crimes que o novo dono do celular poderia cometer. E, claro, era necessário bloquear tudo, toda uma vida que carrego no celular.

Na delegacia, na noite da última sexta, a ocorrência de um jovem que matou a mãe, uma briga de condomínio e trocentas ocorrências de roubos de celulares.

Conversando com uma amiga, ela conta que a filha tinha passado pelo mesmo poucas horas antes e mais um amigo vivia a mesma experiência naquela sexta.

É, o celular é mesmo para deixar em casa.

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Nós, eu, você, sr. Carlos, nossa família, nossos vizinhos, normalizamos a violência. Que escala. Ou nos unimos, ou, os que podem, mudam para outros países ( e isso já vem acontecendo) ou nos rendemos ao crime organizado e assumimos que eles estão no comando. O crime organizado está na raiz, desconfio, e está avançando por todas as esferas do poder como podemos ver diariamente na imprensa.

Nesta sexta fui vitima a poucos metros do Segundo e do Terceiro Batalhões de Polícia de Choque, do Regimento de Cavalaria da Polícia Militar do Estado de São Paulo, da Corregedoria da PM, do prédio do COPOM, o famoso centro que recebe as chamadas do 190, e da temida ROTA. Um círculo que abriga o Estado (veja o mapa acima) que, pela Constituição, tem o dever de nos proteger.

Ah, e logo a frente, na mesma Avenida Tiradentes, tem o prédio do Ministério da Fazenda, onde está instalada uma discreta e imperceptível unidade da Abin.

Na sexta também soube que está subindo rápido na fila de violência os roubos de alianças. Muitos em pontos de ônibus da periferia.

Os casados que me desculpem, mas não usar aliança é fundamental.

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