Na disputa de narrativas, quem perde é a economia! Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (à esquerda), e presidente do Brasil, Lula da Silva (à direita) | Foto: Daniel Torok/Casa Branca e Ricardo Stuckert/PR

Na disputa de narrativas, quem perde é a economia!

No maior país dos trópicos, a disputa do momento é sobre quem tem o melhor nacionalismo, a “esquerda” ou a “direita”?

A briga de narrativas faz parte do jogo da polarização, e é necessária para manter as torcidas ativas e alimentadas, mas não se sustenta na perspectiva de impactos negativos econômicos – pois como dizia James Carville, é tudo sobre a economia, estupido! O bolso é o órgão mais sensível do corpo humano, e Trump, apesar de estar virando o mundo de cabeça para baixo e arriscando desfazer relações comerciais históricas, parece que entendeu isso.

​Um exemplo prático foi do recente pré-acordo anunciado entre os EUA e a União Europeia (UE), que são parceiros econômicos de longa data. Os EUA saíram “vencedores”, mas nem tanto. Antes de Trump 2.0, as alíquotas que incidiam sobre produtos europeus nos EUA variavam entre 1,5 a 2%, uma das menores no cardápio de parceiros dos “yankees”. O novo acordo muda isso. Os produtos europeus agora terão uma alíquota 10 vezes maior – cerca de 15%, sendo a mais baixa – essa taxa incidirá principalmente na indústria automobilística, que é crucial para o crescimento econômico da sua principal economia, a Alemanha. Outros aspectos do pré-acordo foi o aumento de investimentos da União Europeia nos EUA em 600 bilhões de dólares (o bloco investe uma média de 200 bilhões de dólares por ano neste país). Porém, o que não foi divulgado nas redes sociais da Casa Branca, foi que diversos setores do mercado europeu tiveram isenção nas tarifas, além de que a Europa possui uma chance de ganhar independência energética da Rússia.

O pré-acordo EUA-UE exalta o cerne da metodologia heterodoxa de negociação de Donald Trump, um mix marcado pela “Teoria do Louco” que implica na imprevisibilidade como ferramenta potente de coerção e na aplicabilidade de colocar “o bode na sala”, ou seja, apresentar uma opção pior do que a que está para ser negociada. No acordo com a União Europeia, Trump havia anunciado tarifas iniciais de 30% sobre os bens europeus, esse era o pior número possível para ambas as economias, no final, a negociação se encerrou em 15%, ou seja, aplicou-se a teoria do pior cenário possível, para conseguir um não tão ruim.

​No Brasil podemos dizer que o mesmo está acontecendo por aqui. Anteriormente, Trump havia anunciado tarifa base inicial de 10% sobre produtos brasileiros, depois da trégua de 90 dias, o Presidente norte-americano chegou ao exorbitante número de 50% – essa é a alíquota mais alta anunciada até agora, e gerará um impacto econômico negativo sem precedentes para alguns setores econômicos brasileiros.

Nossa resposta está sendo diferente da europeia, assim como a atitude de Trump por aqui. Trump parece querer aplicar uma doutrina política ideológica em solo tropical, e os governos desalinhados com sua ideologia vão cair numa queda de braço com a maior economia do mundo – diferente do que a União Europeia fez.

O tempo do teatro político parece estar esgotando a possibilidade de negociação e Trump entendeu que não vai se sustentar na prática, pois seu recente comunicado declarando isenções para diversos setores da exportação brasileira retratam que a economia sempre triunfa em cima da narrativa política.

Em tempos de redes sociais e algoritmos o grito nacionalista tanto da esquerda quanto da direita é válido para manterem suas respectivas torcidas de futebol ativas, porém, não se sustentam quando a economia fala mais alto, podendo impactar em resultados eleitorais.

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