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Economia

AJUSTE FISCAL

Racionalidade dos agentes econômicos vs. populismo

Postura do petista de culpar os investidores ou o 'mercado' pela disparada dos juros e da taxa de câmbio piora ainda mais o quadro econômico brasileiro

por João Amoêdo em 09/12/24 14:54

Brasília (DF), 03/12/2024 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa do lançamento e implementação da Missão 1 do programa Nova Indústria Brasil (NIB), no Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Após semanas de discussões internas sobre o pacote de redução de custos, fundamental para reduzir o desequilíbrio das contas públicas, o governo Lula divulgou, no final de novembro, um ajuste tímido e insuficiente de medidas. O anúncio trouxe incertezas adicionais à questão fiscal ao incluir na uma promessa de campanha – a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil – e uma nova tributação para quem tem renda anual superior a R$ 600 mil. O resultado foi uma nova disparada dos juros e da taxa de câmbio, com o dólar superando os R$ 6,00 pela primeira vez na nossa história.

A moeda brasileira encerrou o mês de novembro com uma desvalorização acumulada no ano de 23% em relação ao dólar, a pior performance entre as moedas relevantes no mundo. No mesmo período, o EWZ, índice em dólar que representa o valor das principais ações de empresas brasileiras, caiu 27% enquanto o S&P 500* teve um desempenho na direção oposta, apresentando uma elevação de 27%.

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As taxas de juros continuaram a trajetória de alta. As projeções no começo de 2024 indicavam que a Selic, a taxa de juros determinada pelo Banco Central, estaria, ao final do ano, próxima a 9%. Agora, o prognóstico mais provável é de que encerramos o ano em 12,25%. Entretanto, esse patamar dos juros não foi suficiente para reduzir a inflação, que deverá ficar acima da faixa superior da meta de 4,5%.

Entender o diagnóstico e identificar os responsáveis pela deterioração das expectativas econômicas e, consequentemente, dos ativos financeiros é o primeiro passo para revertermos esse quadro.

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Os agentes econômicos, sejam eles pessoas físicas, pequenos investidores, empresas ou gestores que administram volumes significativos de recursos, tomam suas decisões em relação aos investimentos com o mesmo propósito: preservar o patrimônio que possuem e obter o máximo de rentabilidade dentro dos riscos que estão dispostos a assumir. A política fiscal, tributária e monetária adotada, ou mesmo sinalizada, pelo governo é determinante para a alocação dos recursos pelos investidores e, portanto, para a precificação dos ativos.

Um bom exemplo para visualizarmos isso é analisarmos o que ocorreu nos ativos americanos após a eleição de Trump. O presidente eleito deixou claro, durante a disputa eleitoral, que, eleito, adotaria uma postura protecionista, aumentaria tarifas de importação para determinados setores e países, reduziria a carga tributária para empresas, incentivaria o uso de moedas digitais, entre outras medidas. O resultado, após a confirmação de sua eleição, foi a apreciação do dólar frente a outras moedas, o aumento de valor das empresas na bolsa, a alta dos preços das criptomoedas e uma elevação das taxas de juros devido ao provável efeito inflacionário e de aumento da dívida pública.

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No anúncio recente do governo brasileiro, ao misturar temas de campanha com corte de despesas, ficou clara a opção pelo discurso eleitoral e não pela responsabilidade fiscal, que ainda é tratada pelo presidente Lula sem a relevância e a urgência que o assunto merece.

A reação lógica dos investidores foi se proteger de um governo que não demonstra preocupação com a sua credibilidade. Juros mais altos e moeda desvalorizada são resultados esperados nesse contexto.

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Não há, no caso americano ou brasileiro, um posicionamento político de apoio ou de confronto por parte dos agentes econômicos; são apenas reações racionais ao cenário que se vislumbra com a atuação dos governos.

Culpar os investidores ou o “mercado”, como faz o presidente Lula, é apenas um discurso populista para se afastar de sua responsabilidade e tentar transferir a culpa que é do seu governo. O resultado dessa postura do presidente, também presente em mandatos anteriores, piora ainda mais o quadro econômico brasileiro e transfere a necessidade premente de cortes de despesas para o Congresso.

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Nesse sentido, temos um fato positivo com a PEC alternativa apresentada pelos deputados Pedro Paulo (PSD-RJ), Júlio Lopes (PP-RJ) e Kim Kataguiri (União-SP), que aborda temas similares à proposta do governo, porém de forma mais ampla e adequada, visando tornar as contas públicas sustentáveis. Para efeitos de comparação, o governo estima, com seu ajuste, uma economia de R$ 327 bilhões ao longo de 10 anos, enquanto os deputados projetam uma economia de R$ 1,1 trilhão no mesmo período com a PEC proposta.

A aprovação dessa PEC certamente traria outra leitura para os investidores, com impacto direto na valorização do real e na redução dos juros.

Saiba como o PIB, a queda de desemprego e o pacote fiscal estão transformando a economia brasileira:

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