O presidente, um dos maiores comunicadores populares da história brasileira, tem sido subutilizado num ambiente onde autenticidade, rapidez e emoção definem a narrativa
Mesmo com Lula sendo um presidente carismático, simples e com enorme capacidade de comunicação, o governo ainda não ajustou sua estratégia digital. A crise do INSS escancarou isso: quem chegou primeiro ao povo foi Nikolas Ferreira, e com 135 milhões de visualizações, moldou sozinho a indignação nacional.
Completando 150 dias de governo, desde o início da chegada de Sidônio Palmeira no governo, a comunicação digital de Lula ainda não encontrou seu tom, sua frequência, nem sua velocidade. O presidente, reconhecidamente um dos maiores comunicadores populares da história brasileira, tem sido subutilizado num ambiente onde autenticidade, rapidez e emoção definem a narrativa. O caso mais recente, envolvendo fraudes no INSS, escancarou essa deficiência.
“Com 150 dias de governo, a comunicação de Lula ainda não entendeu como fazer Lula ser Lula nas redes.”
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O problema, no entanto, é crônico. Há dois anos os canais oficiais da presidência mantêm baixíssimo engajamento, sem crescimento relevante. Lula tem hoje 13,3 milhões de seguidores de Instagram, mas esse número permanece praticamente estagnado há mais de dois anos, sem evolução proporcional à sua relevância pública ou ao volume de exposição. A taxa média de engajamento é de apenas 0,22%, um número incompatível com o tamanho da figura presidencial e com o potencial de alcance que poderia estar sendo explorado. Em paralelo, a crise foi ocupada por Nikolas Ferreira, que com um vídeo direto e emocional, atingiu 135 milhões de visualizações e comandou sozinho o sentimento coletivo.
O vídeo de Lula foi publicado apenas hoje, vários dias depois do auge da crise, quando o estrago já havia sido feito. Nas primeiras 3 horas, somava apenas 394 mil visualizações, enquanto Nikolas já ultrapassava 7 milhões no mesmo intervalo. A diferença é ainda mais simbólica: todos os perfis governistas que tentaram reagir também fracassaram em alcance e engajamento, sem conseguir mobilizar uma resposta digital à altura da indignação popular.
“Quando o governo demora, a oposição narra. E narra com força, alcance e indignação.”
Não se trata de algoritmo ou favorecimento das plataformas, mas de método, constância e linguagem. Nikolas atua com uma estratégia profissional e intuitiva ao mesmo tempo, conectando-se com as emoções dominantes da audiência. Ele faz do digital um campo de batalha diário, enquanto o governo ainda parece operar com protocolos de imprensa de 10 anos atrás.
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A ausência de Lula nos momentos críticos, ou sua presença apenas tardia, quebra a força simbólica que ele ainda tem junto ao povo. A comunicação não tem sido capaz de traduzir sua simplicidade e indignação em conteúdo direto e urgente.
A crise do INSS era a oportunidade de ouro para Lula resgatar a confiança do povo mais vulnerável, historicamente sua base mais fiel. Bastaria um vídeo simples, humano, com ele falando do coração, no tempo certo. Mas não foi feito. E mais uma vez, a narrativa foi escrita por quem chegou primeiro, não por quem governa.
A Ativaweb já demonstrou em diversos estudos que no atual ecossistema digital, a batalha simbólica não espera. Ela acontece em minutos, se espalha em horas e se cristaliza em percepções difíceis de reverter.
“No digital, a autoridade não é de quem governa. É de quem se posiciona primeiro.”