Influenciador denunciou exploração de crianças e adolescentes nas redes e citou Hytalo Santos como autor dessas práticas, que nega
O presidente da Câmara, Hugo Motta, usou as redes sociais para agradecer ao influenciador @Felcca pelo vídeo sobre a adultização das crianças, que, segundo ele, “chocou e mobilizou milhões de brasileiros”. E anunciou que esse tema será a prioridade nas votações da semana.
“Esse é um tema urgente, que toca no coração da nossa sociedade. Na Câmara, há uma série de projetos importantes sobre o assunto. Nesta semana, vamos pautar e enfrentar essa discussão. Conte com a Câmara para avançar na defesa das crianças”, escreveu Motta.
Felca fez denúncia de exploração infantil e sexualização de adolescentes nas redes, e fez uma acusação direta ao influenciador Hytalo Santos, que já é investigado pelo Ministério Público da Paraíba por essa suposta prática. Hytalo nega as acusações.
A fala de Motta não apenas colocou o tema no âmbito do legislativo, como também acendeu uma “disputa” no Congresso. Integrantes da bancada ligada à ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) correram para anunciar novos projetos, enquanto a deputada Sâmia Bomfim (PSol-SP) divulgou um vídeo com posicionamento crítico.
Em poucos dias, a pressão das redes invadiu o plenário, prometendo transformar a discussão sobre a proteção infantil em mais um embate de alta temperatura política.
Os números mostram por que o assunto mobiliza. Crianças de 0 a 2 anos conectadas à internet saltaram de 9% em 2015 para 44% em 2024. Entre 3 e 5 anos, a taxa foi de 26% para 71%, e, na faixa de 6 a 8 anos, de 41% para 82%. Já entre 9 e 17 anos, 83% têm perfil nas redes sociais, sendo que 60% dos de 9 e 10 anos já estão cadastrados, mesmo com a idade mínima oficial fixada em 13 anos.
O celular é o meio dominante: 98% acessam via smartphone, enquanto o computador, que já foi a principal porta de entrada, hoje é usado por apenas 37%. A posse de celular próprio também está nas alturas: 81% dos adolescentes têm aparelho, chegando a 97% nas classes A e B. O acesso precoce vem acompanhado de riscos, 29% relataram experiências ofensivas e 30% já tiveram contato com desconhecidos online. Além disso, 40% dos jovens de 11 a 17 anos não sabem identificar conteúdos patrocinados, o que aumenta a vulnerabilidade à publicidade disfarçada.
Para Alek Maracajá, CEO da Ativaweb, empresa de análise digital, a raiz do problema está na forma como os algoritmos operam.
“As plataformas entregam tudo que dá audiência — e a polêmica é campeã nisso. Sem auditoria, esses conteúdos são amplificados sem qualquer filtro. Isso não afeta só a saúde mental, mas também a saúde física das pessoas”, afirma.
Ele cita casos de influenciadores que, mesmo com menos seguidores que nomes como Felipe Neto, têm engajamento muito maior justamente por dominar a lógica algorítmica.
“Tem criador com 12 milhões de seguidores que chega a ter mais impacto no Instagram do que quem tem 17 milhões. Eles sabem como entregar o que gera repercussão, mas as plataformas não freiam esse ciclo.”
Na visão de Maracajá, a regulação precisa ir além das fake news.
“O PL das fake news já nasceu errado. Não é só sobre notícia falsa, é sobre como a lógica das plataformas está afetando a nossa saúde e, no caso das crianças, deixando marcas que podem ser para a vida toda.”
Enquanto redes, Congresso e influenciadores travam a disputa pela narrativa, uma coisa parece consenso: a infância está cada vez mais conectada e desprotegida. Um problema que não é novo, grave e que a tecnologia e redes sociais promoveram um crescimento exponencial.
O problema não é novo, mas cresceu exponencialmente com a popularização da tecnologia e das redes sociais. E, de todos os dados chocantes escancarados por Felca, o mais impressionante é que uma criança de 12 anos foi capturada por um canal que lucra com a adultização e a sexualização de jovens, um perfil com milhões de seguidores que, cinco anos depois, ainda circulava impunemente.