Eleições 2026
Dupla tem propostas de gestão baseadas em KPIs, promete não agradar a ninguém e esse é exatamente o plano
Por trás dos memes e da fama de “guerreiros digitais”, a dupla fundadora do MBL desenha o Partido Missão com propostas de gestão baseadas em KPIs e uma possível candidatura ao governo de SP e a presidência do País, que promete não agradar a ninguém e esse é exatamente o plano.
Onde a internet vê um avatar digital agressivo, muitas vezes pixelado pela fúria dos spaces do Twitter, a realidade apresenta um Renan Santos estrategista articulado. Já com Kim Kataguiri, o choque é menor: o “Kim do Parlamento” é basicamente o “Kim das Redes”, apenas ajustando o volume do microfone e vestindo um terno para cumprir o rito institucional.
Essa dicotomia entre a persona online e a vida real é o ponto de partida da nova fase da dupla. Enquanto Renan teoriza que a sociedade adoeceu ao interagir com pixels em vez de pessoas, criando expectativas distorcidas sobre quem eles são, Kim prefere a consistência: a dureza do discurso é a mesma, seja no plenário ou no YouTube.
Juntos, eles tentam agora “hackear” o sistema partidário brasileiro com a criação do Partido Missão, uma legenda que promete trocar a ideologia de algibeira pela eficiência de gestão, apostando que o eleitorado está cansado do teatro político tradicional. Numa entrevista exclusiva ao MyNews eles contam os planos do Partido Missão para 2026.
A parceria que hoje sonha em governar São Paulo e o Brasil nasceu de uma rivalidade de mercado. Em 2014, ambos trabalhavam no marketing digital de candidatos rivais e perderam. A união foi selada não por um tratado ideológico, mas por um vídeo viral para Danilo Gentili e uma atitude prosaica: Kim, então um jovem aspirante, desceu para buscar uma pizza no escritório de Renan. A humildade do gesto (“o moleque trabalha”, pensou Renan) cimentou a amizade que fundaria o MBL e levaria milhões às ruas naquele novembro histórico.
Hoje, o diagnóstico da dupla sobre o Brasil é ácido. Para eles, o país roda em um “mainframe” obsoleto, preso na briga “Ditadura versus Comunismo” das décadas de 1960 e 70. Enquanto a esquerda e a direita clássica brigam sobre fantasmas do passado, Kim e Renan apontam para a carteira vazia dos jovens.
A tese é polêmica: o pacto geracional quebrou. Segundo a dupla, a geração “boomer” acumulou direitos e pendurou a conta no pescoço dos mais jovens, que hoje vivem empobrecidos e sem acesso a patrimônio. É o fim do Estado de Bem-Estar Social como conhecemos, substituído por um Estado de “Bem-Estar dos Mais Velhos”.
Se o diagnóstico é duro, a solução proposta pelo Partido Missão flerta com o experimentalismo. Desafiando a cartilha liberal clássica do Homo Economicus , a ideia de que o indivíduo sempre toma decisões racionais, a dupla admite que, no mundo das “bets” e do vício digital, o ser humano muitas vezes escolhe a própria ruína. A resposta de Renan? Uma pitada de paternalismo estatal para evitar o colapso social.
Mas a grande inovação, ou heresia, dependendo de quem ouve, é a proposta de “Empoderar o Executivo”. Inspirados em modelos asiáticos e na era Roosevelt nos EUA, eles defendem que governantes precisam de meios reais de ação, e não apenas de cargos.
Para limpar a política da ineficiência, o Missão propõe uma reforma radical no financiamento partidário: KPIs (Indicadores-Chave de Desempenho) para partidos.
Como é hoje: O partido ganha fundo partidário baseado em quantos deputados elege (o que incentiva puxadores de voto e celebridades).
Como eles querem: O partido ganha recursos se entregar resultados reais — melhora no IDEB, saneamento básico ou redução da criminalidade.
A lógica é simples: trocar o prefeito que gasta milhões em shows de sertanejo universitário por aquele que bate metas de gestão.
O laboratório dessa nova estratégia já tem data e local: o Estado de São Paulo, em 2026. Kim Kataguiri desenha uma candidatura ao governo estadual com o objetivo explícito de entrar num sanduíche político, enfrentando tanto a máquina de Tarcísio de Freitas quanto o ungido de Lula.
A estratégia não é necessariamente vencer a qualquer custo, mas marcar posição com uma “honestidade brutal”. Kim quer usar a tribuna eleitoral para tocar em feridas que marqueteiros escondem: a insustentabilidade da previdência e as falhas de gestão do SUS, que, segundo ele, é excelente no transplante complexo, mas falha quando o cidadão precisa de um band-aid na atenção primária.
Renan admite posições duras, como a punição severa para o abandono paterno, ligando-o diretamente à criminalidade juvenil, mas acredita que vocalizar esses tabus com leveza é o caminho.
O plano final? Lançar cerca de 1.700 candidatos munidos de inteligência artificial e militância digital, permitindo que pessoas comuns, sem sobrenomes famosos ou fortunas, disputem o poder. Para Kim e Renan, vencer a oligarquia jogando no “nível hard” não é apenas uma estratégia, é a única forma de fazer o game valer a pena