Declarações foram dadas no Espírito Santo, em evento voltado à reparação das populações atingidas pelo rompimento da barragem em Mariana
O presidente Lula ironizou e imitou nesta nesta sexta-feira, 11, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL/SP) por pressionarem o Brasil a não julgar o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, a quem chamou de “coisa”.
As declarações foram dadas em Linhares, no Espírito Santo, em evento que integra o Novo Acordo do Rio Doce, voltado à reparação socioeconômica das populações atingidas pelo rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, em Minas Gerais, em 5 de novembro de 2015.
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“Aquela coisa covarde, que preparou um golpe neste país, não teve coragem de fazer, tá sendo processado, vai ser julgado, e ele mandou o filho dele para os Estados Unidos pedir para o Trump fazer ameaça: ‘Ah, se não liberarem o Bolsonaro, eu vou taxar vocês'”, disse o presidente da República.
“Eu quero dizer, com todo respeito ao presidente Trump, o senhor está mal informado, muito mal informado, os Estados Unidos não tem déficit comercial com o Brasil, é o Brasil que tem déficit comercial com os Estados Unidos. Só para vocês terem ideia em 15 anos, entre comércio e serviço, nós temos um déficit de US$ 410 bilhões com os Estados Unidos. Eu que deveria taxar ele”, continuou.
“Qual é a lógica dele? ‘Ah, não processa o Bolsonaro, para com isso imediatamente, mas imediatamente’. Porque a coisa, a coisa, mandou um filho que era deputado se afastar da Câmara para ir lá ficar pedindo: ‘Ô Trump, pelo amor de Deus, Trump, solta meu pai. Não deixa meu pai ser preso, não sei das contas’. É preciso essa gente criar vergonha na cara”, disse Lula.
O petista aproveitou para lembrar que na ação penal da tentativa de golpe, em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria-Geral da República usou na denúncia a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e conversas obtidas entre militares.
“Quem tá denunciando ele são os generais e o ajudante de ordens dele que era coronel do Exército. Vocês sabem que, quando eu estava sendo processado, muitas vezes as pessoas diziam para mim: ‘Ô Lula vai para uma embaixada, ô Lula sai do Brasil’. Eu falava: ‘Caramba, é o seguinte: quem é inocente não abaixa a cabeça, enfrenta as consequências'”
Lula também disse que Trump, se posse brasileiro, poderia ter sido preso por causa da invasão ao Capitólio: “Se o Trump fosse brasileiro e aqui tivesse um Capitólio e ele fizesse aqui o que ele fez nos Estados Unidos, ele também ia ser preso, ele também ia ser preso. Porque o poder Judiciário é autônomo, não como eu interferir na Suprema Corte. Não, ele vai ser julgado com base nos autos”.
O presidente disse que não vão “brincar com o Brasil” e que não faz confusão entre o comportamento de Trump e o povo americano, o qual tem muito respeito. “É um povo trabalhador, e são tão trabalhadores que os Estados Unidos se transformaram na maior potência do mundo”, declarou.
“Vou tentar brigar em todas as esferas para que não venha a taxação, vou brigar na OMC [Organização Mundial do Comércio], vou conversar com os meus companheiros dos BRICS, agora, se não tiver jeito no papo, no tete a tete, nós vamos estabelecer a reciprocidade, taxou aqui, a gente taxa lá, taxou aqui, a gente taxa lá, não tem outra coisa a fazer, não tem”, continuou.
Lula também reclamou do fato de o anúncio da tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras ter sido feito nas redes sociais: “Ele nem uma carta fez, ele fez um negócio no site dele. Sentou no sofá, pá pá pá pá pá: ‘Ô, Lula, se você não soltar o Bolsonaro, eu vou taxar’. Realmente, gente, essas pessoas não sabem o que é o respeito que nós temos pelo nosso país, essa gente não sabe que nós não somos um pouco qualquer”
“Tenham certeza de uma coisa: esse país não baixará a cabeça para ninguém, para ninguém. Ninguém porá medo neste país com discurso e com bravata, ninguém. E eu acho que, neste aspecto, nós vamos ter o apoio do povo brasileiro, que não aceita nenhuma provocação”, finalizou.