Entoando a Constituição, Tarcísio e Malafaia bradaram contra o STF e Moraes, em um último suspiro antes do fim do julgamento
Se ainda havia alguma dúvida sobre a aderência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à campanha pela anistia e ao desejo de ser o herdeiro do espólio do ex-presidente Jair Bolsonaro, o ato na avenida Paulista eliminou qualquer incerteza.
Em cima do carro de som, o governador não hesitou nas palavras e atacou o Supremo Tribunal Federal, em especial o ministro Alexandre de Moraes. Chamando o processo da tentativa de golpe de “um crime que não existiu”, foi taxativo ao dizer que é preciso ter o ex-presidente nas eleições de 2026. “Deixa o Bolsonaro ir para a urna, qual o problema?”
Ora, tudo o que ele, provavelmente, não quer é ter Bolsonaro na urna. Tarcísio é astuto e minimamente oportunista para saber que se tornar presidente da República é questão de circunstância e não de destino, e ele não quer deixar a chance passar. Sendo a empreitada grande, o risco segue a proporção. Tarcisio de Freitas está disposto a correr esse risco? Neste momento ele parece apostar alto e ver até onde será possível essa jogada.
Leia Mais: Para atrair bolsonaristas, Tarcísio chama Moraes de ditador
Ele deveria, contudo, atentar mais à fala do pastor Silas Malafaia para entender que o caminho de Bolsonaro, ao menos até aqui, é só um: levar até quando der a campanha com seu nome. Vociferando do carro de som, entremeado por uma sonoplastia sensacionalista de denúncia e suspeense, típica de redes sociais, Malafaia lembrou o episódio de Lula em 2018, quando, ainda preso, decidiu deixar para último momento a nomeação de Fernando Haddad naquele pleito.
A história não foi contada, se não pelo motivo óbvio para quem acompanha a política e vê os lances à frente. Politicamente para Bolsonaro, levar sua campanha até os últimos minutos possíveis, antes do registro final no TSE, é condição primordial para a sobrevida do ex-presidente.
Ademais, em meio às declarações apocalípticas de Malafaia houve outra constatação, ainda mais inequívoca: a imprevisibilidade e o embate sempre caracterizaram a trajetória política de Bolsonaro. Por que razão, justamente no momento de maior pressão sobre ele e seu círculo, isso mudaria? Por que, após todos os ataques do bolsonarismo ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral, e depois de se tornar inelegível, ele assumiria uma postura institucional e anunciaria seu candidato dentro dos prazos estabelecidos? Essa narrativa soa pouco convincente. Mais plausível é apostar no caos daqui até a eleição do próximo ano.
Tarcísio, claro, tenta mandar às cucuias a ideia de moderado, roupa, aliás, que nunca lhe serviu bem. Seu objetivo é mostrar para o criador que está pronto para representá-lo e ser a criatura perfeita. Falta chão até a eleição e os prazos legais que a antecede, mas o 7 de setembro, que desde a ascensão do bolsonarismo não cansa de surpreender, desta vez foi a largada para um Tarcísio que, nas palavras de Silas Malafaia é um “leão da anistia”. Resta saber se ele não será abandonado pelo caminho como todos os outros.