“O Estado brasileiro deveria ter me respondido quem foram os torturadores dos meus pais, não eu”, afirmou o escritor e colunista de Veja
Em 2017, o escritor e colunista de Veja Matheus Leitão terminou, com a publicação do livro “Em nome dos pais”, um longo trabalho em busca de respostas sobre as torturas sofridas por seus pais, Míriam Leitão e Marcelo Netto, durante a ditadura militar. Ao MyNews Entrevista (assista abaixo), ele falou sobre a obra e mostrou preocupação com o futuro da democracia no Brasil, lembrando a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
Matheus Leitão explicou o que o motivou a escrever as 438 páginas, que, em breve, vão ser adaptadas para o cinema, com roteiro da dramaturga Maria Adelaide Amaral, autora de grandes sucessos: “Eu ficava achando que faltava alguma coisa porque eu investigava todas essas histórias, fazia grandes trabalhos e gastava um tempo enorme da minha vida atrás de histórias do regime, mas as respostas em relação à minha família eu não tinha.”
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“Pra mim tem uma questão que é chave: o Estado brasileiro deveria ter me respondido quem foram os torturadores dos meus pais, não eu, como filho e jornalista, ter ido e descoberto quem eram esses torturadores”, afirmou. “O livro, entre outras coisas, releva o nome dos torturadores dos meus pais e isso é, de fato, algo que eu precisava saber. Como pessoa, eu precisava entender e precisava que isso fosse esclarecido de uma vez por todas para que eu pudesse seguir em frente.”
Míriam Leitão e Marcelo Netto foram presos e torturados no 38° Batalhão de Infantaria do Exército, no Espírito Santo. “Esse lugar, porque o Exército está sem dinheiro, virou um lugar onde eles alugam para festas e formaturas. Eu escrevi uma coluna recentemente na Revista Veja em choque porque fizeram um café no local onde meus pais foram torturados e presos. Não faz sentido algum que aquele lugar não seja colocado como algo de memória”, disse o escritor.
Matheus Leitão reconhece avanços após a redemocratização para se entender o que aconteceu no período ditatorial, mas os consideram pequenos: “Muito me surpreende que todos os presidentes civis nunca tenham feito um esforço – tiveram pequenos movimentos, mas, na minha opinião muito tímidos – para que as pessoas tivessem acesso a todas as informações.”
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“Para você ter ideia, a Comissão Nacional da Verdade trouxe uma lista de torturadores e dois dos torturadores dos meus pais não estavam nesta lista, estão aqui no livro, ou seja, a apuração não é completa, faltou muita coisa”, afirmou Matheus Leitão, que continuou: “Eu admito que as comissões criadas foram um avanço, mas para mim avanços tímidos: Comissão de Anistia, Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos. O Brasil precisava ter feito uma Justiça de transição.”
Acompanhe a íntegra da entrevista concedida por Matheus Leitão a Afonso Marangoni, do MyNews: