Atual prefeito do município desponta como favorito para vencer na cadeira de Governador, enquanto núcleo aliado do ex-presidente, não consegue um nome para disputar pleito
O Rio de Janeiro pode ter, a partir de 2027, uma sucessão na cadeira de governador e, após oito anos, sair da extrema-direita que começou com Wilson Witzel em 2019 e seguiu com Cláudio Castro, que assumiu em 2020, sido reeleito em 2022. Com isso, o cenário atual demonstra Eduardo Paes como favorito e, até o momento, sem um grande concorrente para enfrentá-lo. Por outro lado, o bolsonarismo parece perder força no estado onde nasceu e não apresenta um nome capaz de mobilizar sua militância em busca de votos.
Diante desse contexto, o MyNews foi atrás de respostas e conversou com Geraldo Tadeu Monteiro, cientista político e professor da Faculdade de Direito da UERJ. Em sua análise, ele afirma que o cenário está bastante estabilizado para as eleições que acontecem daqui a um ano. Aliás, Paes aparece com 61% nas projeções de votos, segundo o Real Time Big Data. E pode vencer ainda no primeiro turno.
Geraldo: Temos hoje um quadro bastante estabilizado. A candidatura de Eduardo Paes aparece com ampla vantagem. Pesquisas apontam cerca de 55% a 56% das intenções de voto. Considerando que esses números representam votos induzidos, mas que na urna se transformam em votos válidos, já que os eleitores que não sabem, não responderam ou votam nulo e branco são excluídos, Eduardo Paes tem hoje cerca de 70% dos votos válidos. É uma posição bastante confortável.
Mas ainda faltam muitos meses para a eleição, e ela tem uma temporalidade própria. Ou seja, as coisas podem mudar e mudarão certamente com o surgimento de outros candidatos viáveis.
Geraldo: Do lado do bolsonarismo, o que vemos é uma desarticulação muito grande. Isso ocorre, eu diria, pela perda do principal líder, já que Bolsonaro está preso e, em condições precárias, não delegou a nenhum dos filhos essa articulação. Assim, assistimos a uma desorganização evidente do campo bolsonarista.
Naturalmente, aqueles que estão nesse campo, deputados estaduais e federais, procuram algum porto seguro. Ninguém vai ficar à deriva. Essa desarticulação é clara.
Enquanto isso, Eduardo Paes constrói uma coalizão centrista bastante ampla, que vai do PT até setores do próprio bolsonarismo. O deputado federal Sostenes Henrique Cavalcante (PL-RJ) afirmou que parte dos bolsonaristas do Rio tem simpatia por Eduardo Paes.
Portanto, há hoje uma total desarticulação do campo bolsonarista, especialmente com a disputa entre Bacellar e Cláudio Castro, que se desentenderam por motivos políticos menores e deixaram esse grupo bastante fragilizado.
Em outros anos, como em 2006 e 2018, Eduardo Paes concorreu ao governo do estado e, na última disputa, foi varrido pela onda bolsonarista. Geraldo avalia como a Baixada Fluminense, que votou em Witzel e Castro nos últimos pleitos, pode reagir e quem deve apoiar o atual prefeito do Rio.
Geraldo: Eduardo Paes, em todas às vezes que tentou se candidatar, aliás, na última vez também, enfrentou o mesmo problema. Sempre foi muito bem votado no município do Rio, bastante conhecido e com boa avaliação, mas na Baixada Fluminense e no interior seus índices eram muito baixos.
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Ele tem feito grandes esforços para se tornar mais conhecido na região metropolitana, contando com o apoio de Quaquá, em Maricá, e do prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, além de buscar inserção em São Gonçalo, na Baixada Fluminense, em São João de Meriti e em outros municípios.
Geraldo: Ele faz um grande esforço para equilibrar, pelo menos, sua votação na Baixada Fluminense. O interior é bem mais difícil, embora ele siga tentando se aproximar dos prefeitos da região, mas com muito mais dificuldade. A estratégia dele hoje é conquistar uma votação maciça na capital, empatar o jogo na região metropolitana e tentar algum avanço no interior para buscar a vitória ainda no primeiro turno.
Sobre o fenômeno bolsonarista, o que mudou? E quem pode concorrer?
Geraldo: 2018 foi uma eleição totalmente atípica, marcada pelo fenômeno Bolsonaro, que levou Wilson Witzel, então nas últimas posições das pesquisas, à liderança em um intervalo de 48 a 72 horas. A eleição foi vencida no segundo turno com relativa tranquilidade. Em 2022, tivemos a candidatura à reeleição de Cláudio Castro, que usou com força a máquina estadual.
Portanto, são duas eleições que não servem muito de referência. Agora, o governador não busca a reeleição e não há uma candidatura consolidada do bloco do poder. Em princípio, esse papel seria de Bacellar, mas não existe um entendimento claro nesse sentido. Assim, a eleição atual se mostra bem mais favorável a uma candidatura de fora, como a de Eduardo Paes.
E para o Senado no Rio? Como está o cenário? Quem pode vencer as cadeiras?
Geraldo: Tudo indica que a eleição mais disputada será para o Senado. Haverá duas vagas em disputa e alguns candidatos já conhecidos na política do estado. Devemos ter, com certeza, Flávio Bolsonaro tentando a reeleição e Benedita da Silva como candidata. Há também um movimento para que o deputado Pedro Paulo se candidate pelo grupo de Eduardo Paes.
Portanto, tudo indica que será uma eleição bastante acirrada. Agora, é impossível fazer um prognóstico. Existem algumas pesquisas, mas o índice de pessoas que não responderam ou não sabem é muito alto. O Senado é uma instituição ainda muito distante da população em termos de compreensão, o que dificulta apontar hoje um favorito para essa disputa.