Coluna de Rodrigo Augusto Prando ao MyNews
A Deputada Federal Carla Zambelli anunciou, hoje, que se encontra fora do Brasil, para tratamento de saúde e que pedirá licença à Câmara dos Deputados, de seu mandato. Sua conduta deu-se após o Ministério Público Federal acusá-la de coordenar a invasão a sistemas do Poder Judiciário, com um falso mandado de prisão contra o Ministro Alexandre de Moraes; há, ainda, outro processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por conta de, às vésperas do segundo turno de 2022, ter perseguido um homem de pistola em punho. Além de perder o mandato poderá ser presa.
Politicamente, muitos – inclusive o ex-presidente Jair Bolsonaro – colocam a derrota para Lula na conta de Zambelli que, em seu ato armado, pode ter tirado votos num momento delicado, já que ela sempre representou o bolsonarismo “raiz”. A partir desse episódio, houve o afastamento entre a deputada e Bolsonaro. Segundo Zambelli, seguiu-se um período de depressão e ostracismo político em sua própria terra.
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Juridicamente, Zambelli, como praticamente todo o núcleo duro do bolsonarismo, deverá acertar contas com a Justiça brasileira, já que, no geral, foram cometidos diversos e distintos crimes tipificados na legislação. Todavia, a narrativa que prevalece é que existe uma perseguição do STF à direita, aos conservadores, e, especialmente, de Alexandre de Moraes, o inimigo número 1 a ser vencido. Tamanha é a gana dos bolsonaristas que, no plano de golpe de Estado, havia planos de assassinar Lula e Alckmin, eleitos em 2022, e o Ministro Moraes, numa ação levada a cabo por forças especiais do exército brasileiro.
Sabendo da deterioração política e jurídica, Zambelli segue o roteiro de tantos outros bolsonaristas que, ao invés de assumir suas responsabilidades por suas ações, retiram-se do país por considerar que a Justiça e Moraes agem ilegalmente, sem lastro jurídico e que tal posicionamento revela uma “ditadura do judiciário”. Essa é a narrativa compartilhada na bolha da extrema direita e, como se pode depreender, tais narrativas costumam ter poder de não apenas mobilizar por meio das ideias, mas, também, são capazes de levar a ações concretas, como, por exemplo, na invasão das sedes dos três poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023. Destes bolsonaristas que saíram do país, muitos possuem condições financeiras para bancar suas despesas no exterior; outros, nem tanto, já que optaram por países como a Argentina, numa clara escolha pela ideologia do Presidente Javier Milei, simpático a Jair Bolsonaro. Ademais, é por esse motivo que, não raro, a justiça pede que os indivíduos entreguem seu passaporte, pois assim não poderiam deixar o Brasil pelas vias costumeiras.
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Zambelli, já na Europa, numa entrevista, afirmou – comparando-se a Eduardo Bolsonaro – que: “O caminho nos Estados Unidos já está asfaltado [por Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo]. É justamente por isso que estou escolhendo a Europa. Lá a gente precisa de alguém que fale espanhol, português, inglês. Eu vou desenvolver meu italiano. Quero estar nos principais lugares, falar com o povo francês. Em cada lugar temos pessoas que podem lutar por nós”. E, complementa: “O conservadorismo precisa avançar, e o globalismo, a esquerda precisa recuar”.
Tais declarações não parecem se coadunar com quem vai em busca de tratamento de saúde e, menos ainda, de quem pretende voltar ao Brasil para cumprir as determinações judiciais em voga. Zambelli e tantos outros, inclusive Bolsonaro, tinham certeza da reeleição e suas ações políticas ultrapassaram, segundo as investigações e denúncias, a fronteira das leis e da própria Constituição. Aguardaremos os desfechos: político e jurídico.
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