Arquivos Conrado Micke Moreno - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/conrado-micke-moreno/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Sat, 11 Jun 2022 12:03:52 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 A eleição no corpo humano https://canalmynews.com.br/voce-colunista/a-eleicao-no-corpo-humano/ Thu, 19 May 2022 14:25:21 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=28548 O que aconteceria se o corpo humano quisesse eleger um presidente para cuidar dos seus órgãos? E o que isso tem a ver com o governo brasileiro?

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Eu não sei quem é o autor dessa história, por isso não posso dar o devido crédito, mas sei que é uma história bastante ilustrativa e que, como muitas outras histórias, serve como metáfora para diversas situações da vida cotidiana, inclusive com a situação que nosso país vem passando no momento atual, com o presidente e o governo que temos.

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Vamos à história: certo dia, ao acordar, enquanto o corpo humano fazia suas necessidades matinais, alguns órgãos do corpo, reunidos na sala do cafezinho, conversavam.

Já é de manhã e mal descansei! Disse o pâncreas.

Pior eu, que tive que filtrar toda aquela cerveja de ontem! Exclamou o fígado.

Vocês não fazem ideia da sujeira que tive que limpar depois daquela pizza de quatro queijos com aliche. Estou esgotado, reclamou por sua vez o estômago.

Até que o esôfago, órgão sempre elegante, daqueles que parecem sempre ter saído de um
banho de loja exclamou:

Acho que deveríamos ter um presidente do corpo!

Como assim? Perguntou admirado o pâncreas, diante do olhar espantado dos colegas.

Um presidente para colocar ordem nessa bagunça. Alguém que represente o novo e que
saiba como lidar com essa velha forma de gerenciar o corpo. Alguém que represente os bons valores morais e que nos faça ter tranquilidade como órgãos importantes que somos.

A ideia se espalhou e logo todos os órgãos estavam reunidos em um ambiente para discutir o assunto lançado pelo esôfago. Em uma mesa diretora estavam o cérebro, o coração e o fígado, mediando a conversa. Depois de vários discursos inflamados, que fizeram o estômago arder de asia, o cérebro levantou a questão:

Quem aqui presente é a favor da eleição de um presidente para o corpo, dando poderes ao eleito de monitorar e organizar de forma harmoniosa o funcionamento de todo o corpo, fazendose obedecer por todos principalmente nos momentos de crise sem nenhum tipo de objeção?

Todos levantaram a mão, apoiando a ideia.

O coração então arrematou dizendo:

Muito bem! Para que sejamos justos podemos fazer uma eleição entre nós. Acredito que
poderemos pensar em alguns candidatos, dois por exemplo… Talvez aqueles mais nobres e importantes, com funções extremamente relevantes para toda a sociedade corpórea… Quem sabe o Excelentíssimo colega cérebro e para concorrer eu, o coração, que como meu próprio nome diz, sou o coração de tudo, inclusive do sangue que vos alimenta e também ao cérebro.

Todos aplaudiram com entusiasmo a fala do coração e o cérebro com seu pensamento rápido e cheio de ideias retrucou:

Eu, como aquele que envia os comandos e os sinais para todos os órgãos, músculos e
controlador do sistema nervoso, concordo com o digníssimo colega, o Sr. Coração e me coloco como candidato ao cargo de presidente do corpo humano, se assim os nobres senhores desejarem, disputando de forma leal e democrática com qualquer oponente.

A plateia foi ao delírio e o coração, emocionado concluiu:

Se assim desejarem, serei eu o representante de todos aqueles que sofrem por amor a esse corpo maltratado e enfrentarei sem medo o meu oponente, o ilustríssimo Sr. Cérebro.

O som das palmas e gritos de apoio foi quase ensurdecedor, todos estavam em êxtase com os dois candidatos. Aqueles que todos consideravam os mais importantes em uma disputa inédita pela presidência do corpo humano. Até que, assim que o silêncio se fez, o fígado, empossado Presidente da mesa diretora, passou a anunciar as regras da disputa:

Senhores órgãos do corpo humano, quero aqui…

Nesse momento ele foi interrompido por um pedido de palavra. Alguém de forma tímida e quase inaudível. Alguém sentado no fundo do auditório, isolado, sem nenhum colega ao seu lado pediu a palavra. Todos se viraram para olhar e para surpresa geral, viram. Era o cú pedindo a palavra

O silêncio se fez e o fígado, revirando a bile de raiva por ter sido interrompido disse:
Pois não Sr. Cú, pode falar.
O cú então, pouco acostumado a falar em público, a ficar em evidência, reuniu do seu fundo todas as forças e falou:
Achei muito boa a ideia dessa eleição, apoio totalmente, mas é o seguinte…
O silêncio em toda a sala era ensurdecedor. Todos olhavam admirados, pois ninguém podia imaginar que o cú emitia sons além daqueles desagradáveis e constrangedores que todos estavam acostumados, até que o fígado, esverdeado de fúria, disse:
Sim Sr. Cú, conclua por favor.
Então, eu ouvi o Cérebro falar da sua importância, que aliás eu concordo, o Coração também falou que ele é o cara, o que eu também concordo, mas… Veja bem… Eu também quero ser candidato a presidente do corpo!
Foram três os segundos de silêncio até que todos caíssem em uma gargalhada de tirar o fôlego de qualquer vivente. Ninguém podia acreditar no que acabara de ouvir. O cú, candidato a presidente ?! O cú, aquele órgão fedido e maleducado, sinônimo das piores coisas e usado como xingamento. O cú, presidente?! Que ideia de cú podia ser essa?

Alguns minutos se passaram até que o silêncio pode voltar e então o fígado, já mais calmo, disse:

Olha Cú, com todo o respeito que tenho por você, vou te falar sinceramente. Você não pode ser candidato.

Por que não? Perguntou indignado o cú.

Por quê? Você ainda, depois dessa manifestação toda me pergunta por quê? Meu amigo,
olhese no espelho e tire suas conclusões. Você não tem os prérequisitos para ser nem
síndico, quanto mais presidente. Olhe para o aspecto culto do cérebro e para a beleza interior do coração e me diga se está à altura de concorrer com eles.

Todos se manifestaram a favor do fígado, com palavras de desprezo e deboche às pretensões do cú, que, se sentindo humilhado disse:

Pois bem. Compreendi. Com seu riso e suas palavras vejo que não me dão o devido valor. Mas eu digo que todos vocês irão aprender a dar valor ao cú. A partir de agora eu não estou aberto à negociação. Inclusive com o senhor, Sr. Intestino, que não me apoiou nessa cena humilhante pela qual eu passei.

E, fechado em sua ira, o cú se retirou e todos voltaram suas atenções ao planejamento da
eleição entre o cérebro e o coração.
Mas o cú estava fechado em suas amarguras e por ele nada passava.

Os dias foram passando e a campanha eleitoral começara animada, com debates entre os
candidatos. Não deu para notar que o cú havia travado.
Algum desconforto começou a ser notado por volta do quarto dia, mas nada sério havia sido detectado.

A situação foi piorando, até que o intestino avisou:

Pessoal, precisamos conversar com o cú, eu estou com mais da metade do meu depósito
cheio e o cú não abre.

Ah! Ele ficou magoadinho foi? Disse o fígado

Deixe ele! Vou enviar um comando no sistema nervoso e ele vai ter que abrir, disse o
cérebro.

O cú por sua vez se fechara em copas e nenhuma mediada havia funcionado. O intestino voltou a reclamar dizendo que só tinha espaço para mais um dia e depois, se nada
fosse feito, iria dar merda.

Os órgãos do corpo, de modo geral estavam entrando em pane. O pulmão respirava fraco e o ar andava poluído, o rim não tinha força para bombear os líquidos indesejáveis para a bexiga, o fígado estava com seu sistema de filtragem comprometido, o coração não tinha forças para distribuir o sangue em quantidades necessárias para todo o corpo e até o cérebro, que sempre pensava em uma solução, se mostrava lento e sem memória.

Até que o duodeno, do alto de sua nobre simplicidade sugeriu:

Acho que devemos falar com o cú e para o bem de todos eu não só o considero candidato como dou ao cú o meu voto para o cargo de Presidente do Corpo Humano.

Todos, sem exceção, concordaram e na mais rápida eleição e apuração feita em qualquer outro corpo humano na história da humanidade, elegeram o cú como Presidente da República Federativa do do Corpo Humano.

O final foi feliz. O cú assumiu seu cargo, abriu as comportas e tudo voltou ao normal. Trabalhou muito para organizar o corpo e passado um tempo esse funcionava como um
relógio.

Aí então o amigo leitor, me pergunta Mas o que tem esse texto com o atual governo e o seu mandatário? Ou mais especificamente, o que tem a ver o cú com as calças?

O Brasil não está funcionando como um relógio, pelo contrário. Estamos vivendo a pior crise institucional, a pior situação econômica e social já havida em nosso país após a
redemocratização. Estamos banalizando a corrupção e vendo a Amazônia e seus habitantes serem dizimados sem que o governo tome qualquer providência para que isso seja contido.

Estamos diante de 665.000 mortos pela Covid 19 sendo que a maioria dessas mortes teriam sido evitadas se o governo tivesse se balizado pela ciência, etc, etc, etc

E eu direi: Realmente, não é possível comparar esse governo ao nosso personagem da história, o Exmo Sr. Cú. Afinal ele uniu todos e arrumou a casa. Aliás, ele, diferentemente de alguns que conhecemos, é um trabalhador. Seu trabalho é reconhecidamente importante e diário. Não tem folga nunca.

A semelhança fica apenas no fato de ser um outsider, como se autoproclamava erroneamente nosso Excelentíssimo chefe do Executivo e ainda, assim como o Excelentíssimo Sr. , que foi desacreditado e humilhado, não sendo levado a sério por ninguém, o digníssimo Sr. Presidente da nossa República, foi igualmente desacreditado, todos, inclusive esse que vos fala, tinham a certeza de que ele não passaria jamais do primeiro turno. Fomos muito imprudentes.

Sendo assim, só é possível comparar o atual governo a aquilo que é excretado pelo digníssimo presidente do corpo humano.

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Sessão de tortura ‘terapêutica’ https://canalmynews.com.br/voce-colunista/sessao-de-tortura-terapeutica/ Fri, 22 Apr 2022 13:00:28 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=27792 Em entrevista, Eduardo Bolsonaro desdenhou de tortura sofrida durante ditadura militar no Brasil nas décadas de 60 e 70.

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É uma sexta-feira do mês de setembro na cidade de São Paulo. Corre o ano de 1970. Apesar da chegada da primavera, esse é um dia característico da cidade, temperatura baixa e uma garoa fina que congela até os ossos. Wagner entra no prédio do Doi-Codi na Rua Tutoia carregando excepcionalmente uma maleta.

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Se dirige à recepção e pergunta:

– Eu tenho o horário das 10:30h com o sargento Olegário, ele já está atendendo?

– Sim, responde a recepcionista. Vou separar sua pasta e logo ele chama. Pode aguardar na sala de espera.

Ele então olha para a sala que está cheia e diz:

– Mas todas essas pessoas estão na minha frente?

– Não. Essas pessoas vão passar com o chefe, o Dr. Tibiriçá. O sargento Olegário está terminando de atender e logo chama o senhor.

Logo a porta da sala se abre, uma pessoa sai e Wagner é chamado.

– Bom dia senhor Wagner, como tem passado? Pergunta o sargento Olegário.

– Bem. E o senhor? Responde Wagner.

– Bem também, graças a Deus. Trouxe uma maleta hoje, o que tem nela?

Wagner um pouco constrangido revela a ideia que teve:

– Então sargento, eu trouxe aqui uma câmera de super 8. Peguei emprestada de um amigo porque queria gravar nossas sessões de tortura. Minha família quer saber como tudo acontece, me fazem muitas perguntas e pensei em gravar para compartilhar com eles e com meus amigos. Além disso eu fiquei pensando, vai que algum dia alguém duvide desses fatos. Tendo isso gravado eu posso provar. O que o senhor acha?

– Ótima ideia! Como não pensamos nisso antes. Vai montando o equipamento enquanto eu preparo o material. O senhor trouxe tripé? Posso chamar o cabo Casmurro para filmar com a câmera na mão. Ele pode aproximar e mostrar um pouco mais de realismo. O que o senhor acha? Ele é meio tonto mas acho que consegue fazer isso.

– Supimpa! E o que nós vamos fazer hoje? Na semana passada eu fiquei no pau de arara.

Depois de berrar no corredor chamando o cabo Casmurro o sargento responde:

– Hoje iríamos esmagar suas bolas com uma morsa, mas isso não vai ficar bem na filmagem. Podemos arrancar suas unhas com alicate ou dar choque nos mamilos…

– Ahhh! Vou preferir o choque nos mamilos hoje. Amanhã vou ser padrinho de casamento de um amigo do partidão e quero estar nos trinques.

– Sério! E quem vai se casar?

– Um maluco que foi passar uma temporada em Cuba. Vai casar-se com aquela atriz que fez a peça Roda-Viva.

– Por falar nisso, o senhor gravou a fita cassete com as músicas do Chico Buarque pra mim?

– Claro sargento! Está na minha maleta. E pra não dar xabú coloquei o nome Dom & Ravel.

– Nota 10! Vou poder escutar sozinho em casa no final de semana. Bom, isso se eu não for com a patota pro Guarujá! –

Casmurro entra na sala. Tudo está preparado para a filmagem. Wagner já está sem camisa e com as mãos amarradas. Os cabos de choque estão ligados à uma grande bateria, prontos para serem usados. O sargento Olegário então avisa:

– Olha senhor Wagner, pra ficar bem realista eu vou gritar mais alto que o normal e talvez dê uns tapas no senhor. O senhor então resistirá dizendo que não sabe de nada. Aí eu entro com os cabos de choque nos mamilos. Pode gritar mesmo. Assim o filme vai ficar bom. Tá ok? Vamos lá!

Casmurro, pegue a filmadora e presta bem atenção! Veja se está gravando pra não perdermos nenhuma cena. Sabe mexer nessa coisa?

– Sei sim senhor! Vou inclusive filmar na vertical porque algo me diz que esse formato vai ser moda daqui alguns anos, responde o cabo Casmurro deixando o sargento Olegário e Wagner com expressão de dúvida.

– Não disse que ele é meio tonto…Pronto senhor Wagner? Pergunta o sargento Olegário.

– Prontinho da Silva! Começa então na sala fechada e iluminada apenas por uma luz fraca uma legítima sessão de tortura. Digna de governos autoritários, genocidas e cruéis.

O sargento grita perguntando nomes e endereços, eventos e reuniões do partido comunista, da UNE, dos sindicatos. Wagner aos prantos responde que não sabe de nada e que é apenas um trabalhador e estudante noturno, que vem de uma família pobre e busca apenas melhorar de vida para dar uma mais confortável aos pais.

Ele leva alguns sopapos do sargento, que exige um nome ou algo para apresentar aos superiores. Mas Wagner resiste e pede clemência. Cabo Casmurro filma tudo com a agilidade de um verdadeiro influencer.

Até que o sargento pega os cabos elétricos e ameaça Wagner que pede por favor para que ele não use aquilo. Mas o sargento, firme em seu propósito de arrancar informações prende os cabos nos mamilos de Wagner e dá uma descarga de eletricidade. Wagner desmaia. O sargento então desliga a energia. Acende a luz e ordena que cabo Casmurro pare de gravar.

Dá uns tapinhas no rosto de Wagner que acorda meio zonzo mas logo vai melhorando. Aparentemente tudo está terminado. Wagner é desamarrado e começa a se vestir. Os dois então retomam a conversa:

– Deve ter ficado bom esse filme, diz Wagner

– Deve mesmo. Acho que a dramaticidade foi boa. Eu caprichei. Vou querer uma cópia, você faz uma pra mim? Aliás, onde você manda revelar? Estou precisando de um laboratório de confiança, você tem?

– Sim. Revelo em um laboratório clandestino do lado do Mackenzie, na Rua Maria Antonia. É de um sujeito batuta que foi presidente do Partidão e nunca foi pego. Pô! Olhe lá sargento, não vai dar com a língua nos dentes e cortar a onda dele porque senão suja pra mim, hein!!!?? O sujeito é pedra 90!

– Que é isso senhor Wagner! Aqui é na confiança. Ninguém vai saber! Por falar em confiança, o chefe teve a ideia de fazer umas celas escuras com alguns bichos dentro pra deixar os comunistas presos por uma noite ou mais. Se o senhor topar o senhor acaba o seu tratamento mais cedo. Cada noite na cela escura elimina cinco sessões. Estás a fim?

– Quais são os bichos?

– Cobra, aranhas, escorpiões…

– Escorpião pode até ser, mas cobra nem pensar. Responde Wagner.

– Deixe seu nome com a Suzete na recepção que ela agenda. Diz o sargento amistosamente já se despedindo de Wagner com um abraço e um aperto de mão e desejando um bom final de semana. Nos vemos em duas semanas.

– Para o senhor também. Responde Wagner cordialmente, mas logo ele se lembra de algo importante e diz:

– Ah sargento, já ia me esquecendo, pode me dar um atestado da sessão de tortura de hoje? Meu chefe me pediu e quero também guardar uma cópia. Nunca se sabe se no futuro teremos que provar que fomos torturados.

– Claro meu amigo! Vou preencher em um papel assinado pelo Dr.Tibiriçá.

Pela entrevista que deu ao canal do youtube “Expressão Brasil”, essa deve ser a forma como pessoas de pouco intelecto e nenhum respeito ao sofrimento alheio, de nenhuma humanidade como o deputado federal Eduardo Bolsonaro veem os casos de tortura ocorridos durante a ditadura militar no Brasil pós 1964. Lamentável, é tudo o que posso dizer.

Conrado Micke Moreno é ilustrador

*As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews.


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Um homem de poucas palavras https://canalmynews.com.br/voce-colunista/um-homem-de-poucas-palavras/ Fri, 08 Apr 2022 14:02:41 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=27319 Um presidente de poucas palavras, de nenhuma ética, de pouca empatia, de pouca inteligência, de nenhuma bondade e de nenhum amor ao próximo.

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Todos nós já conhecemos pessoas que falam pouco. Certamente a maioria dos leitores já ficou em uma situação constrangedora que é o silêncio estrondoso entre o fim de um assunto e o começo de outro. Em algumas situações isso é bem embaraçoso. O assunto se esgota e vem o silêncio. Em seguida vem um “então tá, a gente se fala…”.

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Assisti ao programa do Jô Soares certa vez em que ele entrevistava o grande escritor Luiz Fernando Veríssimo, um homem repleto de palavras. Estava ansioso para assistir a essa entrevista pelas qualidades óbvias do entrevistado. Mas na hora H o homem não falava. Um ser “inintrevistável”, como diria o ministro Magri, o pior pesadelo de qualquer entrevistador, que precisa de alguma forma de vida e atividade cerebral na forma de resposta do entrevistado para dar continuidade à conversa. Foi constrangedor.

Na política, especialmente na presidência da república, tivemos no período da redemocratização, personagens diferentes em termos de fala. Começamos esperançosos com um mineiro. Eleito indiretamente, ele media as palavras e acertava acordos aqui e ali, falando ao pé do ouvido e assim foi conquistando o povo com seu jeito mineiro de ser. Até porque seu adversário era um homem que falava mal e tinha a fama de quem roubava, mas fazia. Mas roubava. Além de ser o candidato dos militares, que pouco falavam e mandavam calar quem falava demais.

Mas, esse mineiro resolveu morrer antes da posse e deixou em seu lugar um bigodudo que usava as palavras escritas para falar de “Marimbondos de fogo”. Até hoje eu não sei se os tais marimbondos estavam bêbados ou se sua picada doía como fogo. Mas vou continuar sem saber e sem perder meu tempo com isso.

No pós-bigodudo que deixou o país no caos, tivemos o homem do saco roxo. Grande falador, com fama, inventada por uma emissora de TV carioca, de caçador de marajás. Falava muito. Falava nas rádios, nas TVs, fazia e acontecia. Até que seu irmão falou o que não devia e ele acabou perdendo o direito ao microfone por um bom tempo. Seu vice entrou em seu lugar, outro mineiro que ressuscitou o fusca e que gostava de andar com mulheres que se deixavam fotografar sem calcinha, em ângulos propícios.

Mas, tirando esse fato, foi um mineiro que teve a coragem de colocar como ministro da economia um sociólogo que montou uma equipe que acabou com a inflação e colocou o Brasil, finalmente, no caminho do progresso. Tal foi o sucesso desse ministro que ele foi eleito presidente. Esse falava bem, inclusive em inglês.

Falou coisas boas e coisas que não devia, falou com o Papa, com reis e rainhas, com presidentes de outras nações e nos tirou do canto insignificante em que vivíamos, nos colocando na vitrine do mundo. Evoluímos tanto que nos sentimos seguros de entregar o leme a um trabalhador de origem humilde e nordestina, que aprendeu as falar nos microfones das assembleias de sindicatos, nos comícios contra a ditadura, nas manifestações de greve dos professores, dos bancários, dos metalúrgicos e de todas as categorias injustiçadas do nosso país. Esse homem nasceu sem medo de falar e sem medo dos microfones.

Desde cedo ele aprendeu que para ter o poder é necessário ser amigo do microfone. Ele não se importava com sua língua presa e aprendeu a suavizar o tom de sua fala para dizer o que o povo, na época, queria ouvir. Foi bem. Houve percalços e em um certo episódio que ficou conhecido como “mensalão” que ocorreu durante seu governo, vários de seus ministros e assessores foram defenestrados e condenados, mas ele falou que não sabia de nada. Mesmo assim, como a economia do mundo crescia, ele foi reeleito.

Para ficar em seu lugar resolveu indicar para o seu lugar uma pessoa que não lidava bem com as palavras. Uma mulher que não conseguiu cair nas graças do povo nem dos políticos do congresso e que usava o verbo para falar de culto à mandioca e nova matriz econômica. Apesar de ser reeleita, perdeu a voz e deixou em seu lugar o vice que falou demais em uma gravação telefônica com o dono do maior açougue do mundo. Não, ele não estava pedindo para continuar a entrega de carne, mas de dinheiro.

Por fim, após essa ave de rapina que até conseguiu ressuscitar o país que estava moribundo, chegou a nossa cereja do bolo, o homem de poucas palavras. Não, ele não é de falar pouco, ou tímido. Pelo contrário, ele adora falar. Besteiras! O que ele tem é um vocabulário reduzido mesmo. Alguns estimam em quinhentas as palavras que ele conhece, outros em trezentas, mas são realmente poucas.

Quando ele resolve desfiar seu pobre e chulo vocabulário algum desastre acontece, os investidores se retraem, o dólar sobe, a bolsa cai… Durante a pandemia falou como se fosse um médico, cientista e especialista, recomendando o uso de hidroxicloroquina para tratar a Covid-19, contrariando a ciência.

Falou que vacina transformaria as pessoas em jacarés e que o brasileiro é cheio de mimimi. Falou muita coisa, errada. E seguiu falando. Em alguns momentos ele não falava, xingava, principalmente quando perguntado sobre um tal cheque depositado na conta de sua esposa ou mesmo quando perguntado sobre uma tal de “rachadinha”.

Falou em eventos internacionais, mas falou de um país que apenas ele vê. Em outro não conseguiu falar com nenhum chefe de estado e isolado acabou tentando falar com o garçom, mas este não falava sua língua. Recentemente em visita a Vladimir Putin, nosso intelectual às avessas disse que o Brasil era solidário à Rússia.

Notemos que a palavra solidário não faz parte do seu vocabulário usual e que ele não sabe o que realmente ela significa, afinal ele não foi solidário às vítimas de Brumadinho, não foi solidário às seiscentas e sessenta mil vítimas da Covid e aos seus familiares, não foi solidário à mãe do ator Paulo Gustavo, não foi solidário ao grande cantor brasileiro João Gilberto, que elevou muito mais o nome do Brasil com sua arte, não foi solidário com o povo baiano nas enchentes desse ano, não foi e não será solidário com ninguém que sofra.

Ele não sabe o que significa essa palavra. Seu vocabulário é de poucas palavras. Esse é o pior presidente, o mais limitado e cruel em toda a nossa história. Além de outros adjetivos negativos que poderia colocar aqui. Digo dessa maneira para manter um certo decoro no meu texto.

Ele é o verdadeiro homem de poucas palavras, de nenhuma ética, de pouca empatia, de pouca inteligência, de nenhuma bondade, de nenhum amor ao próximo. Mas fala que é cristão. E o pior é que existem pessoas que acreditam no que ele fala e ainda votam nele.

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Brasil: não tem como dar certo https://canalmynews.com.br/voce-colunista/brasil-nao-tem-como-dar-certo/ Thu, 17 Mar 2022 19:00:16 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=26644 Enquanto educação pública e de qualidade não forem prioridades do país, o Brasil segue sendo "o mais antigo país do futuro".

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Como diz o jornalista Josias de Souza: “o Brasil é o mais antigo país do futuro.” E eu completo a frase dizendo que vai continuar sendo por muito tempo ainda. Seremos campeões de futuro país do futuro. Talvez entremos para o Guiness nessa categoria.

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Por quê? Se nos dispusermos a olhar para o espelho de nossa brasilidade, perceberemos que não nos reconhecemos como cidadãos de um país pobre e desigual e que a classe média brasileira se acha mais próxima dos ricos do que dos pobres, apesar do abismo que os separa dos afortunados.

Essa distorção de reconhecimento, ou de não identificação com a pobreza faz com que nos calemos e nos conformemos com alguns absurdos graves nos campos de saúde, segurança e educação. A nossa constituição de 1988 assegura como direito do cidadão e dever do Estado todos esses itens, mas ao invés de utilizar esses serviços e desse modo ajudar a aprimorá-los, a classe média brasileira acha melhor pagar a terceiros, como escolas particulares, planos de saúde e segurança privada. Sem perceber que tudo está interligado e a base de tudo é a educação universalizada, onde o rico estuda na mesma escola que o pobre.

Aí vai uma dose grande de racismo, porque ouvimos o tempo todo pessoas elogiarem os sistemas gratuitos de educação de países como Finlândia, Noruega, Dinamarca, onde todos os loirinhos de olhos azuis, ricos e pobres, estudam na mesma escola. Mas, quando chega na hora de colocar os filhos branquinhos junto com a criançada preta e parda brasileira, as mesmas pessoas recuam e decidem suar outra camisa para pagar uma escola particular.

Um país para dar certo e ser realmente desenvolvido precisa ter crianças frequentando as escolas. Mas precisamos entender que todas as crianças devem frequentar as mesmas escolas, as públicas. Devemos entender ainda que as escolas públicas devem ser de qualidade, que devem ser iguais para todas as crianças, independentemente de sua cor, religião ou classe social, que devem acolher todas as crianças da mesma forma, inclusive alimentando essas crianças, para que a igualdade seja em todos os sentidos, principalmente na ausência da fome.

As escolas devem deixar de ter a arcaica lição de casa e fazer com que a crianças façam a lição na escola, com monitoramento de professores auxiliares. O aumento no tempo de permanência na escola tira crianças da rua. A escola deve deixar de reprovar alunos e estar atenta a possíveis aptidões que não serão necessariamente química, física ou matemática, mas pode ser artes plásticas, música ou esporte.

Sala de aula vazia. Foto: Rovena Rosa (Agência Brasil)

Fico pensando em quantos talentos nós já desperdiçamos e quantos ainda jogaremos no lixo da incapacidade por não termos tido a sensibilidade de perceber que aquela criança talentosa em História não gostava e não compreendia uma equação de segundo grau. Ou que decorava a tabela periódica para nos 30 segundos após a prova esquecê-la para o resto da vida.

Somos um país cada vez mais pobre que não pode se dar ao luxo de desperdiçar talentos. É muito bonito o discurso da meritocracia, mas no Brasil isso não funciona. É desleal. É como você apostar uma corrida de mil metros onde o pobre e geralmente preto, larga 800 metros atrás. Tenho amigos que moram em São Paulo e que pagam cinco mil reais para cada filho em escolas particulares, pensando que isso será alguma garantia de futuro próspero para seus filhos. Deixe-me contar uma coisa: não vai! Essas crianças crescerão em uma bolha sem saber que existe um mundo pobre mas rico de experiências e de vida fora da bolha.

Um país que propaga a democracia e a liberdade deve dar a chance à criança pobre de sonhar, de desejar uma vida melhor e entender que essa vida virá através da educação, do seu esforço e do convívio com crianças de outras camadas sociais. Isso as fará desejar outra vida para elas. Estamos nos tornando um país onde as pessoas estão desaprendendo a sonhar e isso é grave. O conformismo é grave. Enxergar como possibilidade de ascensão social e econômica apenas o crime, é grave.

Em todas as discussões sobre os problemas do Brasil noto que a raiz de todos os nossos males está na falta de educação do nosso povo e não vejo um candidato sequer falando nisso. O tema que deve ser pensado e discutido é “Como trazer a sociedade toda para a escola pública?” Não apenas dar escola aos mais pobres, mas pensar na integração entre todas as crianças da sociedade. Existe em São Paulo uma escola situada em um bairro nobre e que fica ao lado de uma enorme favela que criou uma ala para as crianças da comunidade. Só que não existe interação entre as crianças.

Posso estar enganado, mas na minha forma de ver isso não está certo. Só falta colocar um carimbo de pobre na criança do lado de lá da cerca. Por que não exigimos o que é nosso direito? Por que nos vemos como ricos se não somos?

Precisamos de uma sessão de terapia coletiva para entender essa nossa passividade, esse jeito egoísta de olhar o que é um bem comum. Se essa pandemia serviu para alguma coisa, foi para mostrar que o estado é o unificador de um povo e que suas ações podem mudar uma sociedade para o bem ou para o mal. Nos momentos de vacinação contra a Covid-19, pobres e ricos frequentaram a mesma fila e essa mistura não matou ninguém.

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Dependências nefastas https://canalmynews.com.br/voce-colunista/dependencias-nefastas/ Thu, 24 Feb 2022 10:05:56 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=24514 Dentro da crise instalada entre a Rússia e a Ucrânia, uma questão que chama atenção é o embate sobre o ainda uso de energias não renováveis.

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Quando pensamos na evolução tecnológica ocorrida no mundo a partir da revolução industrial em meados do século XVIII até os dias de hoje, percebemos o quanto houve de avanço em várias áreas. Não precisamos nem ir tão longe, se voltarmos à década de 80, quando não existiam celulares e a máquina de escrever elétrica com tecla que apagava os erros cometidos na datilografia era algo inovador, notamos que em quarenta anos demos um salto tecnológico imenso.

Mas, quando colocamos a lâmpada inventada por Thomas Edson em 1879, o rádio e a máquina de escrever elétrica ao lado de objetos de última geração dos dias atuais, como celulares, notebooks e carros elétricos, percebemos que todos têm um ponto em comum. Todos precisam em algum momento estar plugados à uma tomada elétrica para o funcionamento ou o abastecimento de suas baterias.

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Pensando nesse ponto em comum entre os atuais produtos e os antigos, noto que nesse quesito não evoluímos muito. Claro que foram descobertas inúmeras fontes de energia para abastecer uma demanda crescente em progressão geométrica, mas a maioria dessas fontes geradoras de eletricidade vieram de combustíveis fósseis e não renováveis. O consumo indiscriminado por décadas à fio dessas fontes, foi o principal responsável pelos altos índices de poluição do ar e desmatamentos ocorridos em nosso planeta.

Diante dessa nossa dependência pelas tomadas, é que venho pensando na crise que está acontecendo entre Rússia e Ucrânia. Crise essa em que o poderoso império americano resolveu meter o bedelho apoiando a pequena Ucrânia e que logo foi confrontado pela nova potência mundial, a China, que disse estar com os russos para o que der e vier.

Não que a briga seja exatamente pelo petróleo e pelo gás, mas a dependência em que a Europa se encontra em relação ao fornecimento de gás dos russos, principalmente a Alemanha e o Reino Unido, faz com que esse tabuleiro de xadrez fique mais complicado justamente pelo poder que essa dependência confere ao país do strogonoff. E convenhamos que depender em qualquer coisa dos russos, especialmente do ex-agente da KGB e presidente da Rússia, Vladimir Putin, é pior do que dever para a sogra.

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Presidente da Rússia Vladimir Putin. Foto: Dimitro Sevastopol (Pixabay)

Como disse acima, há pelo menos 150 anos dependemos das tomadas e para abastecer as tomadas a humanidade depende em grande parte dos combustíveis fósseis, que em algum momento vão acabar. A previsão é que o gás da Rússia abasteça a Europa e a Ásia por mais 50 anos e depois acabou. Pensando nisso, por que iniciativas como a energia eólica ou a energia solar não são fortemente estimuladas no mundo? Não apenas pelos governos, mas pelos gênios que desenvolvem aparelhos de celular cada vez menores mais potentes e carros elétricos, para fugir da dependência do petróleo e vendidos como se fossem usuários de uma “energia limpa”. A não ser que você tenha geração de energia vinda de uma fonte renovável, essa energia será limpa, caso contrário não adianta o carro ser elétrico, concorda? Ele vai apenas emitir menos poluentes na atmosfera.

Enfim, a humanidade precisa criar meios de não depender da energia fóssil e não renovável. Conseguindo essa liberdade, a Europa, por exemplo, conseguirá se livrar da Rússia.

O Brasil tem potencial para ter várias matrizes energéticas sustentáveis. Um dos países com a maior insolação do planeta e, devido à nossa extensão territorial, temos a possibilidade de energia eólica em vários pontos do litoral do nordeste, basta lembrarmos de construir as linhas de transmissão, além de recursos hídricos para construção de usinas hidrelétricas. Nós não precisamos das termoelétricas, nem das nucleares e felizmente podemos viver sem a dependência do pessoal da perestroika e da vodka. Precisamos apenas deixar de acreditar em qualquer um e exigir planejamento e honestidade dos nossos governantes.

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Nós, os invisíveis https://canalmynews.com.br/voce-colunista/nos-os-invisiveis/ Mon, 21 Feb 2022 19:32:51 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=24150 Em ano de eleição presidencial em um país polarizado, a saída é buscar propostas que visem o bem coletivo e não o nome de um candidato ou partido.

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Nós, brasileiros nascidos antes da copa de 1970, vivemos por vários anos algumas polarizações. Mas, diferentemente do que acontece hoje, essas eram polarizações folclóricas, de assuntos até irrelevantes para a vida de cada um de nós. Posso citar algumas que, em um exercício de túnel do tempo mental, consegui me lembrar.

As famosas polarizações de times de futebol de cada estado, como Corinthians x Palmeiras, Flamengo x Fluminense, Guarani x Ponte Preta, Inter x Grêmio… Ainda no campo dos esportes tivemos a polarização de Senna x Piquet. Apesar da balança pender muito mais para o lado de Senna, já ouvi muita discussão sobre a qualidade e a falta dela nesses dois personagens.

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Havia a polarização sobre os apreciadores de cerveja, muitos gostavam da Brahma e outros muitos da Antarctica. Pois é, acreditem os mais jovens, essas marcas eram rivais até serem compradas e serem colocadas em um balaio de gato que deixa tudo com a mesma cara por uma gigante nacional multibilionária.

Era engraçado ver pessoas no bar tomando cerveja, alguns sabiam até qual a melhor cidade que fabricava a sua cerveja do coração. A Brahma de Agudos era a melhor, enquanto a Antarctica de Joinville era a que tinha a melhor água. Eu tive um amigo inclusive que só bebia a Antarctica de garrafa de 600 ml e só a de faixa azul no rótulo. Tentamos enganá-lo diversas vezes tendo até o trabalho de comprar Brahma e trocar o rótulo. Ele no primeiro gole percebeu e disse: – Ahhhh! Isso é Brahma!

Existiam em nosso dia a dia várias polarizações: Levi’s x Lee, Caetano x Chico, Elis x Nara, Globo x Tupi, Folha x Estadão… Sempre encontrávamos o diferente em nosso cotidiano, mas nós sabíamos que existia vida além da polarização, que existia o São Paulo e o Santos de Pelé, o Vasco da Gama no Rio, que existia a Skol, a US Top, o Milton Nascimento, a Rede Manchete, o Jornal da Tarde… As terceiras vias das polarizações simples do cotidiano.

Hoje, a polarização tem se dado no campo da política e tem se tornado algo irritante.

Urna de votação. Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil

Se você fala para um bolsonarista que é contra o Capitão, na hora você é taxado de petista, e o mesmo acontece se falar mal do Lula ou da Dilma para um petista. Fale para um simpatizante do Bolsonaro sobre a rachadinha, prática muito usada pelo Messias em seus gabinetes e transmitida aos filhos com louvor, e você vai ouvir: “Ah!,mas vai me dizer que no governo do Lula não tinha corrupção?”, “E os filhos do Lula?”. Ou ainda, se você defende a vacina você é de esquerda, petista ou psolista, se tem dúvidas e diz que não sabe quais serão as reações e que não sabe o que tem dentro você é bolsonarista. Nesse caso a pessoa que diz isso, no meu modo de ver, é simplesmente ignorante, mas isso é outra conversa.

Explicar que você não é de lado nenhum e que prefere uma outra opção é tão ou mais chato do que ter que explicar piada para o amigo meio lentinho e, o pior, não convence. É como se não existissem outras opções. Todos foram apagados, Ciro, Dória, Moro, D’Ávila, Tebet, Janones. E nós, aqui eu me incluo nessa lista, somos invisíveis.

Votar deixou de ser uma escolha em benefício da coletividade. Os eleitores desses dois lados não pensam na melhor proposta de governo, aquela que priorizará o ensino fundamental, pensando no futuro do país. Ou na proposta que será atenta e rígida no controle fiscal e na execução de uma boa reforma tributária que simplificará a vida do pequeno, médio e grande empresário. Nem mesmo uma proposta que olhará para a grande massa de miseráveis que têm insegurança alimentar ou que buscará trazer investimentos de fora para recolocar os catorze milhões de desempregados novamente no trilho do emprego e da dignidade. Essas pessoas querem apenas que seu lado vença. Para essas pessoas a proposta se ajeita depois de vencer o adversário.

No tempo das polarizações folclóricas que citei acima, existia uma diferença muito importante: a grande maioria do povo queria o bem do país e o bem do país naquele momento era se livrar dos governos militares ditatoriais. Basta olhar para nosso passado recente e para o nosso presente hediondo para saber que nenhum desses dois candidatos será o melhor para o Brasil e para nós brasileiros.

Se fosse fazer uma explanação dos motivos contrários a ambos, este texto se transformaria em um livro, talvez dividido em alguns volumes. Por isso peço a você, leitor e eleitor, que disponha de um tempo para pesquisar nos próximos meses o que cada candidato propõe para tirar nosso país da crise em que se encontra e da situação internacional vergonhosa que vivemos.

Se desapegue das verdades calcificadas existentes na sua cachola, deixe de se informar pelo WhatsApp e Facebook e busque informações na imprensa séria, inclusive pesquisando diversas fontes e diferentes opiniões. Pense no que você quer melhorar na sua vida e, principalmente, no Brasil que você quer deixar para seus filhos e netos. Tenha a humildade de se abrir para algo diferente e melhor e entender que quem tem que vencer é a coletividade e não seu candidato.

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Balcão de padaria https://canalmynews.com.br/voce-colunista/balcao-de-padaria/ Tue, 01 Feb 2022 17:49:37 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=23349 Entender do que o povo fala e como o povo fala é essencial para ter um resultado positivo nas eleições de 2022

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Eu não sou uma pessoa de dar dicas, opiniões ou me meter na vida alheia sem ser convidado a  isso.

Mas, se me pedissem para dar um pitaco na vida eleitoral de alguns pretendentes ao cargo  máximo do Poder Executivo do Brasil, eu diria – Encostem o umbigo no balcão de algumas  padarias em várias cidades do país. Chegou em uma cidade, procure uma padaria e sozinho,  longe do séquito de puxa-sacos que vos acompanha, encostem no balcão e absorvam um  pouco da cultura e da falta de cultura popular. Pode ser boteco também.

Eu sou um frequentador de padarias, mercadinhos, filas de autarquias e um usuário do SUS e  percebo o quanto existe de distância entre os discursos dos candidatos e o pensamento do  povo. Por isso afirmo, sem encostar o umbigo e gastar um tempo tomando um café com leite,  comendo um pão na chapa e ouvir os comentários e as conversas daqueles que ali estão,  posso te dizer meu amigo, você não será eleito!

E não deve fazer isso apenas quando começar a campanha para presidente, para aparecer  naquelas fotos, que dão vergonha alheia, como figura popular no meio do povo. Se você ainda  não começou a fazer isso talvez ainda dê tempo, isso se você começar amanhã. Mas  provavelmente já é tarde.

Cito como exemplo os dois possíveis candidatos que estão em primeiro e segundo lugar nas  pesquisas, o ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro.

O primeiro, Lula, é o campeão de permanência em balcões de padarias, bares e afins.

Durante sua jornada como sindicalista fez graduação, pós, mestrado e doutorado na arte de  encostar o umbigo no balcão, ouvir e inclusive interagir com essa população formadora ou  deformadora de opinião que frequenta os mais diversos balcões espalhados pelo país. Seu  poder de escutar as opiniões de pessoas contrárias à sua pessoa e ao seu partido e transformá-las em eleitores fiéis foi habilmente treinado nos balcões das padarias e bares do ABC paulista.  Eu mesmo tive a oportunidade de almoçar certa vez em um restaurante de frango assado na  Vila Mariana, onde trabalhava, ao lado do ex-presidente. Na época ele havia perdido a eleição  para Fernando Collor e estava reunido com um grupo de pessoas do PT. Eu trabalhava em  agência de publicidade e a pessoa com quem eu estava conhecia um dos participantes do  grupo petista, que nos convidou para sentarmos com eles. Fiquei impressionado com o poder  de persuasão do ex-presidente Lula, o seu jeito simples de falar com qualquer pessoa e ser compreendido e admirado.

O atual presidente é outro frequentador de balcões. Certamente no Rio de Janeiro, onde  morava até ser eleito, frequentou balcões de padarias e botecos de comunidades achacadas  pela milícia. Continua usando essa tática pão com leite moça frequentando os balcões da  cidade satélite de Brasília, onde sai para passear de moto sem máscara e assim ganha a  simpatia daqueles que partilham sua companhia.

O ponto comum entre os dois, sem entrar no mérito do certo ou errado, é que eles sabem  ouvir o povo simples e estabelecer uma ligação com as pessoas, mesmo que depois não deem  a mínima para suas necessidades. Não é à toa que Bolsonaro mantém índices altos de aprovação, mesmo diante de tantas atrocidades que faz e que fez e Lula ainda é o pai dos  pobres.

 

Para ser eleito no Brasil tem que encostar a barriga em um balcão de padaria. Foto: Pixabay

 

Na minha modesta opinião de cidadão que acompanha as notícias e busca informações sobre  política e seus atores, Ciro Gomes é hoje o pré-candidato com maior conhecimento e  possibilidades de tirar o Brasil do buraco que está encalhado há algumas décadas e colocá-lo  para seguir viagem, mas de nada adianta mostrar esse conhecimento que ele tem na ponta da  língua em entrevistas e programas de TV e rádio se ele não consegue tocar o eleitor, o cidadão  que acorda as 5 da matina e para no balcão da padaria para tomar seu cafezinho. Por mais que  ele diga que vai taxar as grandes fortunas e cobrar imposto sobre os lucros dos mega empresários, ou que nos chame de“meu irmão brasileiro”, “meu povo sofrido”, ele não toca o  coração dessas pessoas e acaba ficando no limite dos 12%.

Quanto ao governador Dória, acho que não precisamos de maiores explicações. Quem aqui já  foi ao Qatar sabe do que estou falando. Ele passa a impressão de que está sempre apresentando um programa de TV. Aparentemente não existe com ele conversas casuais e se estiver tomando um café no balcão do boteco ele provavelmente vai querer demitir o chapeiro  e o atendente.

Moro é uma incógnita. Acredito que ele nem saiba que se serve média e pão na chapa nesses lugares. Aliás, ele vai perguntar: o que é média? Pão na chapa?

O candidato do Novo saiu para vomitar e já volta.

Lembro que FHC nunca foi um assíduo frequentador de balcões, deu uma enganada nos  tempos de professor de sociologia e teve o caminho aberto pelo ex-presidente Itamar Franco,  que o colocou como criador do Plano Real, que acabou com a inflação que arrasava nossas  vidas.

Dilma era a gerentona do governo Lula e teve o aval do botequeiro mor. Além de ter disputado  com o Serra, campeão de simpatia e com o Aécio, mauriceba com histórias duvidosas, para ser polido.

Enfim, ao invés de marqueteiros esses possíveis candidatos deviam fazer rotas de padarias e bares. Acordar cedo para um café na padoca perto do ponto do ônibus e depois no final da  tarde um rabo de galo nos botecos, antes de chegar em casa com a “mistura pra janta”.

Seria mais efetivo e muito mais barato para os cofres públicos.


Quem é Conrado Micke Moreno?

Conrado Micke Moreno é ilustrador e membro do Canal MyNews.

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