Em um Brasil em situação de crise de identidade, 'importante lembrar que, aquilo que é feio fazer à mesa de jantar, dificilmente será bonito se feito no palanque'.
por Audreas Elysian* em 14/03/22 12:22
Bandeira do Brasil. Foto: Rafaela Biazi (Unsplash)
Equilíbrio é uma palavra que costuma acontecer. Tanto faz o nome, a situação e os fatores envolvidos, equilíbrio parece ser algo nato. De operações matemáticas a elementos e fenômenos da natureza, o equilíbrio acontece todos os dias e nas mais variadas escalas.
Particularmente, a crença numa Lei do Equilíbrio é o pilar de sustentação que me faz ser uma pessoa com “esperança eterna”, com ânimo genuíno na maioria das situações. Em todas as situações, positivas ou negativas, acreditar no balanço me funciona como uma justiça metafísica, independente de ações humanas.
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Há cerca de dez anos, havia assuntos que eu gostava de ler como forma de entretenimento: assuntos sobre o formato da terra, sobre o conteúdo abaixo da crosta terrestre, alienígenas, conspirações e vários outros. Eu achava divertido ler a respeito, sempre imaginei que legal seria se produzissem um filme a respeito de um planeta Terra oco, com uma sociedade secreta vivendo dentro dele! Imagina? Por que não? Se existe Harry Potter, porque não explorarmos nossa criatividade para esses assuntos? É divertido! Ilusão e fantasia fazem parte da vida! É muito bonito quando o campo das artes promove a superação. No entanto, o mesmo avião que encurta distâncias, pode ser aquele que derruba um prédio.
Confesso que me perdi um pouco nos últimos anos, não porque deixei de acreditar na Lei do Equilíbrio, mas porque não conseguia enxergar qual seria a maneira de reverter a situação cada vez mais calamitosa atual do Brasil. Lembro que a minha avó constantemente me dava broncas quando eu usava o termo “estou cheio” para informar que eu já estava satisfeito com a quantidade que havia comido, era feio, era rude, não havia necessidade de utilizar aquelas palavras.
Vinte anos se passaram e o país se depara com uma liderança que fala palavras que deixariam a minha avó de cabelo em pé, palavras que muitos brasileiros corrigem quando saídas das bocas de seus filhos. Onde me perdi? No vácuo de dignidade que sugou para a superfície figuras dos poços mais profundos da covardia e da canalhice. Confesso que, até há pouco tempo, meu desespero chegava a fechar minha garganta e produzir sudorese com a proliferação e os espaços que as figuras mais nojentas passaram a conquistar.
Foi muito rápido e muito eficiente o processo quase viral de contaminação e desequilíbrio da sociedade brasileira, é insano o poder de contágio da burrice, da alienação e da falta de caráter. Hoje me sinto levemente mais confortável, me parece que o balanço se restabelece. A gangorra em que os mais pesados optaram por subirem todos em um mesmo lado, inclinou tanto que, um a um, todos estão caindo através da inegociável lei da gravidade atuando sobre seus próprios atos.
Vingança, Audreas? Jamais! A situação atual traz o alívio do equilíbrio, porém a tristeza da realidade. É muito triste assistir caindo personagens que, por incrível que pareça, assumiram cargos importantes e representam parcelas importantes da sociedade, às vezes representam a própria totalidade da sociedade. O sentimento de alívio vem da verdade indestrutível da Lei de Ação e Reação, neste caso, a arrogância de insistir em criar um núcleo moral com regras toscas, fracas e de altíssimo nível de intolerância e violência, e pensar que seria um tiro de espingarda e não de bumerangue.
Se me transformo em piranha, mergulho no lago e me reproduzo, fatalmente terei que permanecer piranha até o fim se quiser sobreviver onde estou. No entanto, se desejo deixar o lago, por ser piranha não conseguirei sair da água, terei que me transformar em algo diferente. Sairei ileso?
A mancha que borrou as milhares de reputações destruídas pelas falas e ações dos que praticam o ódio como forma de remédio, é a mesma que agora tatua seus próprios corpos. É jovem? Lembrará e será lembrado por toda vida por seus atos. É velho? O sobrenome trará sempre um sabor amargo onde for falado.
Talvez a dor mais lacerante seja aquela que mora na oportunidade perdida: uma Ferrari digna de Ayrton Senna, uma oportunidade de ouro em um país que implora por mudança, arremessada contra a parede por pilotos bêbados e imprudentes, que com muita dedicação e vontade conseguiram causar tanta dor ao povo quanto naquela tarde em Ímola, em 1994.
O Brasil vai sobreviver, novos loucos irão surgir e desaparecer. É importante lembrar que, aquilo que é feio fazer à mesa de jantar, dificilmente será bonito se feito no palanque. Enquanto isso, aqui fica a gratidão por todos aqueles que, apesar de nunca terem feito um reels no Instagram, seguraram o rojão e taparam os buracos do casco do navio que os “rebeldes” abriram em seus momentos de “justiça”.
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