Quem são essas pessoas, os bárbaros invasores? Teoricamente são descontentes com o resultado das eleições e, em nome de seu descontentamento, partiram para esse ataque insensato
por Maria Aparecida de Aquino em 13/01/23 11:53
Atos de terrorismo na Esplanada marcam negativamente a história do país (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Os atos transcorridos no dia 08/01/2023, em Brasília, com a invasão, por uma turba ensandecida, dos prédios dos três poderes: o Executivo (Palácio do Planalto), o Legislativo (Congresso Nacional) e o Judiciário (Supremo Tribunal Federal), só podem ser descritos como barbárie. Barbárie é um substantivo feminino que designa atos de selvageria.
Esta constatação nos leva a uma indagação: quem são essas pessoas, os bárbaros invasores? Teoricamente são descontentes com o resultado das eleições e, em nome de seu descontentamento, partiram para esse ataque insensato.
Escudados no ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro que, aqui, e agora, da Flórida (EUA) apregoa uma cantilena infeliz de que as eleições brasileiras são fraudáveis. Bolsonaro, o cidadão que, enquanto no cargo da Presidência da República, debochou de tudo que representasse a cultura e a educação brasileiras.
Apoiam-se, também, em parcela das Forças Armadas – nada a se espantar, afinal, foram elas as autoras do infame golpe de Estado de 1964 que nos jogou no horror de 21 anos de Ditadura Militar. Outro de seus esteios é representado por parte do capital nacional, assustado com a possibilidade de um governo que contemple a parcela da população não aquinhoada, como já fez anteriormente em seus governos pretéritos.
É simples assim! Você, caro leitor, quando acessar os meios de comunicação tradicionais que passaram, da defesa das eleições para, 3 dias apenas após a posse, a críticas ao governo que acaba de assumir, particularmente, na política econômica que ainda vai se desenhar, compreenda que estão na defesa simplesmente do “capital” pouco ilustrado. É isto! A velha luta: capital X trabalho.
Como a plebe pode ousar querer sentar à mesa, mesmo que seja para comer farelos? Segundo o retrógrado pensamento da parte menos ilustrada do velho capital, compete a plebe contentar-se com a fome! Afinal, está viva. Isto deveria bastar.
Mas, o que me faz indagar sobre quem são essas pessoas invasoras e bárbaras foi o desenrolar dos atos de selvageria. Não se contentaram em simplesmente invadir/ocupar os prédios representativos dos três poderes. Destruíram tudo por onde passaram: desde as poltronas e móveis até às obras de arte que compunham esses espaços.
Uma resposta à minha indagação se encontra em considerá-los, antes de tudo, como dotados de suprema ignorância, ou seja, ausência total de conhecimento/sabedoria. Só um ser imensamente ignorante poderia destruir um quadro de Di Cavalcanti e um relógio, da França, do século XVII. O relógio foi doado a D. João VI pela Corte francesa e este o trouxe ao Brasil, em 1808, no episódio conhecido como “A Vinda da Família Real”.
O relógio foi feito por Balthazar Martinot, o relojoeiro de Luís XIV (1638-1715). No mundo só existem dois relógios Martinot, o do Brasil, destruído pelos vândalos de Brasília e o que fica em exposição no Palácio de Versalhes, na França. Porém, o de Versalhes é bem menor do que o nosso exemplar. Os especialistas consideram praticamente impossível recuperar essa obra.
Esses seres desprezíveis, acreditando afetar o governo legítimo de Luiz Inácio Lula da Silva, na realidade, usurparam toda a população brasileira. Os bens por eles destruídos pertencem, efetivamente, ao povo do Brasil. Portanto, é a nós que eles roubaram. Estão em dívida com o Brasil ao se apossar e destruir uma parte importante da sua memória. Esses objetos compõem a memória do Brasil. Desse modo, é impossível aquilatar o significado total dessa destruição.
É necessário refletir sobre a importância da educação, tão desvalorizada no governo anterior. Um ser humano educado (no sentido do conhecimento), independentemente de suas crenças políticas de ocasião, jamais poderia participar desses atos de destruição.
Embora entenda e pactue com o pensamento de que esses vândalos precisam ser julgados e presos, não há prisão que pague o que foi destruído, em alguns casos, para sempre.
Viva o povo brasileiro! Viva a cultura do Brasil! Abaixo a ignorância e o vandalismo perpetrados contra todos nós! Como Fênix que ressurge das cinzas saberemos passar por este vendaval de barbárie para ressurgirmos mais fortes enquanto Nação soberana!
Profa. Dra. do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Mestrado e Doutorado pela FFLCH/USP. Pós-doutorado pela UFSCar. Autora de Censura, Imprensa e Estado Autoritário (1968-1978). Bauru, Edusc, 1999 e Bons tempos, hein? São Paulo, Ed. Todas as Musas, 2022.
Comentários ( 0 )
ComentarEntre no grupo e fique por dentro das noticias!
Grupo do WhatsApp
Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.
ACEITAR