Entender do que o povo fala e como o povo fala é essencial para ter um resultado positivo nas eleições de 2022
por Conrado Micke Moreno em 01/02/22 14:37
Eu não sou uma pessoa de dar dicas, opiniões ou me meter na vida alheia sem ser convidado a isso.
Mas, se me pedissem para dar um pitaco na vida eleitoral de alguns pretendentes ao cargo máximo do Poder Executivo do Brasil, eu diria – Encostem o umbigo no balcão de algumas padarias em várias cidades do país. Chegou em uma cidade, procure uma padaria e sozinho, longe do séquito de puxa-sacos que vos acompanha, encostem no balcão e absorvam um pouco da cultura e da falta de cultura popular. Pode ser boteco também.
Eu sou um frequentador de padarias, mercadinhos, filas de autarquias e um usuário do SUS e percebo o quanto existe de distância entre os discursos dos candidatos e o pensamento do povo. Por isso afirmo, sem encostar o umbigo e gastar um tempo tomando um café com leite, comendo um pão na chapa e ouvir os comentários e as conversas daqueles que ali estão, posso te dizer meu amigo, você não será eleito!
E não deve fazer isso apenas quando começar a campanha para presidente, para aparecer naquelas fotos, que dão vergonha alheia, como figura popular no meio do povo. Se você ainda não começou a fazer isso talvez ainda dê tempo, isso se você começar amanhã. Mas provavelmente já é tarde.
Cito como exemplo os dois possíveis candidatos que estão em primeiro e segundo lugar nas pesquisas, o ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro.
O primeiro, Lula, é o campeão de permanência em balcões de padarias, bares e afins.
Durante sua jornada como sindicalista fez graduação, pós, mestrado e doutorado na arte de encostar o umbigo no balcão, ouvir e inclusive interagir com essa população formadora ou deformadora de opinião que frequenta os mais diversos balcões espalhados pelo país. Seu poder de escutar as opiniões de pessoas contrárias à sua pessoa e ao seu partido e transformá-las em eleitores fiéis foi habilmente treinado nos balcões das padarias e bares do ABC paulista. Eu mesmo tive a oportunidade de almoçar certa vez em um restaurante de frango assado na Vila Mariana, onde trabalhava, ao lado do ex-presidente. Na época ele havia perdido a eleição para Fernando Collor e estava reunido com um grupo de pessoas do PT. Eu trabalhava em agência de publicidade e a pessoa com quem eu estava conhecia um dos participantes do grupo petista, que nos convidou para sentarmos com eles. Fiquei impressionado com o poder de persuasão do ex-presidente Lula, o seu jeito simples de falar com qualquer pessoa e ser compreendido e admirado.
O atual presidente é outro frequentador de balcões. Certamente no Rio de Janeiro, onde morava até ser eleito, frequentou balcões de padarias e botecos de comunidades achacadas pela milícia. Continua usando essa tática pão com leite moça frequentando os balcões da cidade satélite de Brasília, onde sai para passear de moto sem máscara e assim ganha a simpatia daqueles que partilham sua companhia.
O ponto comum entre os dois, sem entrar no mérito do certo ou errado, é que eles sabem ouvir o povo simples e estabelecer uma ligação com as pessoas, mesmo que depois não deem a mínima para suas necessidades. Não é à toa que Bolsonaro mantém índices altos de aprovação, mesmo diante de tantas atrocidades que faz e que fez e Lula ainda é o pai dos pobres.
Na minha modesta opinião de cidadão que acompanha as notícias e busca informações sobre política e seus atores, Ciro Gomes é hoje o pré-candidato com maior conhecimento e possibilidades de tirar o Brasil do buraco que está encalhado há algumas décadas e colocá-lo para seguir viagem, mas de nada adianta mostrar esse conhecimento que ele tem na ponta da língua em entrevistas e programas de TV e rádio se ele não consegue tocar o eleitor, o cidadão que acorda as 5 da matina e para no balcão da padaria para tomar seu cafezinho. Por mais que ele diga que vai taxar as grandes fortunas e cobrar imposto sobre os lucros dos mega empresários, ou que nos chame de“meu irmão brasileiro”, “meu povo sofrido”, ele não toca o coração dessas pessoas e acaba ficando no limite dos 12%.
Quanto ao governador Dória, acho que não precisamos de maiores explicações. Quem aqui já foi ao Qatar sabe do que estou falando. Ele passa a impressão de que está sempre apresentando um programa de TV. Aparentemente não existe com ele conversas casuais e se estiver tomando um café no balcão do boteco ele provavelmente vai querer demitir o chapeiro e o atendente.
Moro é uma incógnita. Acredito que ele nem saiba que se serve média e pão na chapa nesses lugares. Aliás, ele vai perguntar: o que é média? Pão na chapa?
O candidato do Novo saiu para vomitar e já volta.
Lembro que FHC nunca foi um assíduo frequentador de balcões, deu uma enganada nos tempos de professor de sociologia e teve o caminho aberto pelo ex-presidente Itamar Franco, que o colocou como criador do Plano Real, que acabou com a inflação que arrasava nossas vidas.
Dilma era a gerentona do governo Lula e teve o aval do botequeiro mor. Além de ter disputado com o Serra, campeão de simpatia e com o Aécio, mauriceba com histórias duvidosas, para ser polido.
Enfim, ao invés de marqueteiros esses possíveis candidatos deviam fazer rotas de padarias e bares. Acordar cedo para um café na padoca perto do ponto do ônibus e depois no final da tarde um rabo de galo nos botecos, antes de chegar em casa com a “mistura pra janta”.
Seria mais efetivo e muito mais barato para os cofres públicos.
Conrado Micke Moreno é ilustrador e membro do Canal MyNews.
* As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews
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