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]]>Observou que o ex-presidente brasileiro teve a “fineza” de não sujar, com sua assinatura, o prêmio
Camões ao se recusar a concedê-lo. A referência de Chico nesse momento é à sua música Apesar de você
onde o autor assim se expressa: Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de desinventar…. Esta
música originalmente foi composta e lançada em 1970, durante o governo de Emílio Garrastazu Médici.
Inicialmente, os censores da Ditadura Militar acreditaram que seria uma canção sobre as desventuras de um
casal e deixaram a música liberada. Porém, depois perceberam a ácida crítica ao governo e ela foi proibida
para ser liberada somente em 1978. Acabou se tornando praticamente um hino contra a Ditadura Militar e
sempre cantada em manifestações e protestos.
Digno de nota também foi sua longa referência ao seu pai e à convivência com ele, dentre outros
aspectos para “corrigir seus escritos juvenis”. Seu pai, o grande historiador Sérgio Buarque de Holanda
(1902/SP-1982/SP), foi autor de muitas obras, com destaque ao clássico Raízes do Brasil (1936).
No início dos anos de 1970, estudante do curso de História da FFLCH/USP, um belo dia propagou-se
nos corredores a notícia de que o Professor Sérgio Buarque de Holanda estava no prédio. Todos corremos
para ver. Eu só pude vê-lo de relance, ao longe: estava participando de uma Banca Acadêmica. Foi a única
vez que o vi. Mas ele era uma lenda. Não só por sua brilhante produção, mas também, pela forma como se
aposentara em 1969.
A aposentadoria, apesar de já ter o tempo necessário de magistério, não era sua intenção naquele
momento. Porém, ficou indignado com a aposentadoria compulsória, prisão e perseguição de seus colegas
da USP, dentre eles, a grande historiadora Emília Viotti da Costa que inclusive fora presa por não concordar
com os rumos da Reforma Universitária de 1968. Assim, em solidariedade aos seus colegas, Sérgio Buarque
se aposentou. Isto diz praticamente tudo sobre o ser humano que ele foi.
Continuou sendo um severo crítico da Ditadura Militar Brasileira e, em 1980, foi um dos fundadores do
Partido dos Trabalhadores (PT). Coube a Lula, o maior nome do PT e Presidente do Brasil, conceder essa
honraria a seu filho Chico Buarque de Hollanda, o grande artista nacional. Completo em tudo e por tudo.
Embora Chico Buarque seja nacional e internacionalmente conhecido como compositor musical, atua
em outras áreas onde também se distingue, como por exemplo, na dramaturgia e na literatura. De toda sua
vasta obra eu me permito amar particularmente seu trabalho como compositor e, sendo ainda mais
específica, sua produção musical de protesto contra a Ditadura Militar.
Um dia, tendo participado de um debate acadêmico, juntamente com Chico Diaz, esposo de sua filha
Silvia Buarque, em dado momento fiquei ao seu lado e falei a ela o que gostaria de dizer a ele. Observei que
durante os recentes “anos de chumbo” nossa sobrevivência foi atenuada graças às suas canções contra o
regime repressivo. Pura verdade!
Durante muitos anos os presentes de Natal de minha mãe para mim eram os discos de Chico
Buarque. Conheço de cor todas as suas músicas que continuo achando perfeitas, maravilhosas! Assisto seus
shows desde os anos de 1970, incluindo o último: Que tal um samba?
Segunda-feira foi um dia muito especial. Poder ver Chico tão alegre e natural e acompanhar seu belo
discurso: um presente dos deuses. Viva Chico Buarque, artista brasileiro!
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Composta em 1970, em pleno governo do General Emílio Garrastazu Médici, foi lançada em compacto simples e logo alcançou enorme sucesso. A cantora Clara Nunes também gravou a composição em 1971. O entendimento da maior parte das pessoas, inclusive de Clara, é que se tratava de uma rusga entre namorados:
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia…
Quando o regime finalmente percebeu o significado da canção, ainda em 1971, proibiu sua execução, invadiu a sede da gravadora e destruiu as cópias do compacto, puniu o censor que havia “deixado passar” tal ofensa aos militares. Chico Buarque foi chamado em interrogatório e daí para frente sua relação com a censura seria muito difícil para dizer o mínimo. Suas letras seriam constantemente rejeitadas, chegando ao ponto de precisar recorrer a pseudônimo (Julinho da Adelaide de Acorda Amor) para lançar suas canções.
Quanto a Apesar de Você, somente foi relançada por Chico Buarque em 1978, já no final do governo do General Ernesto Geisel, com sua distensão política. E, assim, pudemos entoar livremente seus belos versos:
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Parafraseando a ótima peça teatral Greta Garbo quem diria acabou no Irajá, escrita nos anos de 1970, por Fernando Melo, gente de minha geração acreditava que só haveria espaço em sua existência para um regime autoritário. Mas, quem diria? Estamos nós de novo às voltas com o autoritarismo, só que dessa vez, por obra e graça de um processo eleitoral legítimo, ou seja, por desejo de parcela significativa da população brasileira.
As expressões de autoritarismo explícito do governo de Jair Messias Bolsonaro (2019-2022) são variadas e, o mais grave, sobem constantemente de tom. São preocupantes seus ataques a instituições como o Supremo Tribunal Federal e ao processo eleitoral, alegando uma pretensa e inexistente possibilidade de fraude eleitoral. Neste último aspecto, é caso confesso de quem tem clareza que vai perder as eleições e, portanto, se prepara para lançar mão do descrédito sobre as urnas eletrônicas para tentar melar um processo que é, internacionalmente, reconhecido como um grande avanço e cuja licitude não deixa sombra de dúvidas.
A canção de Chico Buarque foi premonitória e ao fim, a Ditadura Militar “se deu mal”, não como deveria, pois, os criminosos não foram para o banco dos réus e se preservou, malfadadamente, uma memória positiva do regime militar que é a razão de nossos males e das “viúvas saudosistas” pedirem a “volta dos militares”. Mas, foram retirados do poder “pela porta dos fundos” – vide o último presidente General João Baptista de Oliveira Figueiredo que se recusou a passar a faixa para seu sucessor civil – e, por qualquer ângulo que se analise seriamente, seu resultado é negativo para o país.
Lembrando de Apesar de Você, são válidos como nunca, para a atualidade, seus versos:
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
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