No novo longa de Pedro Almodóvar, indicado ao Oscar de melhor atriz com Penélope Cruz, a história gira em torno da maternidade. Mais uma vez com maestria, o cineasta espanhol traz a figura feminina ao protagonismo.
por Maria Aparecida de Aquino em 23/02/22 18:13
Cena do longa Mãe Paralelas, do espanhol Pedro Almodóvar. Foto: El Deseo/Iglesias Mas (Divulgação)
Mães Paralelas: Sou cinéfila de “carteirinha” e, como tal, gosto e assisto aos filmes de Almodóvar. O mínimo que se poderia dizer dele é que é muito diferente de tudo que você já viu. Como muitos cineastas, ele sempre busca suas histórias na sua bagagem pessoal de vida. Mas, e aí a diferença se instaura, seus personagens centrais são mulheres que, obviamente, se relacionam com as mulheres que fizeram parte de sua vida. É sempre um pouco autobiográfico. É claro que essas mulheres se relacionam com outras mulheres e homens. Porém, sem deixar o protagonismo que a elas pertence. Só isso valeria uma visita a sua prolífica filmografia.
Por vezes seu registro resvala em questões inusitadas como no difícil “A pele que habito” (2011, com os gigantes Marisa Paredes e Antonio Banderas). Mas, talvez, ao que o público tenha mais se acostumado, seja com um de seus primeiros filmes “Mulheres à beira de um ataque de nervos” (1988, com a magnífica Carmen Maura). No novo filme de Almodóvar, “Mães Paralelas” (2021. com a excelente atriz Penelope Cruz) e em “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, temos como pontos em comum, além do protagonismo feminino, a questão da gravidez das personagens, não muito assimiladas por seus parceiros.
Este problema que não é menor, aponta para uma temática que nos coloca brutalmente frente à diversidade contemporânea entre o mundo feminino e o masculino. A educação ocidental nos faz crer que o “homem é a cabeça” da relação.
A maior influência dessa crença vem das palavras do Apóstolo Paulo (5 d.C – 67 d.C). Dele são as frases: “…Cristo é a cabeça de todo homem; e o homem é a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo”. Foi uma das maiores bases para a divulgação entre nós dessa crença.
Assim, os homens – até pouco tempo – pensavam poder dominar tudo o mais na vida das mulheres. Eles (homens) acreditavam piamente poder dar as cartas em tudo que dizia respeito às suas companheiras, inclusive na questão da maternidade que é um atributo muito mais feminino do que masculino.
Os homens não estão preparados – salvo honrosas exceções – para a nova mulher que tem espaço no mundo do trabalho e é independente, inclusive para dispor de seu próprio corpo e experimentar as chamadas “produções independentes” em que assumem a gravidez, o parto, a criação da prole, sozinhas, quase sempre, sem o concurso dos “príncipes consortes”.
E assim se dá em “Mães Paralelas” onde Penélope Cruz, uma bem-sucedida fotógrafa independente, leva sozinha sua gravidez, o parto e a criação de sua bebê.
Acabei selecionando somente as partes que gostaria de destacar, mas o incrível filme de Almodóvar, ainda reserva muitas reviravoltas de tirar o fôlego, o que é o convite renovado para assistir ao filme desse cineasta genial e que sempre nos coloca frente ao inesperado.
Longa e produtiva vida a um de nossos mais originais cineastas! Viva Almodóvar!
Professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Especialista em estudos sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985).
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